Vinte anos do primeiro voo do Boeing YAL-1 da USAF. O último dia 18 de julho marcou os 20 anos do voo inaugural de um dos mais caros e estranhos aviões da USAF. Batizado de YAL-1 (Airborne Laser Testbed), o Boeing 747-400F (cargueiro) foi convertido em uma plataforma de testes para um programa de defesa aérea baseado em feixes de laser de alta intensidade.
Iniciado em 1996, o Programa ABL (Airborne Laser Program) teve sua gênes a partir de um protótipo de um quadrimotor NKC-135A, testado pela USAF entre 1975 e 1984. A plataforma foi equipada com um sistema HEL (High Energy Laser) projetado no período da Guerra Fria, quando a União Soviética apresentou ao mundo seus mísseis Scud. Apesar de não ter sido levado adiante, os resultados e coletas de dados foram importantes para a o futuro desenvolvimento do Boeing YAL-1A.
O Projeto YAL-1A do Departamento de Defesa dos EUA, envolveu várias empresas como a Boeing, a Lockheed Martin e a Northrop Grumman, que juntamente com a USAF, iniciaram os testes conjuntos em 2001. Inicialmente foi utilizada a plataforma de um velho Boeing 747-200 aposentado pela companhia aérea Air India. O objetivo era iniciar as avaliações do sistema COIL (Chemical Oxygen Iodine Laser, ou Laser Químico de Oxigênio Ionizado), e garantir a integração de todos os componentes na aeronave.
O COIL nada mais era do que um poderoso “canhão de laser aéreo”, desenvolvido para derrubar mísseis balísticos táticos (TBM) e potencialmente até mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), fazendo parte dos estudos para um grande programa de defesa do governo norte-americano.
Finalmente, em maio de 2002, um Boeing 747-400F “novinho em folha” deixou a linha de montagem e foi imediatamente enviado para a conversão em plataforma YAL-1, onde recebeu a torre móvel no nariz, integração do hardware, software e a parte óptica para a operação do poderoso laser. Matriculado USAF 00-0001 (c/n 30201), ele fez seu voo inaugural em 18 de julho de 2002, com o primeiros testes operacionais do sistema COIL realizado apenas em março de 2007.
Em janeiro de 2010, o Boeing YAL-1 interceptou com sucesso seu primeiro alvo-teste chamado MARTI (Instrumento de Alvo de Alcance Alternativo de Mísseis). Poucos dias depois, em 11 de fevereiro de 2010, o 747 militar lançou seu poderoso laser contra dois mísseis-alvo de testes, em uma região na área restrita do Centro de Guerra Aérea Naval de Point Mugu, na costa da Califórnia.
Nesse dia, o YAL-1 derrubou um míssil balístico de combustível líquido e, cerca de uma hora depois, “engajou” um míssil de combustível sólido, mas não o destruiu por causa de um problema no alinhamento do feixe de laser. Essa foi a primeira vez na história, que uma arma laser de energia direcionada foi usada para destruir um míssil balístico em voo.
Apesar do sucesso do programa, em dezembro de 2011, o então Comandante da USAF, General Norton A. Schwartz, anunciou o cancelamento do Projeto YAL-1, sob a alegação de ser considerado “operacionalmente inviável”. Um dos motivos – senão o principal – foi a forte pressão sobre o orçamento destinado para seguir com o programa.
Para chegar ao histórico voo de testes, foram gastos aproximadamente US$ 5 bilhões em um período de 16 anos. O então secretário de Defesa, Robert Gates, teria dito para fabricar o segundo YAL-1 seria necessário mais US$ 1,5 bilhão, além do custo anual de US$ 100 milhões para mantê-los em condições de voo.
Em 12 de fevereiro de 2012, o YAL-1 Airborne Laser Testbed fez seu último voo, em translado para o “cemitério” do 309th Aerospace Maintenance and Regeneration Group (309th AMARG), na Base Aérea de Davis-Monthan, em Tucson, Arizona. Seus componentes reutilizáveis foram removidos para a frota operacional e, em setembro de 2014, o único Boeing YAL-1 da USAF finalmente foi desmontado.
Além dos altos custos, o Boeing YAL-1 também apresentava outras desvantagens operacionais, e com base na tecnologia disponível na época. Para operar com eficiência, o grande jato teria que estar muito próximo do território inimigo ou contestado, para conseguir destruir um míssil balístico em sua fase de inicial de voo.
Passadas duas décadas, o Departamento de Defesa dos EUA mudou seu foco para o desenvolvimento de veículos aéreos não tripulados (UAV), para suprir suas necessidades de plataformas ABL.
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