A intrigante “ponte aérea” Rússia-China com An-124 e Il-76 da Volga Dnepr. A intensa movimentação de aviões cargueiros pesados da empresa russa “Volga Dnepr” para a China tem chamado a atenção da comunidade internacional. Somente no mes passado foram observados pelo menos 34 voos de aeronaves Antonov 124 e Ilyushin 76, contra apenas três operações em setembro.
A rota realizada por esses cargueiros normalmente é entre os Aeroportos de Vnukovo e Sheremetyevo, em Moscou, na Rússia, e o Aeroporto Internacional de Zhengzhou Xinzheng, na província de Henan,, na China. Mas qual seria o motivo dessa “ponte-aérea”? Vídeos publicados por spotters chineses nas redes sociais, tem referido que os An-124 e Il-76 estariam carregando uniformes militares, munições e armamentos para a Rússia.
Rapidamente a mídia chinesa, sabidamente monitorada e controlada pelo regime de Pequim, tratou de divulgar reportagens afirmando que o país tem uma posição neutra quanto ao conflito Rússia e Ucrânia, portanto, não estaria fornecendo nenhuma ajuda militar à Moscou. Essa seria a posição oficial do regime diante dos seus interesses nacionais.
Dos 34 voos observados em novembro, 22 foram realizados por An-124 com capacidade para 120 toneladas de cargas, e os demais 12 voos com Il-76 para 50 toneladas. Analistas ocidentais calcularam que se todos esses aviões levassem apenas 50% do peso máximo de carga, seria algo em torno de 1.600 toneladas apenas em novembro.
A informação oficial é que essas aeronaves da Volga Dnepr estariam levando “roupas de inverno civis, equipamentos eletrônicos e bens de consumo” uma vez que a federação russa está passando por uma escassez significativa em seu mercado interno.
No início do mes de outubro, o deputado russo Andrei Gurulev denunciou o “desaparecimento” de mais de 1,5 milhões de conjuntos de invernos militares. Observadores ocidentais chamam a atenção que o discurso do político russo serviu como “pano de fundo” para explicar o aumento desses voos.
Há informações – não confirmadas – de que o Aeroporto chinês de Zhengzhou sreia apenas o ponto de carregamento, pois os uniformes militares estariam sendo produzidos na Coreia do Norte.
De qualquer forma, algo mais não fecha nessa movimentação. Porque transportar roupas (civis ou militares) em aviões de grande porte, quando existe uma rede ferroviária direta e bastante eficiente entre a China e a Rússia.
Componentes eletrônicos
Há uma versão que a Rússia estaria importando componentes eletrônicos da China, para suprir sua indústria de defesa. Mas a quantidade de voos realizadas poderia facilmente mesclar equipamentos (microchips) para uso militar e civil no mesmo avião.
Outra suposição seria que, não apenas componentes eletrônicos estariam sendo importados pela Rússia. A bordo desses aviões estariam equipamentos eletro-eletrônicos de vários tipos, como máquinas de lavar e geladeiras, por exemplo.
Misteriosamente tem sido verificado um aumento repentino e inexplicável na importação de eletrodomésticos pelo Cazaquistão e a Armênia, principalmente depois das sanções aplicadas contra a Rússia. Observadores ocidentais sugerem que esses equipamentos simplesmente estão sendo repassados para a indústria russa, que desmonta e retira os componentes necessários para a produção de armamentos. Em tempos de guerra, tudo é possível.
Armas da China
A questão principal é se a Rússia poderia estar importando armas da China, como os mísseis CJ-10K, uma cópia chinesa do X-555 ou sua versão terrestre DF-10A. Caso isso esteja realmente acontecendo, certamente peritos militares ocidentais poderiam rastrear a origem desses mísseis apenas analisando os destroços.
Para Pequim, que ressalta sua neutralidade e nega a transferência de material militar, isso será um golpe de reputação. Mas, cabe ressaltar que minas terrestres de fabricação chinesa já foram encontradas nas posições abandonadas do exército russo. Mas claro, elas poderiam ter sido adquiridas de terceiros.
Mas aqui um importante detalhe. Caso os An-124 e Il-76 da Volga Dnepr realmente estejam transportando armas, porque eles operariam nos terminais de carga dos aeroportos civis como Vnukovo e Sheremetyevo, em Moscou? Não seria mais lógico, em vez disso, as tripulações desligariam seus transponders e pousarem em algum aeródromo militar onde não houvesse observadores nem testemunhas?
Seja como for, atualmente não há elementos para argumentar que efetivamente essas aeronaves estejam transportando armas para Moscou.
Por trás das armas
Mas há um tipo de carga não-militar, mas que indiretamente poderia estar alimentando a indústria de defesa da Rússia: máquinas e ferramentas industriais. A explicação seria simples. Como as empresas ocidentais deixaram de fornecer esses equipamentos para a indústria russa, muitas empresas simplesmente pararam suas linhas de produção por falta de equipamentos. E sem essas máquinas modernas, é impossível montar qualquer arma moderna.
Apesar de todos os aviões pousarem nos aeroportos de Moscou, onde está o grande hub de cargas nacional, os voos procedentes da China tem realizados escalas intermediárias em um desses locais: Novosibirsk, Krasnoyarsk ou Barnaul. Em cada uma dessas localidades existem empresas de defesa bastante poderosas, além de Moscou, é claro.
Por exemplo, em Novosibirsk está a Sukhoi Aviation Plant, onde é produzido o caça-bombardeiro Su-34, além da “NIY Elektronik Priborov”, o principal fornecedor de sistemas de defesa antimísseis de curto alcance, incluindo o S-300. Nessa região também está a fábrica componentes para os mísseis Kinzhal, Kh-59, Iskander entre outros.
Em Krasnoyarsk está o principal fabricante de satélites russos, incluindo Glonass e Gonets – Reshetnev Information Satellite Systems. E também a conhecida Mineração e Usina Química, produtora de plutônio para armas nucleares.
Finalmente, em Barnaul, se produz giroscópios e instrumentos de precisão para submarinos e navios nucleares, inclusive para o único porta-aviões russo, o Almirante Kuznetsov. Uma conhecida fábrica de cartuchos também está localizada nesta cidade.
Para a China, a venda de máquinas e ferramentas industriais é “simplesmente a venda de máquinas” e não de armas, munições, nem mesmo uniformes militares. Por outro lado, para a Rússia é a possibilidade de manter a sua indústria de defesa produzindo.
Obviamente que Moscou e Pequim irão falar oficialmente sobre esse assunto.
Fonte: Defense Express
@FFO