Caso do balão chinês: “é como atirar em um mosquito com um canhão”, dizem especialistas. A China expressou forte insatisfação e protesto contra a ação exagerada dos EUA de abater um dirigível para uso civil, prometendo reservar o seu direito de tomar as ações necessárias. Ao transformar um caso não intencional em um incidente, Washington adiciona novas incertezas às já tensas relações com Pequim, disseram especialistas aos portal de notícias chinês Global Times.
O Ministério das Relações Exteriores da China expressou forte insatisfação e protestou contra o uso da força pelos EUA ao abater um “dirigível civil não tripulado”, instando as autoridades norte-americanas a lidar adequadamente com o incidente.
De acordo com o Global Times, o ministério chinês verificou previamente a situação e se comunicou com os EUA várias vezes, informando sobre a entrada não intencional do dirigível no espaço aéreo do país, afirmando se tratar de uma falha involuntária nos sistemas de navegação do equipamento.
No sábado (04/02), os militares dos EUA abateram o “suposto balão espião chinês” na costa da Carolina do Sul, após uma autorização expressa do presidente Biden, que saudou a operação como sendo “um sucesso”, segundo relatos da mídia americana.
O “episódio do balão” se tornou viral nas redes sociais dos Estados Unidos, com vários especialistas relacionados à China afirmando “que o uso de balões-espiões seria um ataque direto à soberania nacional americana”
Por sua vez, o Coronel Tan Kefei, porta-voz do Ministério da Defesa Nacional da China, disse em comunicado no domingo (05/02), que “o ataque dos EUA ao dirigível civil não tripulado chinês é uma reação obviamente exagerada. A China se reservará o direito de tomar as medidas necessárias para lidar com situações semelhantes”, disse Tan.
De acordo com especialistas chineses ouvidos pelo Global Times, apesar da comunicação bilateral entre ambos países, o governo dos EUA decidiu abater o dirigível, em uma ação militar comparável a “atirar em um mosquito com um canhão.”
Consequências significativas
Embora os EUA saber que o dirigível era inofensivo, eles insistiram em abatê-lo, “para manter sua posição dominante, além de obter a nossa tecnologia relacionada, mesmo que de maneira tão imprópria”, disse Lü Xiang, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse ao Global Times. “Na verdade, esse balão de alta altitude está equipado com tecnologias de ponta em termos, que os EUA pode ter. Derrubá-lo causou prejuízo para o lado chinês e a empresa de pesquisa de tecnologia tem o direito de apresentar queixas contra os americanos”, disse Lü.
O Ministério das Relações Exteriores da China disse na sexta-feira (03/02) que o balão é um dirigível civil usado para fins de pesquisa, principalmente meteorológicos. Ele foi afetado pelos ventos conhecidos como “Westerlies“, que deixou o artefato com capacidade limitada de autodireção, fazendo com que se desviasse muito do curso planejado.
No entanto, alguns políticos e a mídia dos EUA têm exagerado na chamada ameaça deste dirigível civil. Um exemplo é o senador republicano Tom Cotton e o governador do Texas Greg Abbott, que instaram o presidente Biden a derrubá-lo.
“Do governo dos EUA à opinião pública, o incidente do balão foi explorado para instigar um sentimento anti-China, o que só tornará a política dos EUA para a China mais agressiva”, disse Li Haidong, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Relações Exteriores da China. “O fato de ignorarem a comunicação com o lado chinês mostra ainda que os EUA carecem de sinceridade, mesmo que afirmem que trabalham para derrubar as barreiras entre ambos países”, disse Li.
Reação exagerada, mau precedente
O fato de os Estados Unidos derrubarem o balão civil chinês também é considerado uma reação exagerada do ponto de vista técnico, disseram especialistas em aviação militar. Apesar de admitir que o balão não representava uma ameaça militar, uma grande oepração com diversas aeronaves e navios foi montada, culminando no caça F-22 da USAF disparando um míssil ar-ar AIM-9X contra o balão.
“Isso é como atirar em um mosquito com um canhão, o que não é apenas exagerado, mas também impraticável”, disse um especialista militar chinês que pediu anonimato ao Global Times. “Comparado com um balão não tripulado que voa com o vento, o método de interceptação dos EUA, que apresentava um caça furtivo avançado e disparava um míssil, é muito caro”, disse o especialista.
Alguns especialistas afirmaram que foi criado um mau precedente para a interação entre ambos países. É amplamente conhecido que as aeronaves militares dos EUA operam frequentemente perto da China, com muito mais frequência do que as aeronaves chinesas nos EUA, observou Lü Xiang. “Se os EUA não diferenciam entre aeronaves civis e militares, isso criou um precedente muito ruim no tratamento das relações entre os dois países”, disse ele.
Os EUA frequentemente realizam reconhecimento próximo às portas da China no Mar da China Meridional, no Estreito de Taiwan e no Mar da China Oriental. “Se os EUA não fazem a diferença, a China deveria fazer a diferença? A China também deveria tomar medidas recíprocas? Os EUA devem considerar cuidadosamente as consequências”, disse Lü.
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