Turquia adverte que pode vetar ingresso na OTAN de Suécia e Finlândia. A confirmação da aceitação do ingresso na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) poderá ter novos capítulos e não parece ser favas contadas, como muitos acreditam, pois o presidente turco.
Em 2019, a Turquia bloqueou a adoção de novos planos de defesa para o flanco leste da OTAN até um apoio mais pronunciado de aliados contra organizações “terroristas” curdas, incluindo o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) e seu homólogo sírio, o PYD. Na época, Ancara acabava de lançar uma ofensiva no norte da Síria contra a milícia curda síria [YPG], afiliada ao PYD e apoiada pela coalizão antijihadista liderada pelos EUA. Então, na cúpula da OTAN, realizada em Londres naquele mesmo ano, a Turquia deu a entender haver finalmente levantado seu veto. E com razão: o presidente Recep Erdogan assinou a declaração emitida no final da reunião, que levou Jens Stoltenberg, secretário-geral da Aliança, a declarar que a disputa estava resolvida.
Apenas dois dias após o término da cúpula de Londres, o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, disse em Roma o oposto. “O plano de defesa dos países bálticos e da Polônia não será aprovado se o plano da Turquia, que inclui o reconhecimento do YPG como organização terrorista, também não for aprovado”. Se criou um impasse, sem solução conhecida.
De qualquer forma, Erdogan parece querer usar os mesmos truques de dois anos atrás, desta vez em relação à adesão da Suécia e da Finlândia à OTAN. Assim, após anunciar que se oporia, devido à indulgência destes dois países para com os movimentos curdos e o Fetö, o partido do pregador Fethullah Gülen, a Turquia finalmente levantou o seu veto na cimeira da OTAN, que acaba de ser realizada em Madrid (encerrada dia 30/06), após assinar um memorando no qual Estocolmo e Helsinque se comprometem, entre outras coisas, a lutar “determinadamente e firme contra o terrorismo” e a processar os pedidos de extradição de Ancara “rápida e completamente”.
Erdogan foi elogiado por seu colega americano, Joe Biden, por “consertar a situação em relação à Suécia e à Finlândia”. Como cereja no topo do bolo, a Turquia obteve o apoio da Casa Branca para a aquisição dos caças-bombardeiros F-16V, ao mesmo tempo que em paralelo à Grécia formalizava um pedido de compra de 24 F-35A.
“Devemos vender-lhes os aviões F-16… Preciso da aprovação do Congresso para fazer isso e acho que consigo”, disse Biden. Esta celeuma do F-16 não é nova e vem se arrastando há meses, a reboque da retirada dos turcos do programa F-35, face à compra dos S400 da Rússia.
No entanto, poucas horas após a assinatura do acordo com os dois países nórdicos, a Turquia anunciou que pediria a extradição de 33 pessoas acusadas de terrorismo. “Na Suécia, a lei é aplicada com tribunais independentes. Pessoas não suecas podem ser extraditadas a pedido de outros países, mas apenas se for compatível com a lei sueca e a Convenção europeia de Extradição”, retrucou Morgan Johansson, o Ministro da Justiça sueco. Anteriormente, a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, havia garantido que Estocolmo “cooperaria mais estreitamente com a Turquia em relação às listas de PKK [combatentes, mas que continuaria respeitando a lei sueca e a lei internacional”.
Daí a advertência de Erdogan no final da cúpula de Madri. Se a Suécia e a Finlândia “cumprirem seu dever, enviaremos o memorando ao Parlamento para aprovação, caso contrário voltamos ao estágio anterior. O importante é que as promessas feitas à Turquia sejam cumpridas”, insistiu Erdogan. O assunto ainda poderá render mais e mais situações, mas ainda não afetou de fato a pretensão de ingresso dos dois países nórdicos.
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