Boeing comprará Spirit AeroSystems, fornecedora dos programas B-21 e KC-46 da USAF. A Boeing anunciou que comprará por aproximadamente US$ 4,7 bilhões, a Spirit AeroSystems, uma de suas principais fornecedoras. O negócio tem por objetivo fornecer mais controle de qualidade na linha de produção, um grande problema que tem afetado a fabricante de aviões comerciais e militares.
A mudança ocorre em meio a especulações de que Patrick Shanahan, atual CEO da Spirit e ex-executivo da Boeing e ex-secretário de Defesa, poderia suceder David Calhoun como o novo CEO da Boeing. Calhoun já anunciou que deixará o cargo no final deste ano. Shanahan era conhecido na Boeing como “Mr. Fix-It”, por colocar programas problemáticos de volta nos trilhos. Por outro lado, Shanahan lidera a Spirit justamente quando seus atuais problemas de controle de qualidade surgiram.
A Spirit era a Divisão Wichita da Boeing até ser vendida em 2005 e ser estruturada como uma empresa independente. A Spirit fabrica as fuselagens de aviões comerciais, seções, asas e outros componentes para a Boeing, a sua rival Airbus, além de vários outros clientes.
Parte do acordo também será uma troca de ações entre a Boeing e a Spirit. O valor total da venda, incluindo a dívida da Spirit, é de US$ 8,3 bilhões. A receita de defesa e espaço da Spirit chegou a cerca de US$ 800 milhões de um total de US$ 6,1 bilhões em receita em 2023. Espera-se que o acordo obtenha rápida aprovação da Comissão Federal de Comércio e do Departamento de Justiça dos EUA.
“Unir a Spirit e a Boeing permitirá uma maior integração das capacidades de fabricação e engenharia de ambas as empresas, incluindo sistemas de segurança e qualidade”, disse Shanahan em um comunicado à imprensa.
A Spirit também é uma grande fornecedora de alguns programas da USAF, como o avião-tanque Boeing KC-46 e o bombardeiro Northrop Grumman B-21. Para o KC-46, a empresa produz componentes da fuselagem dianteira, suporte e nacele e o bordo de ataque. A USAF nunca divulgou o que a Spirit fornece para o classificado B-21, embora seja provável que seu trabalho envolva estruturas internas e algumas seções de revestimento externo.
A empresa fornece partes importantes da aeronave de patrulha marítima P-8 Poseidon e, futuramente para a aeronave de gerenciamento de batalha aerotransportada E-7 Wedgetail. Ambos projetos têm muitas partes em comum e são produzidos na mesma linha de produção da Spirit, embora o E-7 da USAF ainda não tenha iniciado.
Em março deste ano, quando problemas de qualidade na Boeing e na Spirit estavam nas manchetes, o Secretário da Força Aérea, Frank Kendall, e um porta-voz da USAF afirmaram que não estavam cientes de quaisquer problemas de qualidade nas empresas que afetassem os programas.
Um ponto importante neta negociação entre a Spirit e a Boeing, será a Airbus assumir a linha de produção que fornece componentes para os seus aviões. Entre essas instalações estão a fábrica de fuselagens do A350 em Kinston, na Carolina do Norte; uma fábrica de asas do A220 na Irlanda do Norte; uma fábrica de naceles de motores do A320 e trabalho de fuselagem do A220 em Casablanca, no Marrocos; e uma instalação francesa que monta seções de fuselagem construídas na unidade dos Estados Unidos.
A Airbus está buscando competir pelo Programa de Recapitalização KC-135, sob o qual a USAF comprará entre 50 e 75 novos aviões-tanque. Este projeto será a ponte entre o fim do contrato do KC-46 e o início do programa Next-Generation Air Refueling System (NGAS), que desenvolve um reabastecedor menor e mais furtivo do que os atuais.
A Boeing disse que sua decisão de readquirir a Spirit foi baseada em um esforço para aumentar a qualidade e a segurança na empresa sediada em Wichita, a qual é alvo de denuncias de encobrir desvios de qualidade que foram apenas parcialmente descobertos na Boeing. Entre as falhas estão furos mal perfurados, painéis de fuselagem desalinhados e administração desleixada que falhou em identificar e corrigir erros ou deliberadamente os encobriu.
Em comunicado à imprensa, Calhoun disse que os executivos da Boeing acreditam que o acordo tem o melhor interesse para os usuários, clientes, funcionários da Spirit e Boeing e para o país em geral.
Os atuais problemas nos produtos Boeing tomaram a atenção mundial no início de janeiro, quando um 737 MAX 9 da Alaska Airlines em voo, sofreu uma explosão de painel do tamanho de uma porta. Mais tarde foi determinado que os parafusos que deveriam segurar o painel foram removidos para inspeção e não foram reinstalados. O incidente não resultou em vítimas, mas levou a Administração Federal de Aviação (FAA) a enviar inspetores e observadores para monitorar a qualidade de produção na Boeing e na Spirit.
Desde então, a Boeing foi atingida por uma série de denúncias e acusações. Uma auditoria da FAA levou a demissão do gerente do programa 737; reclamações do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes de que a Boeing não está cooperando com suas investigações e extravio de documentos relacionados ao incidente da porta, além da morte de um denunciante da Spirit.
Exatamente os problemas de qualidade anteriores levaram o conselho da Spirit a contratar Shanahan, em outubro do ano passado. Outros nomes flutuaram como um possível sucessor de Shanahan, e incluem Greg Smith, CEO da American Airlines e ex-diretor financeiro da Boeing; e Larry Culp, CEO da GE Aerospace.
Fonte: AF&M
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