China realiza exercício militar sem precedentes no entorno de Taiwan. As Forças Armadas Chinesas iniciaram ontem (04/08) os maiores exercícios militares com munição real já realizados em áreas no entorno e dentro das águas territoriais de Taiwan. A informação foi divulgada pela televisão estatal chinesa CCTV e confirmada pelo governo de Taiwan, que disse que Pequim lançou 11 mísseis balísticos perto da ilha, além de invadir suas águas e espaço aéreo com vários navios de guerra e aviões militares.
“A partir das 12h de 04/08 até 12h do dia 07/08 será realizado um importante exercício militar do Exército Popular de Libertação. Durante esses exercícios de combates reais, seis áreas principais ao redor da ilha foram selecionadas e, nesse período, todos os navios e aeronaves não devem entrar nas áreas marítimas e no espaço aéreo relevantes”, informou a CCTV.
Os exercícios são uma resposta da China à visita da presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi a Taiwan, que chegou no dia 02/07 e permaneceu na Ilha menos de 24 horas. O voo da USAF que transportou a deputada norte-americana pousou em Taipei sob a vigilância de dezenas de aeronaves e embarcações militares dos EUA e de Taiwan. Conforme noticiamos, o “SPAR19” foi um dos voos mais rastreados da história dos sites de monitoração on-line.
A visita da congressista norte-americana a Taiwan foi fortemente contestada por Pequim, que classifica a Ilha como uma parte “rebelde” do seu território. Em resposta a “provocação dos EUA”, a China colocou suas forças armadas em alerta máximo e anunciou uma série de sanções contra Taiwan.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse recentemente que “na atual briga por conta da visita de Pelosi a Taiwan, os Estados Unidos são os provocadores e a China é a vítima.”
Forças anfíbias chinesas foram desdobradas na costa de Fujian, o ponto mais próximo da Ilha de Taiwan. Entre essas medidas, o movimento mais significativo da China foi a promulgação de um exercício naval sem precedentes, bloqueando efetivamente a Ilha. Algumas das cinco principais áreas restritas para as manobras – inclusive com exercícios de tiros reais – se sobrepõem às águas territoriais de Taiwan.
Os dois porta-aviões da Marinha da China, o Liaoning (16) e o Shandong (17) deixaram seus portos de origem e foram deslocados para a área do exercício.
Nesta sexta-feira (05/07), a China disse que disparou mísseis sobre a ilha de Taiwan, aumentando as tensões na região. Um especialista militar chinês confirmou na emissora estatal CCTV que os mísseis convencionais sobrevoaram a principal ilha de Taiwan, incluindo o espaço aéreo coberto por mísseis de defesa taiwaneses.
“Atingimos os alvos sob a observação do sistema de combate Aegis dos EUA, o que significa que os militares chineses resolveram as dificuldades de atingir alvos de longo alcance nas águas”, disse o Major-General Meng Xiangqing, professor de estratégia da Universidade de Defesa Nacional em Pequim.
De acordo com a agência de notícias japonesa Kyodo, os cinco mísseis caíram dentro da zona econômica exclusiva do Japão, região no mar que faz parte das águas do país e fica a cerca de 370 quilômetros da costa.
Tso Juei Hsu, pesquisador militar baseado em Taiwan, lembrou que o último episódio de alta tensão entre dois países aconteceu em 1996. “Agora a China representa uma ameaça maior para Taiwan, porque alguns dos seus exercícios ocorrem em suas águas territoriais taiwanesas.”
O governo de Taiwan também mostrou reação ao exercício chinês e o definiu como uma violação da sua soberania e do direito internacional, já que as áreas designadas invadem – ou estão muito próximas – das suas águas territoriais. O Ministério da Defesa de Taiwan está monitorando as atividades chinesas de perto, inclusive com navios guerra e aviões militares realizando missões de vigilância. Especialistas militares chamam a atenção para a possibilidade de encontros inesperados entre as duas forças.
O Pentágono, por sua vez, informou que grupo de ataque do porta-aviões Ronald Reagan e o USS Tripoli estão na região em uma implantação de rotina.
Nas poucas horas que esteve na Ilha, Pelosi se encontrou com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, fez uma visita ao museu de Direitos Humanos de Taipei e visitou o Parlamento. Embora a presidente do Congresso tenha falado em nome dos Estados Unidos, sua não foi unanimidade no seu país. Em 21 de julho, o presidente Joe Biden – que é do mesmo partido de Pelosi – afirmou que os militares avaliavam que a visita não seria “uma boa ideia”.
Nancy Pelosi tem um longo histórico de confronto com o a China. Em 1991 ela apareceu de surpresa na Praça da Paz Celestial, em Pequim, empunhando cartazes em homenagem aos dissidentes do governo chinês mortos no protesto que marcou o local em 1989.
Esta foi a primeira vez em 25 anos que um alto cargo do tipo dos Estados Unidos visitou a ilha de 24 milhões de habitantes, que a China reivindica ser parte do seu território. Por isso, Pequim disse que a viagem de Pelosi foi um “sinal severamente errado às forças separatistas a favor da independência de Taiwan”. Os Estados Unidos têm uma política de “ambiguidade estratégica” em relação à Taipei: não reconhecem Taiwan como um Estado, mas mantêm relações com a ilha cada vez mais próximas.
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