As sanções internacionais realmente contribuíram para o acidente com o helicóptero do presidente iraniano?. No último dia 19 de maio, um acidente com um helicóptero Bell 212 da Força Aérea da República Islâmica do Irã (IRIAF) matou o presidente do país, Ebrahim Raisi, o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, e outras autoridades de alto escalão. A comitiva retornava de um evento oficial para a inauguração de um projeto hidrelétrico na fronteira com o Azerbaijão, a cerca de 600 km de Teerã.
No dia seguinte, Mohammad-Javad Zarif, ex-ministro das Relações Exteriores do Irã, acusou os Estados Unidos de ser responsável pelo acidente por causa das sanções impostas ao setor de aviação iraniano, dificultando a compra de novas aeronaves e componentes para manutenção da frota atual. A mídia estatal tratou de replicar e exaltar os comentários de Zarif, esquecendo e subestimando a responsabilidade das autoridades locais para este acidente.
Embora as sanções proíbem o regime iraniano de comprar modernos helicópteros produzidos nos EUA ou na Europa, elas não impedem a aquisição de aeronaves de origem russa ou chinesa. Apesar de ter capacidade para comprar novos helicópteros russos, o governo e as forças armadas iranianas preferem operar com antigos helicópteros ocidentais.
A IRIAF é responsável pela operação e manutenção da frota de aeronaves e helicópteros que transporta o alto escalão do regime. Há muito tempo utiliza sete envelhecidos helicópteros Bell 212 e Bell 412 comprados pelo Ministério de Correios e Telégrafos em 1992 do Canadá. A empresa especializada Iran Helicopter Support and Renovation Company (IHSRC) revisou e atualizou essas aeronaves.
O ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad utilizava frequentemente os cinco Bell 212 e o dois Bell 412, assim como o líder supremo Ali Khamenei. Embora o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRCG) e a Sociedade do Crescente Vermelho Iraniano tenham adquirido helicópteros utilitários russos Mil Mi-17 mais novos, a IRIAF continuou operando com os antigos helicópteros ocidentais nos voos presidenciais.
O que possivelmente possa ter contribuído para o acidente com Raisi foi que, com uma exceção, os helicópteros Bell produzidos no Canadá não são equipados com radar meteorológico e, portanto, eram inadequados para voos sob condições meteorológicas adversas. Um dos Bell 212 utilizados na viagem presidencial no dia do acidente era equipado com o radar meteorológico, mas os seus pilotos parecem ter ignorado as normas de segurança dado o elevado peso dos helicópteros e o denso nevoeiro na região.
Em sua acusação, Zarif pode culpar as sanções internacionais, mas elas não forçaram os pilotos presidenciais da IRAF a tentar voar para Tabriz sob condições adversas, que nenhum profissional ocidental aceitaria fazer, independentemente de quem fosse o passageiro.
Os diplomatas iranianos e os ativistas ocidentais que protestam contra as sanções podem querer aproveitar a crise para exigir o fim dos bloqueios. Se as autoridades iranianas e os seus simpatizantes externos realmente se preocupam com o seu povo, apelariam a uma abordagem mais sensata para acabar com a flagrante incompetência que hoje marca a aviação nacional.
Autor: Babak Taghvaee – The Middle East Forum Observer
@FFO