Retido na Argentina Boeing 747 venezuelano pilotado por iraniano procurado pelos EUA. Desde o último dia 08 de junho, o Boeing 747-300 da companha aérea estatal venezuelana EMTRASUR, está retido pelas autoridades argentinas no Aeroporto Internacional de Ezeiza, em Buenos Aires. O governo da Argentina não confirmou publicamente a apreensão, mas um documento do Ministério do Interior obtido pela agência Reuters, informa que “as autoridades locais suspeitaram sobre o motivo declarado da entrada do avião no país.”
Em 05 de junho, o Boeing 747-300 da EMTRASUR, matrícula YV3531, com 19 tripulantes (14 venezuelanos e cinco iranianos) e carregado com peças automotivas, decolou do Aeroporto Intercontinental de Querétaro (QRO) no México, com destino à Ezeiza, na Argentina. Entretanto, ao se aproximar de Buenos Aires, um forte nevoeiro fez com que o voo ESU 9218 fosse desviado para o aeroporto de alternativa, em Córdoba (COR), onde pousou no final da manha de segunda-feira (06/06). Naquele mesmo dia, o 747 prosseguiu para a capital portenha, onde a carga foi desembaraçada e liberada sem percalços.
Os problemas começaram na quarta-feira (08/06) quando a tripulação do 747 da EMTRASUR tentou retornar para a Venezuela. Por motivo não esclarecido, o avião deveria ser reabastecido de combustível em Montevidéu, no Uruguai. Após decolar de Buenos Aires, as autoridades uruguaias negaram o acesso do 747 venezuelano em seu espaço aéreo, alegando que a aeronave – de origem iraniana – estaria sob sanções impostas pelo Office of Foreign Assets Control (OFAC), dos Estados Unidos.
Em entrevista ao jornal uruguaio El Observador, o advogado Rafel Renisk Brenner, afirmou que “esta aeronave estaria atualmente proibida de utilizar os espaços aéreos do Brasil, Uruguai, Paraguai e Chile. Colaborar com alvos sancionados pelo OFAC gera o risco de receber sanções e, em alguns casos, de ser classificado como cooperador com organizações ligadas ao terrorismo internacional”, disse o advogado.
Após orbitar 20 minutos sobre o Rio da Prata, o voo ESU9219 retornou para Ezeiza, onde as autoridades argentinas, alertadas pelos seus colegas uruguaios, aguardavam o Boeing 747 para nova averiguação.
Foi aí que o nome do Comandante da aeronave, o iraniano Gholamreza Ghasemi, chamou a atenção da Policía de Seguridad Aeroportuária argentina (PSA). Em 2018, Ghasemi era um dos diretores da companhia aérea iraniana Fars Air Qeshm, apontada pelos EUA como tendo transportado armamentos para grupos terroristas vinculados à Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC). Desde então, os Estados Unidos colocaram o nome do piloto iraniano na lista internacional de procurados.
Um funcionário da PSA falou ao Infobae que o avião “estava transportando autopeças para uma empresa automotiva, e a carga foi verificada várias vezes, mas nada de estranho foi encontrado e foi liberado”. No entanto, pelo menos cinco iranianos estavam viajando no avião, alguns deles com “supostas ligações com a Força Quds, uma divisão da Guarda Revolucionária Islâmica especializada em operações de inteligência militar”, afirmou o funcionário.
Com isso, as autoridades argentinas reteram os passaportes de todos cinco tripulantes iranianos, para averiguação, enquanto os venezuelanos foram liberados para retornar ao seu país em voos comerciais. Especialistas não descartam a possibilidade de que os EUA solicitem a extradição dos iranianos envolvidos com terrorismo.
No domingo (12/06), o deputado federal argentino Gerardo Milman, apresentou uma queixa a um juiz pedindo a identificação através de impressões digitais da tripulação, além de compartilhar as informações com a Agência Federal de Inteligência. “Nossa informação é que este é um avião que veio para realizar [uma missão de] inteligência na Argentina”, disse Milman, membro da Comissão de Inteligência do Congresso do país.
Os tribunais argentinos também devem decidir sobre um habeas corpus impetrado por um advogado para que a tripulação libere a aeronave e tenha os passaportes devolvidos aos que estão a bordo, informou a mídia argentina.
Conforme noticiamos no início deste ano, a EMTRASUR (Empresa de Transporte Aerocargo del Sur) é uma empresa cargueira subsidiária da estatal Conviasa, criada através de um decreto do presidente Nicolás Maduro, publicado em 19 de novembro de 2020. A sede da companhia é a Base Aérea de El Libertador, em Maracay, no Estado de Arágua, onde foi ativado o terminal cargueiro do Aeroporto Internacional José Félix Ribas. O Boeing 747-300 retido em Buenos Aires é o único avião da sua frota, e foi adquirido da companhia aérea iraniana Mahan Air.
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