No dia 23 de julho de 2020, o Airbus A310-304 EP-MNF da companhia iraniana Mahan Air, realizou brusca manobra evasiva afim de evitar uma colisão com um F-15E da USAF pertencente a 332nd Air Expeditionary Wing, que desde maio de 2020 foi deslocado para o Oriente Médio, como parte da Operation Inherent Resolve.
O Pentágono não confirma a base de atuação da 332nd AEW, apenas que ela está formada por aeronaves da 492nd Fighter Squadron (492nd FS) da RAF Lakenheath, sob o comando do US Central Command (CENTCOM), que controla ações em uma região de 27 países do Oriente Médio. No entanto, várias fontes confirmam que o 492nd, que é parte da 48th FW e equipado com os F-15E, está operando a partir da Jordânia.
O voo WS1152, de Teerã (Irã) para Beirute (Líbano), estava nivelado a 34 mil pés (FL340) e a 160 milhas a leste de Beirute, sobre o espaço aéreo da Síria. Sem qualquer aviso prévio, o piloto da aeronave realizou brusca manobra com grande variação de altitude. Vários passageiros que não estavam presos aos cintos de segurança ficaram feridas e necessitaram de assistência médica no pouso. Algumas pessoas filmaram a situação dos feridos a bordo, e pelo, menos um dos F-15 voando ao lado do Airbus. A evasiva inciou após os sistema de TCAS (Traffic Collision Avoidance System) alerta para a proximidade do caça.
A USAF aforma que foi apenas uma F-15, ao passo que o iranianos informam ter sido dois caças. De toda forma parece que o o piloto do F-15 não teria desligado o IFF/Transponder, o que teria acionado alerta do TCAS.
Segundo a agência de notícias iraniana Fars News, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã encaminhou mensagem ao Secretário Geral das Nações Unidas, Sr. Antonio Guterres, repudiando o incidente e enfatizando explicitamente que, se ocorresse qualquer incidente no voo de retorno, o Irã responsabilizaria imediatamente os Estados Unidos. O voo retornou para Teerã mais tarde, sem problemas.
A Autoridade da Aviação do Irã, considerou a ação do caça americano contra o avião de passageiros Mahan, uma clara violação dos direitos e regulamentos da aviação civil internacional. Informou que o país fará um protesto junto ao Conselho da Organização Internacional de Aviação Civil (OACI) e exigirá uma imediata e séria investigação.
Footage allegedly shows the moments that a commercial plane belonging to #Iran’s Mahan airline intercepted by an “#Israeli fighter jet” over Damascus. The plane has been reportedly forced to make emergency landing in #Beirut airport.
Correction: #Iran’s state says they were #US fighter jets quoting #Damascus Airport Watchtower
Originally tweeted by Nafiseh Kohnavard (@nafisehkBBC) on 23 de July de 2020.
Em resposta, o CENTCOM (US Central Command) emitiu comunicado informando que foi realizada uma missão de patrulha de rotina no espaço aéreo sírio, e todos os padrões de segurança internacionais foram seguidos. O alerta foi acionado para garantir a proteção das equipes da base de Al-Tanf, onde há tropas da Combined Joint Task Force – Operation Inherent Resolve (CJTF-OIR).
“Um F-15 dos Estados Unidos realizou uma missão aérea de rotina nas proximidades do CJTF-OIR Al-Tanf, Síria. Para reconhecimento de uma aeronave da empresa Mahan Air, foi realizada inspeção visual padrão, a uma distância segura de aproximadamente 1.000 metros. A inspeção ocorreu para garantir a segurança da guarnição da Base da Força-Tarefa Conjunta Combinada em Al-Tanf. Após a identificação da aeronave civil iraniana, o piloto do F-15 se afastou, retornando para a sua base de origem. A interceptação foi realizada de acordo com os padrões internacionais.”
Parlamento do Irã chama ato de terrorismo
Um membro da mesa do parlamento iraniano disse, no dia seguinte ao incidente, que o Parlamento deveria dar uma resposta ao recente ato terrorista dos EUA de assediar em voo a aeronave Mahan Air no espaço aéreo sírio.
Seyyed Nasser Mousavi Largani em entrevista afirmou que o Parlamento iraniano não permanecerá em silêncio diante do ato terrorista americano. Ele considerou o assédio por dois F-15 da USAF um ato de provocação e acrescentou:
“Certamente, o ato criminoso dos Estados Unidos não ficará sem resposta e a República Islâmica do Irã dará uma resposta decisiva à hedionda ação dos EUA. É contra a lei e viola claramente o direito internacional”.
Segundo a agência estatal MEHR, a nação iraniana considera o governo dos EUA um criminoso. Os americanos sempre tiveram um temperamento de dominação e agressão e não desistem de seu comportamento malicioso, destacou.
O ministro da Saúde do Líbano, Hamad Hassan, também denunciou a medida norte-americana, chamando-a de “um ataque flagrante” e dizendo que seria importante registrar uma queixa nos tribunais internacionais.
As tenções entre Irã e EUA
As tensões entre o Irã e os Estados Unidos têm aumentado desde que o governo Donald Trump retirou-se, em maio de 2018, do acordo nuclear Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA), após acusar o Irã de estar enriquecendo urânio visando dar capacidade nuclear a mísseis balísticos. Em 2019, os EUA aumentaram sua presença militar na região, que culminou com a perda de um drone MQ-4 Global Hawk para as defesas aéreas iranianas, em 20 de junho, depois deste violar o espaço aéreo do país.
No dia 27 dezembro de 2019, milicianos do Kata’ib Hezbollah atacaram uma base do Iraque em Kirkuk, que matou um empreiteiro civil americano. Em retaliação, no dia 29, os EUA realizaram o que chamaram de “ataques defensivos”, a cinco instalações da milícia Kata’ib Hezbollah (ou “Brigadas do Hezbollah”) no Iraque e na Síria, onde funcionavam instalações de armazenamento de armas e centrais de comando e controle do grupo, que foram usadas para planejar e executar ataques às forças da coalizão dias antes.
No dia 31, milícias xiitas invadiram a embaixada dos EUA em Bagdá, ato que foi associado ao Irã pelos EUA e que, teria desencadeado o ataque de 3 de janeiro que vitimou o comandante iraniano das Forças Quds, o General Qasem Soleimani, e do comandante da Força de Mobilização Popular do Iraque Abu Mahdi al-Muhandis, em uma operação com emprego de um MQ-9B Reaper da USAF em Bagdá, que empregou mísseis AGM-114 Hellfire na aérea do aeroporto de Bagdá para explodir os carros que transportavam os dois iranianos.
No dia 8 de janeiro o Irã retalhou a morte de Soleimani, ao lançar mísseis contra duas bases aéreas que abrigam tropas americanas no Iraque (Al-Assad e Erbil) causando cerca de 100 baixas. Durante o ataque, o Irã admitiu que derrubou por engano, o Boeing 737-8KV UR-PSR da Ukraine International Airlines que fazia o voo PS752 (Teerã – Kiev) com 176 pessoas a bordo. A aeronave foi atingida por dois mísseis antiaéreos perto de Teerã, quando voava no FL075 subindo para o seu nível de cruzeiro, após decolar do aeroporto Imã Khomeini. De acordo com o presidente iraniano, Hassan Rouhani, os dois SA-15 foram disparados por engano, complementando que foi um “erro imperdoável”.
Desde então, o Irã passou a ignorar os limites para o enriquecimento de urânio em resposta à escalada das sanções dos EUA. Estranhamento, durante todo o mês de julho de 2020, o Irã sofreu explosões misteriosas em várias instalações industriais e de energia, levando suspeitas generalizadas de sabotagem estrangeira – cujo os principais suspeitos apontados pelo país islâmico são os EUA e Israel. O resultado do impasse atual entre EUA e Irã ainda está por vir, e são esperados novas provocações e confrontos.
@CAS/FFO