Em 27 de janeiro do ano passado, uma aeronave E-11A da USAF, matrícula AF 11-9358, caiu em uma área descampada na Província de Ghanzi, no Afeganistão, causando a morte dos dois pilotos.
A aeronave era um dos quatro modernos jatos executivos de ultra-longo alcance, Bombardier Global 6000 (designação militar E-11A), modificados para missões Battlefield Airborne Communications Node (BACN). Essas aeronaves são usados como um uma “ponte” ou um “gateway aéreo”, oferecendo comunicação via datalink entre diferentes plataformas, tropas terrestres, controladores de voo avançados (FAC) e controladores de ataque em locais remotos sem linha de visada para comunicação (LOS – Line-Of-Sight).
Os E-11A cumprem uma missão importante nas regiões montanhosas do Afeganistão, onde as tropas terrestres nem sempre conseguem estabelecer contato (LOS) com aeronaves de apoio. Mover as tropas para posições elevadas, pode ser fatal em situação de combate. Desta forma entra em cena o BACN, oferecendo a capacidade de transmissão de voz, vídeo, imagens e dados entre combatentes, 24 horas por dia e sete dias por semana. Todos os quatro E-11As da USAF – AF 11-9001, 11-9355, 11-9358 e 12-9506, são operados pelo 430th Expeditionary Electronic Combat Squadron, da 455th Air Expeditionary Wing, sediados na Base Aérea de Kandahar (OAKN).
Recentemente a USAF concluiu a investigação sobre o acidente e encontrou o fator humano como a causa raiz, e publicou o Relatório do Conselho de Investigação de Acidentes de Aeronaves, contendo alguns detalhes e a conclusão.
A aeronave E-11A da USAF, matrícula 11-9358, decolou da Base Aérea de Kandahar (OAKN) às 11:05L (Local), e aproximadamente às 12:50L, ocorreu uma falha catastrófica no motor esquerdo (1), devido ao desprendimento de uma pá do fan. Segundo o relatório oficial, o piloto em comando (1P) avaliou indevidamente a pane, e desligou o motor direito (2), deixando a aeronave com uma dupla falha de motores.
Ao perceber a situação, imediatamente o 1P iniciou o retorno para Kandahar, distante cerca de 230 nm (milhas náuticas), enquanto tentava dar a partida em voo em ambos motores, sem obter sucesso. O relatório observou que a tripulação tentou voar em direção à Base Operacional Avançada (FOB) Sharana (OASA), porém a baixa altura e velocidade, impediu de planarem até a pista. O 1P tentou um pouso em uma área descampada a 21 nm de FOB Sharana, porém a manobra emergência não foi bem sucedia, causando a morte de ambos e a destruição completa da aeronave.
O Accident Investigation Board (AIB) constatou através das evidências, que a principal causa do acidente foi o erro do 1P ao analisar o cenário catastrófico e perceber falhado no motor 1. Este equívoco resultou na decisão errônea do desligamento do motor operacional (2). O relatório chamou a atenção que a falha em dar partida no motor correto, somada a decisão de retornar para Kandahar, contribuíram substancialmente para o acidente fatal.
No momento do desligamento dos motores, o E-11A estava a aproximadamente 38 nm do Aeródromo de Bagram (OAIX), a 17 nm do Aeroporto Internacional de Cabul (OAKB), a 28 nm da Base Operacional Avançada (FOB) Shank (OASH) e finalmente a 230 nm do ponto de origem, a Base Aérea de Kandahar (OAKN), todos com meteorologia favorável para um eventual pouso. Apesar disso, o 1P optou pelo retorno para Kandahar, a mais distante das alternativas. A chamada para o Controle de Tráfego Aéreo (ATC) de Cabul às 12:54L deixou claro as intenções do piloto americano: “… Mayday, Mayday, Mayday… parece que temos uma falha em ambos os motores, estamos prosseguindo direto para Kandahar neste momento … ” (“…Mayday, Mayday, Mayday…it looks like we have an engine failure on both motors, we are proceeding direct to Kandahar at this time…”)
Nos momentos imediatamente subsequentes ao evento catastrófico no motor 1, a cabine da aeronave foi tomada por forte estrondo e severas vibrações. A investigação observou que o motor 2 foi desligado apenas 24 segundos depois da falha do motor 1, sem ter tempo hábil para identificar corretamente qual motor realmente estava em pane.
Em 2006, um jato Global Express (equivalente civil do E-11A), sofreu exatamente o mesmo tipo de falha catastrófica em voo, no qual o experiente piloto em comando, afirmou que não poderia determinar qual motor havia falhado apenas com base na sensação da aeronave, sem olhar para os instrumentos, e que eles levaram aproximadamente dois minutos checar tudo e desligar o motor em pane. Desta forma, o Conselho de Acidentes relatou que provavelmente a tripulação do E-11A da USAF não gastou tempo suficiente para analisar adequadamente a situação.
E nenhum momento após a falha, nenhum dos motores foi novamente acionado em voo, o que resultou na incapacidade da aeronave de alcançar o aeródromo de Kandahar em voo planado. Nas análises realizadas em simulador, foi observado que após um tempo de voo, o E-11A se afastou do alcance, em voo planado, dos aeródromos de Bagram, Cabul e FOB Shank, e com poucas alternativas restantes, o 1P tentou uma aproximação para o FOB Sharana, porém não tinha mais altitude e velocidade suficientes para alcançar a pista. A última alternativa, foi um pouso forçado em um descampado à 21 nm do FOB Sharana, parando a cerca de 340 metros do ponto de toque, completamente destruída.
Iniciado com uma falha de um motor, este acidente segue o padrão da maioria dos acidentes aeronáuticos, onde uma série de fatores contribuíram para este acidente faltal, com a perda do jato E-11A e, principalmente, com a morte de ambos pilotos.
@FFO