Base Chinesa em Ushuaia — Argentina? A China está supostamente fazendo movimentos nos bastidores do governo da Argentina para obter permissão para estabelecer uma nova base naval na cidade de Ushuaia, província de Tierra del Fuego, que efetivamente concederia a Pequim acesso à Antártida.
O site de notícias francês Intelligence Online informou em dezembro que um oficial do Partido Comunista Chinês (PCC), que tem sua sede operativa na Argentina — Shuiping Tu, fez avanços nas negociações com autoridades locais da província de Tierra del Fuego, para uma nova base naval. Se obtiver sucesso, a Marinha Chinesa (PLAN — People’s Liberation Army Navy) controlaria uma passagem crítica que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. A instalação proposta seria acessível apenas para militares chineses, de onde eles poderão monitorar as comunicações em todo o hemisfério sul, informou o Intelligence Online.
“Uma possível base chinesa em Ushuaia permitiria a Pequim ter um enclave permanente no Hemisfério Sul, com projeção para o Atlântico Sul, que, dependendo das condições negociadas com a Argentina, poderia permitir a construção de instalações, bem como a presença de forças navais e contingentes militares neste quadrante”, disse Alberto Rojas, diretor do Observatório de Assuntos Internacionais da Universidade Finis Terrae, no Chile, à Diálogo, uma revista militar online publicada pelo Comando Sul dos Estados Unidos.
“A China poderia interceptar todas as comunicações regionais com claro impacto econômico e estratégico, além de ganhar a capacidade de manter o controle permanente do tráfego marítimo”, continuou. Segundo Rojas, a presença de uma base militar chinesa na América do Sul pode ser interpretada como um movimento estratégico essencial de Pequim.
“O projeto Belt and Road [BRI] anunciado pela China em 2013 busca ter uma projeção clara para essa área do continente. E se esta base em Ushuaia se materializar, poderá se tornar a primeira de muitas outras, tanto na costa atlântica como na costa do Pacífico ou na zona andina”, disse Rojas.
Atualmente, a China possui três bases militares operacionais no exterior. Destes, o de Djibuti, na África Oriental, é o mais conhecido. Foi a primeira base naval da China no exterior, estabelecida em 2017. Nascida dos esforços para conter os ataques de piratas somalis a navios cargueiros que navegavam pelo Golfo de Aden, a China conquistou uma presença estratégica ao longo da rota que liga o Mar Vermelho ao oceano.
A China também possui a base naval Ream no Camboja, que oferece a Pequim uma importante base de apoio no Sudeste Asiático. Segundo Rojas, a China goza de grande autonomia tanto na base quanto no entorno, a ponto de já ter construído um novo porto.
Também há a base no Tadjiquistão, em construção na região autônoma de Gorno-Badakhshan, que faz fronteira com a China e o Afeganistão, com a qual Pequim busca fortalecer sua presença na Ásia Central.
Além dessas instalações militares, existe também a Estación Espacio Lejano na Argentina, que é uma estação de pesquisa localizada em Bajada del Agio no departamento de Loncopué, província de Neuquén, operada pela Administração Espacial Nacional da China (CNSA), mas acredita-se que dependa diretamente da Força de Apoio Estratégico do Exército Popular de Libertação (PLASSF). Próximo existes um rodopista de 3,200 m para apoio a base que ode receber aeronaves Il-76.
“Eu vejo assim: são instalações de um governo autoritário, que não permite o acesso dos argentinos a elas, a não ser como visitantes”, disse a General da US Army Laura J. Richardson, comandante do Comando Sul de aquele país. “O que eles estão fazendo? A China não tem as mesmas preocupações que temos com relação à liberdade e a um Hemisfério Ocidental livre, seguro e próspero. Isso me preocupa. Sendo administrado por uma empresa estatal e pelo Exército Popular de Libertação. Para que eles usam essas instalações?” perguntou a General Richardson.
Com um governo frágil economicamente, com várias crises e mais, simpatizante a regime de Pequim, a chance de haver uma base chinesa no extremo sul do continente é real, especialmente se houver beneficies comerciais, que ajudem a sustentar o atual governo argentino. Isto criaria algo inédito. Uma base de uma potência militar mundial oriental as postas da Antártida. Será a única ou poderia haver outra, voltada para a PLAAF — People’s Liberation Army Air Force. No entanto, a Argentina irá passar por eleições em outubro deste ano, e uma troca de governo — possível face à rejeição de boa parte do povo argentino vista nos protestes recentes, poderá mudar o rumo das pretensões de Pequim.
@CAS