Austrália está literalmente enterrando seus helicópteros NH90. O Exército Real Australiano está se livrando de aproximadamente 43 helicópteros de transporte tático NH90 Taipan, retirados de serviço no ano passado. As aeronaves são relativamente novas, mas estão sendo gradualmente desmontadas, os componentes removidos e as fuselagens enterradas em locais não revelados.
Uma fonte militar australiana ouvida pelo The War Zone, confirmou o processo de descarte “de uma das mais modernas e caras frotas de helicópteros militares ocidentais fora dos Estados Unidos e da Europa”. Imagens mostram pelo menos seis fuselagens de NH-90 na Base Aérea da Força Aérea Real Australiana em Amberley, no nordeste do país, completamente desmanteladas e aguardando o descarte final.
A Austrália desativou toda a sua frota de MRH90 (designação australiana para os NH90) em setembro do ano passado, dois meses depois de um acidente fatal com um helicóptero em Queensland, onde morreram quatro oficiais militares. Após isso, o Departamento de Defesa confirmou a desativação das problemáticas aeronaves e a aquisição de novos UH-60M Black Hawk.
Inicialmente o governo, a Airbus Austrália e a NHIndustries buscaram, sem sucesso, um potencial comprador para as dezenas de aeronaves avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Sem alternativa viável, o Departamento de Defesa australiano optou por remover todas as peças sobressalentes para venda e descartar as fuselagens e componentes restantes de uma forma “ecologicamente correta e econômica”.
A eliminação da frota NH90 do Exército Australiano foi iniciada discretamente em outubro, longe dos holofotes da mídia, até que o governo ucraniano fez um pedido formal – e emocional – à Austrália, apelando para receber o que restava do frota de helicópteros de transporte tático.
“Nossos feridos estão morrendo desnecessariamente no front porque não conseguimos transportá-los rapidamente para o atendimento de emergência. As chances de sobreviver a um ferimento crítico na guerra aumentam substancialmente com a evacuação aérea, e não temos helicópteros que possam evacuar rapidamente os nossos feridos”, apelou o Tenente-General Kyrylo Budanov, chefe da Inteligência de Defesa da Ucrânia, ao Ministro da Defesa australiano, Richard Marles, em dezembro.
Budanov observou na carta que a Ucrânia estudou as razões para a Austrália aposentar os Taipans: “Como resultado, agora compreendemos os desafios que a Austrália enfrentou. No entanto, estamos confiantes de que podemos mitigar esses desafios criando um centro de manutenção de NH90 com apoio da França e de outros operadores destes helicópteros… A Ucrânia é treze vezes menor que a Austrália, o que nos permite criar um único centro de manutenção defendido, semelhante às operações do NH90 na Nova Zelândia… Em nome da Agência de Inteligência de Defesa da Ucrânia, gostaria de pedir formalmente à Austrália uma doação dos helicópteros MRH-90 Taipan aposentados, pois essas aeronaves salvarão vidas ucranianas, fornecendo capacidades de evacuação médica urgentemente necessárias.”
Respondendo à Ucrânia, o governo australiano rejeitou formalmente o seu pedido em 16 de janeiro, depois de um embaraçoso ataque nas redes sociais.
“Alguns meses após o início desse processo (a canibalização e eliminação dos NH90), a Ucrânia fez um pedido formal para os MRH-90. Será necessário dinheiro e tempo consideráveis dos contribuintes para que essas aeronaves voltem a estar em condições de voo. E devo também salientar que ainda existem várias investigações de acidentes em andamento para determinar a causa daquele trágico acidente em Queensland. Portanto, seria irresponsável da nossa parte desistir da estratégia de eliminação definida”, afirmou o Ministro Australiano da Indústria de Defesa, Pat Conroy, em resposta ao pedido do General Budanov.
A encomenda original da Austrália envolveu 47 novos helicópteros NH90 TTH, em um investimento total que superou os US$ 3 bilhões, entre o valor das aeronaves e de todo o suporte necessário para iniciar as operações em 2007. Três aeronaves foram perdidas em acidentes entre 2020 e 2023. Segundo a fonte militar ouvida pelo The War Zone, a mais nova aeronave (matrícula A40-047), com menso de 500 horas de voo, foi devolvida à NHIndustries. O destino de todos os 43 restantes deverá ser o desmantelamento e o “enterro”.
Embora seja uma prática rara, a Austrália tem experiência anterior em enterrar equipamentos militares. Em 2010, mais de 20 jatos de combate F-111C/G Aardvark foram retirados de serviço pela RAAF e enterrados, conforme um acordo da década de 1960 assinado com os EUA para garantir a não transferência de aeronaves com capacidade nuclear para terceiros.
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