China da sinais de como irá bloquear Taiwan. As novas manobras de Pequim em torno de Taiwan no mês de agosto de 2022 ofereceram pistas importantes sobre os planos de um bloqueio rígido em caso de guerra, visando tomar a ilha autogovernada. A visita a Taiwan da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi desencadeou a indignação de Pequim, que lançou amplas manobras militares ao redor da ilha, gerando uma forte tensão e desgaste das defesa de Taiwan.
O lado positivo, segundo analistas americanos, é que as manobras expuseram parcialmente os planos chineses de contenção da Ilha para os Estados Unidos e seus aliados asiáticos. Mobilizando caças, helicópteros e até navios de guerra, os exercícios pretendem simular um bloqueio a Taiwan e incluir a prática de um “ataque a alvos no mar”. É a primeira vez que exercícios chineses acontecem tão perto de Taiwan, chegando menos de 20 quilômetros da costa da ilha. As manobras de Pequim no flanco leste de Taiwan, uma área estrategicamente vital para abastecer as forças militares da ilha, bem como para possíveis reforços dos EUA, também não têm precedentes. A China considera Taiwan como parte de seu território e prometeu tomá-lo um dia, pela força, se necessário.
Um “cenário de bloqueio” tem sido especulado há muito tempo como uma das estratégias preferidas da China, caso tente conquistar a ilha, e exercícios de agosto revelaram como isso poderá acontecer. Tal cerco teria como objetivo impedir a entrada ou saída de navios e aeronaves comerciais ou militares, negando o acesso à ilha às forças americanas estacionadas na região.
Os militares chineses “obviamente têm todas as capacidades para impor tal bloqueio”, disse Song Zhongping, um comentarista militar chinês independente, à agência AFP. “Já vemos durante os exercícios atuais que aviões de guerra e navios taiwaneses são absolutamente incapazes de decolar ou deixar seus portos com esta tática de estrangulamento”.
Os militares chineses dispararam uma dúzia de mísseis balísticos na quinta-feira, dia 8/9 que atingiram várias áreas ao redor de Taiwan, alguns deles sobrevoando a ilha, disse a emissora estatal CCTV de Pequim nesta sexta-feira. O clima é de intimidação, lembrando muito a situação dos anos 1950.
Nos exercícios recentes, Pequim mobilizou mais de 100 aeronaves e mais de 10 fragatas e destróieres, incluindo o caça furtivo J-20 e um destróier Tipo 055, as jóias da coroa das forças aéreas e navais da China. Mas para além das grandes armas, estes exercícios permitiram testar e afinar o nível de coordenação entre os diferentes forças mobilizadas: forças terrestres, marítimas, aéreas e de mísseis, bem como o apoio estratégico — encarregado da guerra cibernética e claro logístico.
É também um teste crucial para o recém-inaugurado Teatro de Operações Oriental do exército chinês, criado em 2016 e que supervisiona todo o espaço marítimo oriental do país, e, portanto, vigia Taiwan. O que a China fez até agora demonstra suas “capacidades robustas”, disse à agência AFP John Blaxland, professor de segurança internacional da Universidade Nacional Australiana. “Você não pode descartá-los como algum tipo de força menos experiente e incapaz”, disse ele. “Está claro que eles têm a capacidade de coordenar suas ações em terra, ar e mar, e conseguem implantar sistemas de mísseis e trabalham eficazmente”.
Durante a crise anterior do Estreito de Taiwan, entre 1995 e 1996, sob o comando de Bill Clinton, US Navy transitou vários navios de guerra pela hidrovia e deslocou porta-aviões perto da ilha. Desta vez, no entanto, “o governo dos EUA está tomando medidas prudentes para evitar uma escalada indesejada”, disse Lonnie Henley, ex-oficial de inteligência dos EUA e professor da Elliott School of International Studies, em Washington.
A cautela americana também se baseia no fato de que a China aumentou muito suas capacidades militares desde 1996, quando não conseguiu negar à US Navy o acesso à área. “Em algumas áreas, o PLAN e a PLAAF pode até superar as capacidades dos EUA”, disse Grant Newsham, ex-oficial da Marinha dos EUA e pesquisador do Fórum de Estudos Estratégicos do Japão. “Se a batalha se limitar à área ao redor de Taiwan, o atual exército chinês é um adversário perigoso, e se os americanos e japoneses não intervirem por algum motivo, as coisas serão difíceis para Taiwan”.
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