A novela dos Super Etendard Modernise da Armada Argentina. O portal de notícias argentino “TN” (Todo Notícias), do Grupo Clarín, publicou uma reportagem em 03 de janeiro, sobre o título “Argentina comprou cinco aviões de guerra por US$ 14 milhões que nunca voaram: cruzamentos entre macrismo e kirchnerismo”. No texto o jornalista apresenta algumas informações – já conhecidas – sobre a polêmica aquisição de cinco jatos franceses Super Etendard Modernize (SEM) pelo governo argentino em 2018.
De acordo com o texto do jornalista Bruno Yacono, na época das negociações que precederam esta compra, algumas testemunhas dos encontros entre o ex-presidente argenino Maurício Macri e seu homólogo francês Emmanuel Macron, relataram a “pressão” para que os cinco SEM fossem comprados pela Armada Argentina.
“O próprio presidente argentino achou curioso que seu homólogo francês estivesse tão investido em uma compra que, a priori, pareceria pequena diante da extensa agenda de questões entre as duas nações”, relatou o jornalista.
Tudo teria iniciado em janeiro de 2017, quando o então Ministro da Defesa, Julio Martínez, informou ao embaixador da França na Argentina, Pierre Henri Guignard, que o país estavria interessado na compra dessas cinco aeronaves.
A compra foi concluída em 2018, com o pagamento de € 12,5 milhões, e os cinco SEM chegaram por via marítima ao Porto de Buenos Aires em 09 de maio de 2019. Eles foram encaminhados para a Base Aeronaval Comandante Espora (BACE), Villa Espora, província de Buenos Aires, sede da 2ª Escuadrilla Aeronaval de Caza e Ataque, da 3ª Escuadra Aeronaval (EA32). A operação deu à Aviação Naval Argentina um pequeno vislumbre de esperança
após anos de desinvestimento e inatividade.
Passados mais de dois anos desde a sua chegada, os aviões nunca voaram, e permanecem armazenados no hangar da BACE. De acordo com a documentação oficial acessada pelo “TN”, eles chegaram ao país com componentes vencidos e o governo do atual presidente argentino, Alberto Fernández, não consegue encontrar as peças de reposição para seu funcionamento.
A compra deste equipamento militar é marcada por acusações entre os partidários do ex-presidente Macri, conhecidos localmente como “Marcristas” e pelo grupo político do atual presidente Fernandez, chamados de “Kirchneristas”, por serem aliados da ex-presidente Cristina Kirchner. Esta desavença política deixa à beira do ostracismo o histórico Esquadrão de Caça e Ataque da Armada, que entre tantos feitos, atuou fortemente na Guerra das Ilhas Malvinas.
O EA32 possui um lote de antigos Super Etendard (SUE) desativados e estocados há muitos anos, por falta de peças de reposição. Essas cinco novas aeronaves Modernizadas foram adquiridas justamente para reativar as atividades de voo do Esquadrão de Caça da Armada.
Mas, até agora nada disso aconteceu. De acordo com uma resposta da Armada Argentina a um pedido de acesso a informações públicas feito pelo “TN”, os aviões chegaram ao país com equipamentos vencidos, e o atual governo não consegue comprar as peças de reposição necessárias para colocá-los em operação.
O problema são os cartuchos detonadores dos assentos ejetores que equipam os SEM, que estão vencidos. Apesar do caça ser de fabricação francesa, esses dispositivos são produzidos pela empresa britânica Martin Baker, e não podem ser comprados por conta do bloqueio do Reino Unido para a venda de equipamentos militares para a Argentina. Além da dificuldade de encontrar essas peças de outros fabricantes no mercado, nesses dois anos estocados, outros componentes dos jatos também expiraram.
Conforme a reportagem do Todo Notícias, “fontes próximas do ex-ministro da Defesa, Oscar Aguad, garantem que o governo de Mauricio Macri comprou os aviões sabendo da necessidade de reposição dos componentes ejetores, e que havia negociações avançadas com uma empresa norte-americana que iria fornecer os suprimentos.”
As fontes do “TN” afirmam que a própria Martin Baker foi contatada pelo governo Macri, mas por motivos não conhecidos, as negociações com a empresa dos EUA não evoluíram. “Na altura da compra não havia uma distância muito grande com o Reino Unido, pois o Governo Macri tinha boas relações internacionais e estávamos perto de comprar as peças”, acrescentou a reportagem.
De acordo com a documentação fornecida pela própria Armada Argentina, os aviões “chegaram ao país em 2019 com componentes vencidos” e acrescentaram: “Até o momento não puderam voar por falta dos componentes que substituem os materiais vencidos e os impossibilidade de acesso a outros devido à sua origem britânica.”
O jornalista do “TN” consultou o gabinete do atual Ministro da Defesa Argentino, Jorge Taiana, para verificar os motivos pelos quais nos primeiros dois anos do atual governo de Alberto Fernández, os caças SEM ainda não voaram. “Não podemos ampliar mais informações do que as fornecidas pela Armada Argentina. Os aviões foram adquiridos pelo governo anterior sem componentes necessários para voar”, limitaram-se a responder.
As negociações com a empresa norte-americana que iria fornecer os componentes avançaram até que o escritório de compras europeu da Armada Argentina solicitou um pedido de garantias, que foi recusado. Isso aconteceu nos primeiros meses de 2020. “Nunca soubemos se essa recusa em entregar a documentação foi uma decisão da empresa ou uma imposição britânica devido ao mau relacionamento com o governo atual”, disse uma fonte da Força Naval ao “TN”.
A atual gestão do Ministro Taiana busca uma alternativa na indústria argentina para a fabricação desses detonadores dos assentos ejetores, mas até o momento não houve avanços. “É interagir com os fornecedores para garantir a disponibilidade de peças de reposição e que eles possam voar no curto prazo”, diz o documento oficial.
Os cinco SEM comprados pela Argentina foram desativados pela Marinha Francesa após décadas de serviço. Quando eles estiverem prontos para voar novamente, estima-se que a vida útil será de apenas 10 anos.
Junto com os aviões, desembarcaram no Porto de Buenos Aires em 2019, cerca de 40 contêineres de peças de reposição e acessórios, já que a ideia original era também colocar em serviço algumas unidades dos antigos Super Etendard (SUE), o que também não ocorreu. “A ideia era dar à aviação naval mais 10 anos de vida. Um esquadrão histórico está para morrer”, resumem com tristeza a Armada argentina.
Fonte: Todo Notícias
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