Turquia “torce” para que EUA não ceda a pressão dos legisladores. Ancara espera que Washington não caia no “jogo” de alguns legisladores americanos, contrários a possível venda de aeronaves F-16 e kits de modernização para os atuais F-16C/D da Turkish Air Force (TuAF). A declaração veio do Ministro da Defesa da Turquia, depois que a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que restringe a compra turca.
Apesar de haver uma promessa do Presidente Joe Biden, um comitê do Congresso dos Estados Unidos aprovou na semana passada uma medida restritiva, mas que não proíbe totalmente, a venda de caças F-16 ou kits de modernização para a Turquia. Mas sim cria um impasse e dificulta o negócio. A venda só poderia ocorrer se o governo certificasse que isso é essencial para a segurança nacional dos EUA, o que é subjetivo para alguns. A emenda, que será incluída no enorme projeto de lei de gastos militares dos EUA para 2023, chamada Lei de Autorização de Defesa Nacional, foi aprovada por um comitê da Câmara na semana passada.
O ministro da Defesa Hulusi Akar disse no dia 18 de julho, na capital Ancara que as negociações sobre a venda estão em andamento e que a Turquia está acompanhando de perto o processo, acrescentando que as autoridades dos EUA estão cientes da importância da Turquia, membro da OTAN, como aliada na luta contra o terrorismo e a migração.
Como se explica que um legislador e um grupo de pessoas manipulam e desinformam a opinião pública?, disse Akar. “Esperamos que os Estados Unidos não caiam nesse jogo”.
A Turquia e a Grécia, membros da OTAN, estão em desacordo há décadas sobre uma série de questões, incluindo reivindicações de jurisdição marítima no Mediterrâneo e a divisão étnica de Chipre. Eles se acusaram mutuamente de violar o direito internacional.
Ancara interrompeu recentemente as negociações bilaterais com Atenas devido a recentes disputas sobre violações do espaço aéreo e as ilhas do Mar Egeu, e Erdogan interrompeu o diálogo com o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis por fazer lobby contra a venda de F-16 para a Turquia durante uma visita a Washington este ano. Akar descartou quaisquer condições sobre a possível venda dos aviões. “Não deveria haver uma questão condicional de ‘eu vou te dar isso, mas você não vai fazer isso’”, disse ele. “Nosso desejo é que prevaleça o bom senso”.
Uma discussão longa
Em 2007 a Turquia entrou como parceira no Programa JSF (Join Strike Fighter), onde se comprometeu em adquirir uma centena de caças de quinta geração F-35, em um investimento de cerca de US$ 1,4 bilhão. Em 2019 o país foi excluído do Programa JSF, após negociar com Moscou a aquisição de sistemas de defesa antiaérea S-400.
A principal alegação do governo do então presidente Trump, foi que os acordos de defesa com a Rússia poderiam comprometer o Programa JSF, entregando para os russos e chineses dados críticos do caça furtivo F-35. O governo turco considerou o ato arbitrário, e passou a exigir o reembolso dos pagamentos feitos pelos F-35, solicitando que os valores fossem usados para financiar a compra de novos F-16V e kits de retrofit.
Em setembro passado Ancara solicitou a compra de 40 novos caças F-16 Block 70, e aproximadamente 80 kits de modernização para seus caças atuais. O acordo de US$ 60 bilhões é visto como um passo fundamental para consertar os laços estratégicos entre os dois aliados da OTAN.
A pressão feita pelo presidente Racep Tayyip Erdogan em junho, contestando e exigindo garantias da Suécia e Finlândia a seus interesses para poderem entrar na OTAN também foi mal vista. A solução, mediada pelos EUA deu além de garantias aos interesses turcos, a promessa pessoal de Biden da venda dos F-16. Isto gerou polêmicas, e para muitos, foi um golpe contra a Grécia. Vale lembrar que o autor da restrição é o congressista Chris Pappas, um democrata greco-americano de New Hampshire.
O presidente Joe Biden disse que apoia a venda, e seu colega turco, Tayyip Erdogan, disse acreditar que ela será aprovada após as conversas com Biden. Quem levará a melhor?
Fonte: Reuters.
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