Northrop F-5E completa 50 anos do seu primeiro voo! Hoje, 11 de agosto de 2022, um ícone da aviação de caça mundial completa meio século do seu primeiro voo! Neste dia, em 1972, o primeiro Northrop F-5E Tiger II alçava voo na Base Aérea da USAF, em Edwards, na Califórnia. Para nós esta data ainda tem mais importância, pois o então USAF 71-1417 ainda está em serviço como F-5EM FAB 4856, voando nas cores da Força Aérea Brasileira.
Os modelos F-5E/F, que se tornaram o caça padrão de muitas Forças Aéreas, é não somente uma evolução dos F-5A/B/C/RF-5A, mas sim uma nova aeronave, mostrando o quão versátil era o projeto. Com o incentivo do governo norte-americano, em 1968 oito empresas apresentaram propostas para desenvolver um caça sob o programa IIFA (Improved International Fighter Aircraft), que poderia ser vendido para as nações amigas.
Em 20 de novembro de 1970, a Northrop foi anunciada a vencedora com o F-5-21A, fruto de do projeto iniciado em janeiro de 1969, quando voou pela primeira vez um F-5B equipado com um par de motores atualizados General Electric J85-GE-21. A primeira célula de testes do F-5-21A, na verdade foi convertida a partir do YF-5B, matrícula USAF 63-6465, que recebeu os novos motores.
A ideia original da Northrop e da General Electric era incrementar a capacidade dos F-5A/B, dando a estes mais potência no motor original GE J85-13. O motor “-21” possui 30% mais potência e uma relação peso/potência de 7,5:1 contra 6,8:1,do original, pesando apenas 100 lb a mais, graças à substituição do titânio pelo aço na manufatura do compressor.
Este ganho de potência, aliado ao acréscimo dos itens adotados pelos CF-5 e as já consagradas facilidades de produção e operação do F-5, foram decisivos para que o projeto F-5-21A, convencesse o Governo dos EUA a eleger a proposta da Northrop vencedora, superando Lockheed, McDonnell Douglas e Ling-Temco-Vought, dentre outras.
Em janeiro de 1971, o novo caça foi denominado oficialmente como F-5E Tiger II. O roll out ocorreu em 23 de junho de 1972 em Palmdale, na Califórnia, e seu primeiro voo aconteceu em 11 de agosto do mesmo ano em Edwards AFB, com uma aeronave de pré-produção USAF 71-1417. Cabe ressaltar que não foram construídos protótipos do F-5E. O segundo F-5E, matrícula USAF 72-1418, voou em 29 de dezembro de 1972. Ambos seriam transferidos anos mais tarde para a Força Aérea Brasileira, sendo matriculados como FAB 4856 e FAB 4857, respectivamente.
O F-5 ECHO
Em relação as versões anteriores, o F-5E é maior, com a fuselagem redesenhada com novas tomadas de ar, a qual, no entanto, manteve o consagrado conceito de acinturamento na região das asas. Essas, por sua vez, mantiveram o diedro neutro, mas incorporaram um novo e maior LERX (Leading-Edge Root eXtension). O F-5E manteve os dois canhões M-39A de 20 mm utilizados pelos F-5A.
Ao contrário das séries iniciais, o F-5E não possui a opção do uso de Tip Tanks, mas somente o emprego obrigatório dos trilhos para lançamento de mísseis ar-ar (launch rail) na ponta de cada asa. Esta redução no combustível (cerca de 100 US Gal) pela perda dos dois Tip Tanks foi insignificante, pois com o aumento da fuselagem e a reengenharia dos tanques internos, esta diferença foi adicionada ao novo volume interno. Na prática, o F-5E possui o mesmo volume interno de combustível que um F-5A com Tip Tanks.
Além dos motores mais potentes J85-GE-21, o “E” também absorveu muitas das inovações aplicadas nas versões canadense e holandesa do F-5A, dentre as quais a bequilha em duas posições (dehiked/hiked), o CADC, o gancho de parada, as Auxiliary Intake Doors e os flapes de manobra atuados eletricamente. Com o aumento das dimensões e da relação peso-potência, o F-5E aumentou sua carga útil em 25%. Outro item importante presente no Tiger II foi o radar de pulso, com os modelos AN/APQ-153 e AN/APQ-159, que permitiram ampliar o espectro operacional, dando ao F-5 capacidade real de superioridade aérea.
Os primeiros F-5E foram entregues em junho de 1973 ao 425th TFTS da USAF sediado em Williams AFB. O primeiro cliente estrangeiro a receber o Tiger II foi a então Força Aérea Imperial do Irã, em janeiro de 1974.
Um total de 792 unidades do F-5E, 140 F-5F e 12 RF-5E foram produzidos pela Northrop. Assim como ocorrera com os “Alfas e Bravos”, os “Echos e Foxes” também foram fabricados sob licença na Suíça (85), Coréia do Sul (68) e Taiwan (308), manufaturados pela FFA, KAI e AIDC respectivamente. A produção se encerrou em 16 de janeiro de 1987, com a entrega dos dois últimos exemplares da Força Aérea do Bahrain. Os derradeiros Tigres saíram de Palmdale em 29 de junho de 1989 para a RSAF (Cingapura), construídos a partir de peças em estoque. Ao todo, 1.405 F-5E/F/RF-5E foram fabricados em todo o mundo.
Os FAB 4856, 4857 e 4858
Dos quatro primeiros F-5E construídos pela Northrop na fábrica de Palmdale, três estão no Brasil: o FAB 4856 (USAF 71-1417); o FAB 4857 (USAF 71-1418) e o FAB 4858 (USAF 71-1420). O USAF 71-1418, o terceiro F-5E produzido, provavelmente não esteja aqui, porque foi perdido pela USAF em um acidente no dia 9 de fevereiro de 1981, quando voava pelo 525th TFTS, em Williams AFB, no Arizona.
Após serem usados nas fases de ensaio, desenvolvimento, homologação e até de demostração a clientes, os primeiros quatro F-5E foram entregues em 1974 para a USAF, que os alocou na 425th TFTS de Williams AFB. Estes F-5 iniciais, ajudaram a treinar os pilotos do Brasil e Chile, que fizeram curso na 425th TFTS, em Williams AFB.
O primeiro F-5E a vir ao Brasil foi o USAF 72-01401, em outubro de 1973, para o salão aerospacial de São José dos Campos/SP, onde efetuou uma demonstração. Curiosamente, ele é seria o FAB 4866, um F-5E do 1º lote, que hoje ainda está em serviço como um F-5EM.
Após 14 anos nas fileiras da USAF, eles foram vendidos ao Brasil, que em 1988 comprou 22 F-5E e quatro F-5F ex-USAF. Todos do chamado “2º lote”, foram destinados ao 1º/14º GAV “Esquadrão Pampa”, sediado em Canoas (RS). Estas aeronaves foram transladadas em voo dos EUA para Canoas em seis lotes, sendo um em 1988 e os cinco restantes em 1989.
Os três F-5E mais antigos do mundo, chegaram todos em 1989: o 4856 chegou 28/08; o 4857 em 30/04 e o 4858 em 10/05. Eles voaram no “14″ até serem recolhidos para a modernização, no pacote de 43 F-5E e 06 F-5F convertidos para o padrão F-5M da FAB.
O 4856 foi recolhido em abril de 2003 pela a Embraer, que o devolveu para Canoas em setembro de 2005, agora como F-5EM. O 4857 e 4858 foram para a Embraer em maio de 2007 e abril de 2008, respectivamente, regressando à frota ambos em 2011, também em Canoas. Todos ainda estão em serviço, tendo rodado pelos diversas unidades que operaram ou operaram o F-5M.
Depois de 50 anos de seus primeiros voos e mais de 20 anos de FAB, a aposentadoria se aproxima. O destino ideal seria preservar os 4856 e o 4857, não só por sua importância na FAB (o F-5 é a aeronave de caça mais importante da história da FAB), mas por sua importância mundial. São aeronaves ímpares e as primeiras de uma linhagem de mais de 1400 produzidas. O 4856 poderia ser preservado no MUSAL, no Rio de Janeiro e o 4857 em Canoas, mantido guardado no hangar do 14º GAV, unidade com o qual veio servir em 1989.
Comenta-se que os americanos “bobearam” em vendê-los para a FAB, pois deveriam ter sido preservados no museu da USAF National Museum em Dayton/Ohio ou no Smithsonian National Air & Space Museum, em Washington/DC. Já que eles vieram, vamos aproveitar a oportunidade para preserva-los, especialmente agora, quando se aproxima o cinquentenário do primeiro voo de um F-5 nas cores da FAB, realizado pelo F-5B 4800, em 23 de outubro de 1974, na fábrica da Northrop, em Palmdale. O histórico voo foi efetuado pelo lendário Coronel-Aviador Euro Dunca, a época Major-Aviador da COMFIREM do F-5.
Siga-nos no Twitter @RFA_digital
@CAS