Por Santiago Rivas – Pucará Defensa
Argentina: a necessária – e urgente – aposentadoria dos A-4AR Fightinghawk. O recente acidente com o McDonnell Douglas A-4AR Fightinghawk da Força Aérea Argentina (FAA), que no dia 15 de julho custou a vida do Capitão Mauro Testa La Rosa, levantou a questão sobre o estado da frota desses veteranos jatos, que há quatro anos, em 05 de agosto de 2020, também custou a vida do Capitão Gonzalo Britos Venturini.
Embora ainda não haja relatório preliminar do acidente da aeronave de matrícula C-926, os depoimentos de quem pôde acompanhar todos os acontecimentos indicariam que se trataria de uma falha mecânica e que estaria relacionada com uma manutenção que foi realizada horas antes da tentativa de decolagem que terminou em tragédia.
De acordo com depoimentos e com as imagens disponíveis do acidente, quando o A-4AR alcançou a velocidade de rotação (VR), o paraquedas de parada do avião se desprendeu seguido imediatamente de fumaça e fogo na parte traseira da fuselagem. O Cap Mauro chegou a comandar a ejeção a baixa altura, mas a explosão do jato impediu a abertura do paraquedas do piloto.
Neste ano ocorreram dois incidentes graves com os Fightinghawk, antes da tragédia de 15 de julho. Um deles, envolveu uma situação de desorientação espacial possivelmente por envenenamento causado por falha no sistema de oxigênio. Outro incidente ocorreu por falha nos comandos da aeronave durante um voo de teste na Área Material de Río Cuarto.
As panes e emergências se tornaram rotina com os A-4AR, como o que ocorreu em 19 de fevereiro deste ano, quando a aeronave C-911 pousou em emergência com fumaça no cockpit em Córdoba. O fato dos dois últimos pilotos que tentaram abandonar os jatos terem morrido, lança dúvidas sobre o estado de funcionamento do sistema de ejeção.
Atualmente, apenas a Força Aérea Argentina e a Marinha do Brasil operam militarmente o A-4 Skyhawk e entre ambas as forças não chegam a dez aeronaves operacionais. O Brasil, iniciou um processo de modernização de doze aeronaves, que finalmente foi reduzido para seis unidades, das quais apenas três estão voando, entendendo que não se justificava continuar investindo no modelo.
Na Argentina, durante o governo anterior, se tentou aumentar a frota ativa de A-4AR Fightinghawk, considerando a meta de chegar a 18, depois reduzido para 12 e posteriormente 10, mas sem nunca ultrapassar sete aeronaves em bom estado e apenas cinco operacionais.
A realidade é que não existem peças sobressalentes. O estoque tem apenas cinco radares disponíveis, e há muitos componentes que não é possível comprar e o que existe está, em muitos casos, longe das condições ótimas. Soma-se a isso a antiguidade de todos os sistemas, os quais os fabricantes não fornecem mais suporte. A modernização das aeronaves argentinas tem quase 30 anos, ao que se deve acrescentar que esse processo foi mal executado, visto que o suporte técnico foi contratado por um curto período de tempo.
A isto devemos acrescentar que o A-4AR foi adquirido em 1995, como um “tampão” entre o descomissionamento dos antigos A-4B/C Skyhawk e a chegada dos F-16 Fighting Falcon, esperada para o início do novo milênio.
Em 2001, a FAA esteve muito perto de incorporar um lote de F-16, cujas aeronaves já haviam sido escolhidas nos Estados Unidos, mas a crise econômica e as mudanças de governos frustraram esses planos. Assim, o A-4AR que estava programado para ser retirado de serviço por volta de 2010, ainda seguem em operação, mais de quatorze anos depois.
Antecedentes que não devem ser repetidos
Em 19 de junho de 1986, o F-86F Sabre, matrícula C-120, caiu em Mendoza, matando o Alferes Rampezotti devido ao rompimento da longarina principal da asa. O modelo já havia atingido sua vida útil, mas o Comando da FAA decidiu por não desativá-lo apesar do seu mau estado. O acidente causou uma aposentadoria imediata da frota de F-86F devido ao mau estado das células. Incorporados em 1960, os Sabre significaram um enorme salto tecnológico para a FAA, mas não tiveram a despedida merecida.
Algo semelhante aconteceu com a aposentadoria dos antigos A-4B/C, quando o acidente da aeronave matrícula C-324, em 10 de dezembro de 1997, levou a aceleração do descomissionamento do restante da frota finalizada em 15 de março de 1999.
Após 58 anos de operação da família Skyhawk pela Força Aérea Argentina, não seria um fim digno se eles tivessem que ser aposentados devido a acidentes que custaram vidas. Desde o acidente de 15 de julho, os A-4AR não voltaram a voar e as tripulações não querem mais pilotá-los, o que é compreensível vendo como as coisas aconteceram.
Uma aposentadoria necessária
A realidade é que hoje o Fightinghawk já não oferece capacidade, uma vez que os seus sistemas estão obsoletos e muitos não funcionam mais, além da quantidade de aeronaves disponíveis que os tornam um ativo irrelevante. Um exemplo foi a cerimônia de posse do Presidente Javier Milei, para o qual os aviões destacados para fornecer segurança transportavam mísseis de treinamento, mas que receberam marcações com faixas amarelas para fazer parecer que eram reais, enquanto os canhões de pelo menos um dos A-4AR estavam inoperante. Esta aeronave, em particular, não tinha capacidade de disparar qualquer arma, ou seja, não tinha capacidade para cumprir a missão ordenada.
Os poucos aviões que voam não têm capacidade para realizar missões operacionais, além dos seus pilotos não se sentirem seguros neles.
A cerca de um ano da chegada do primeiro F-16, em breve o Comando da Força Aérea Argentina deve definir a aposentadoria dos A-4AR, possivelmente até o final de 2024, despedindo-se definitivamente deste sistema, antes que ocorra uma nova tragédia. Tal como em 2015, o Comando de Formação e Prontidão da FAA decidiu retirar os Mirage mesmo sem ter substituto, dado que, caso se mantivessem em serviço, a possibilidade de ocorrência de acidentes seria crescente e a sua capacidade operacional seria quase nula.
Futuramente será decidido que metade dos F-16 serão atribuídos à V Brigada Aérea e deverão ser iniciadas as obras de modernização das suas instalações, para que, talvez até 2027 ou 2028, possa juntar-se à VI Brigada Aérea na operação de os novos vetores de caça da FAA.
@FFO