EMTRASUR: justiça argentina mantém no país sete tripulantes. O juiz federal argentino Federico Villena, decidiu manter proibida a saída do país de sete dos 19 tripulantes do Boeing 747 da EMTRASUR, retido no Aeroporto Internacional de Buenos Aires desde o dia 06 de junho. Em seu despacho, o juiz sustentou que há suspeitas sobre quatro tripulantes iranianos (incluindo o piloto e co-piloto) e três venezuelanos, que seguem sob investigação.
Em uma resolução de quase 300 páginas, que o portal Infobae teve acesso, o magistrado descreveu as provas contra eles, muito embora ainda não tenha decidido se vão ser declarados acusados. Os outros doze tripulantes (um iraniano e onze venezuelanos) poderão retornar aos seus países de origem em voos regulares, uma vez que situação do Boeing 747-300 (YV-3531) ainda não foi definida.
Entre os tripulantes que devem permanecer no país estão o piloto Gholamreza Ghasemi, o co-piloto Abdolbaset Mohammadi e três venezuelanos, Víctor Pérez Gómez (Gerente Geral de Operações), Mario Arraga Urdaneta e o mecânico José Garcia Contreras. Sobre esses, o juiz considerou que há indícios suspeitos concretos. Por outro lado, sobre outros dois iranianos, Saeid Vali Zadeh e Mohammad Khosraviragh, não há indicações específicas, mas o juiz quer que permaneçam no país até que seja concluída a perícia nos seus telefones e computadores.
“O objetivo desta decisão não é definir o grau de participação nos fatos investigados, uma vez que a investigação ainda não foi concluída. Pelo contrário, só se avaliou se é razoável manter a medida de proibição de sair do país”, disse o juiz na resolução.
Há dez dias, o advogado dos tripulantes, Hernán Carluccio, pediu ao juiz Villena que suspendesse a medida cautelar e devolvesse o passaporte. “Não há, nem remotamente, nem nunca houve indicação da prática de qualquer crime, que depois de mais de um mês de investigação secreta, em que essa defesa teve que ser tratada praticamente às cegas, finalmente veio à luz, o que é inquestionável”, ele disse.
Entre as medidas pendentes, destacam-se as respostas do Uruguai, Venezuela e Estados Unidos, e o resultado final da perícia de todos os dispositivos apreendidos no hotel, especialmente aqueles que exigem tradução do idioma persa. No total, foram analisados 72 aparelhos, entre celulares, notebooks e computadores.
Embora ainda não haja acusação formal, Villena decidiu manter a proibição de deixar o país para sete tripulantes. A decisão detalha 118 medidas que foram realizadas desde 13 de junho, quando o processo judicial foi aberto. No caso do piloto Gholamreza Ghasemi, a prova mais valiosa continua sendo o relatório do FBI que o liga à Força Quds da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC-QF) e ao Hezbollah.
“A Força Quds tem uma longa história de apoio à milícia, atividades paramilitares e terroristas do Hezbollah, fornecendo liderança, financiamento, armas, inteligência e apoio logístico. As Forças Quds operam um campo de treinamento para o Hezbollah no Vale do Bekaa, no Líbano, e supostamente treinaram mais de 3.000 soldados na sede da Guarda Revolucionária no Irã”, observou o relatório. A decisão também descreve as fotos e vídeos encontrados no celular do piloto.
O juiz também levou em conta que os pilotos fizeram pelo menos sete voos para Damasco, na Síria,com a companhia aérea iraniana Fars Air Qeshm que, de acordo com o FBI, foram usados para contrabandear armas do Irã.
Villena sustentou que também há indícios para manter os três venezuelanos no país, especialmente Víctor Pérez Gómez e Mario Arraga Urdaneta, que estão ligados a uma série de irregularidades financeiras ligadas à carga do avião. Especificamente, a decisão menciona a abertura de contas bancárias no Panamá e em Cingapura, usadas para arrecadar parte do dinheiro para as transferências.
A justiça apreendeu uma nota de Pérez Goméz endereçada a Samir Maklad, que “seria uma pessoa que poderia estar ligada ao Hezbollah e que, segundo fontes abertas, a família Maklad poderia ser proprietária do Aeroporto Santiago Mariño, em Nueva Esparta, na Venezuela”. E acrescentou: “Embora sejam meros indícios, entendo que devem ser aprofundados. Não só a veracidade dos documentos encontrados, mas também o grau de relação comercial que poderia existir entre o réu aqui e o grupo de destacados cidadãos venezuelanos-libaneses e a organização terrorista Hezbollah”.
O terceiro venezuelano a ser seguido no país, José Gregorio García Contreras, é o mecânico de aeronaves que tinha mensagens suspeitas em seu telefone.
A história do voo da ESU9218 da EMTRASUR começou a ser escrita na última semana de maio, quando a montadora SAS contratou a empresa de logística Fracht para transportar um carregamento de autopeças do México para Buenos Aires. A Fracht licitou o voo com três corretores internacionais e finalmente foi feito um acordo com a Aerocharter México.
O contrato entre o escritório da Fracht nos Estados Unidos e a empresa mexicana foi finalmente assinado em 31 de maio e previa o valor de US$ 885 mil, que foi pago antecipadamente . Mas o custo final do voo acabou ficando bem mais alto, devido a atrasos na partida no Aeroporto de Caracas, e na primeira escala no México, onde estavam as autopeças.
Há outro fato que não fecha: no arquivo há um contrato de US$ 600 mil entre a empresa Alcux Air Spain, com sede em Barcelona, na Espanha, e a EMTRASUR. A diferença, de quase US$ 300 mil, seriam comissões milionárias que caíram no esquecimento.
A partir de agora, doze dos 19 tripulantes poderão deixar a Argentina em voos comercias regulares, mas continuarão vinculados ao processo judicial. Embora a Venezuela e o Irã não permitam a extradição dos seus cidadãos, o juiz estimou que eles não poderão fugir da justiça por muito tempo, porque todos trabalham na aviação civil e devem viajar o tempo todo.
Enquanto isso o Boeing 747-300, único avião com as cores da EMTRASUR, continuará retido no Aeroporto Internacional de Ezeiza. Sua situação é discutida em um incidente separado, pois ainda há muitas dúvidas sobre a propriedade da aeronave, apesar dos documentos fornecidos pelo advogado dos tripulantes.
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