Antigo porta-aviões “NAe São Paulo” deixa o RJ rumo a Turquia e justiça tenta bloquear a viagem. Na última quinta-feira (04/08), o casco do ex-porta-aviões da Marinha do Brasil, o Navio-Aeródromo (NAe) São Paulo (A12), iniciou sua longa viagem do Rio de Janeiro para o porto de Aliaga, na Turquia. A antiga nau-capitânia da Esquadra Brasileira deixou o cais do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), puxado pelo rebocador de alto-mar holandês “Alp Centre”, para a última viagem rumo ao estaleiro que irá desmanchá-lo na Europa.
Em março de 2021, o navio foi arrematado em leilão por R$ 10,5 milhões, pela empresa Cormack Marítima, que representa o estaleiro turco Sök Denizcilik ve Ticaret. Uma ação popular tramita na Justiça do Rio de Janeiro, tentando impedir que a embarcação seja sucateada. O objetivo era transformá-la em museu flutuante, entretanto desde a sua venda em leilão, o navio passou para mãos de investidor privado, deixando de ser um patrimônio da União.
Diversas imagens foram divulgadas nas redes sociais do grande casco do ex-NAe São Paulo, com as marcas militares apagadas, passando pela Baía da Guanabara rebocado pelo Alp Centre. A movimentação da antiga embarcação causou uma corrida à justiça, para impedir que o casco do São Paulo deixe o Brasil, sob alegação de irregularidades no leilão e possíveis danos ambientais.
De acordo com o Jornal O Globo, membros do Instituto São Paulo/Foch, entraram com um pedido na justiça para impedir que o porta-aviões deixe as águas brasileiras. A liminar foi concedida no final da tarde de quinta-feira (04/08), ordenando que o navio volte para a Baía de Guanabara. Conforme os dados dos sites de monitoramento online, a determinação ainda não foi cumprida, e o porta-aviões estava próximo à Região dos Lagos, próximo de deixar o limite da fronteira brasileira, o que tornaria muito difícil a reversão do quadro.
900 tondan fazla asbest taşıyan NAe Sao Paulo gemisinin sökümü, İzmir Aliağa’da gerçekleştirilecek. 62 yıllık olan geminin taşıdığı asbest, bütün İzmir halkı için tehlike arz ediyor.#NAeSaoPaulo #Aliağa #KabulEtmiyoruz pic.twitter.com/hMz3KdLn4X
— HKSD – Harmandalı Kültür Sanat Derneği (@HarmandalD) July 30, 2022
Inicialmente, o Instituto não conseguiu a liminar para anular o leilão, mas, com a notícia de que o porta-aviões começou a ser transportado na quinta, o juiz federal Wilney Magno de Azevedo deferiu a liminar para que o a embarcação “seja impedida de sair do local em que se encontra, até a manifestação do Ministério Público Federal no processo e até que haja autorização judicial em sentido contrário”. Como a ordem não foi cumprida, na tarde desta sexta foi expedida um mandado de segurança, com a mesma finalidade.
Construído entre 1957 e 1963, quando entrou em serviço na Marinha Francesa (Marine Nationale) em 15 de julho daquele ano, como Foch R-99, o segundo navio da classe Clemenceau foi adquirido pela Marinha do Brasil em agosto de 2000, por US$ 12 milhões. O NAe São Paulo (A12) chegou ao Brasil em 17 de fevereiro de 2001, e operou com relativa normalidade até 2005.
As operações foram suspensas a 17 de maio de 2005, quando uma tubulação de uma caldeira explodiu durante uma manutenção na Baía de Guanabara, causando a morte de três militares.
Ao longo de uma década diversos planos de modernizações foram estudados, porém os custos altos, as dificuldades técnicas e a falta de perspectivas de operar novos vetores embarcados, selaram o destino do A12 em 17 de fevereiro de 2017, quando foi oficialmente descomissionado. Foram removidos todos os equipamentos eletrônicos e de navegação, o que tecnicamente o transformou em um casco, não sendo mais capaz de navegar sem ser rebocado.
Por exigência do governo francês, construtor da embarcação, o desmanche só poderá ocorrer em estaleiro credenciado pela União Europeia. Estima-se que o navio contenha cerca de 900 toneladas de amianto em sua estrutura, uma substância altamente tóxica e cancerígena.
Segundo dados oficiais da Marinha do Brasil, o A12 fez um total de 206 dias de mar, percorrendo 54.024,6 milhas (85.334 km) e realizou 566 catapultagens de aeronaves A-4 (maioria) Super Etendard e S-2T, estas argentinas.
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