Quem é o piloto iraniano do 747 da EMTRASUR retido na Argentina. No último dia 06 de junho, as autoridades argentinas ordenaram a retenção no Aeroporto Internacional de Ezeiza, em Buenos Aires, do Boeing 747-300 da EMTRASUR, empresa cargueira de bandeira venezuelana subsidiária da estatal CONVIASA. A aeronave em questão, anteriormente pertencia à empresa iraniana Mahan Air, que desde fevereiro deste ano repassou para a empresa venezuelana, que já havia realizado dezenas de voos por toda a América Latina.
A retenção do 747 teve origem nos rumores que os seus cinco tripulantes iranianos teriam ligações com a Força Quds, um braço do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC). Uma investigação conduzida pelo jornalista iraniano exilado Babak Taghvaee, autor deste relatório, mostra que o comandante da aeronave, Gholamreza Qasemi é um ex-general da Força Aeroespacial do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, que teve envolvimento direto em voos de cargas para a Síria, com a empresa Fars Air Qeshm, um subsidiária de cargas da Mahan Air. Nesses voos realizados por dois Boeing 747-200 da empresa iraniana, foram transportadas armas e munições.
Voltando ao Boeing 747-300 retido em Ezeiza, antes de ser repassada para a EMTRASUR, ele voava transportando passageiros nas rotas domésticas e internacionais da Mahan Air, sob o registro civil iraniano EP-MND. Em 2021 ele foi foi enviado para o hangar da empresa Fars Co (também conhecida como Fajr Ashian), em Teerã, especializada na manutenção de aeronaves, onde foi convertido para cargueiro durante um check de manutenção pesada (Check D).
Durante a manutenção na Fars Co, em janeiro de 2022, o 747 recebeu as cores da EMTRASUR Cargo, recebendo o registro venezuelano civil YV3531. Após a entrega para o novo operador em fevereiro, a Conviasa e a Mahan Air usaram conjuntamente a aeronave para transportar uma variedade de cargas em todo o mundo, principalmente do Irã para a Venezuela e também do México e outros países para a Venezuela.
Um ex-funcionário da Mahan Air, falando sob anonimato para o autor sobre a propriedade do Boeing 747: “A propriedade é da Mahan Air, sendo que a Conviasa apenas o alugou. Não é a única aeronave que a Mahan Air alugou para companhias aéreas nacionais e estrangeiras para operar sob seu Certificado de Operador Aéreo (AOC) do arrendatário. Operando sob o nome de companhias aéreas não sancionadas ajudam a Mahan Air a não enfrentar complicações causadas pelas sanções do Departamento dos EUA.”
Apesar de ser arrendado o Boeing 747-300 para a Emtrasur Cargo/Conviasa, o escritório de relações públicas da Mahan Air e o General Mohammad Mohammadi-Bakhsh, Chefe da Organização de Aviação Civil Iraniana (envolvido nas operações da Força Quds na Síria), negaram as ligações da aeronave com a empresa iraniana.
O ex-engenheiro de voo de Tu-154M da companhia russa Aeroflot, Mehran Jannatseresht, conheceu o Comandante do 747 retido na Argentina, Gholamreza Qasemi, no início dos anos 2000, e falou sobre as ligações dele com o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica:
“Além de ser Engenheiro de Voo de Tu-154M, entre 2005 e 2006 eu era representante da Aeroflot no Irã, onde também fiz alguns voos nas aeronaves de carga Il-76 como engenheiro de voo. Fui apresentado a uma companhia aérea de carga chamada Fotros que operava essas aeronaves. Durante minha visita ao escritório da companhia aérea, conheci o então Brigadeiro do IRCG Gholamreza Qasemi, que na época era o chefe de operações da extinta companhia aérea. Mais tarde descobri que a Fotros era uma empresa de fachada da Força Aérea do IRGC e transportava armas e munições para países africanos e do Oriente Médio!”
O engenheiro russo também falou quando conheceu Qasemi, ele era muito popular entre os tripulantes de Il-76 (civis e militares). O motivo da sua popularidade foi um ato de bravura que salvou um Il-76TD da Força Aérea do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, em 24 de fevereiro de 2002, que estava com fogo na asa e motores. Qasemi relembrou sua memória do incidente durante uma entrevista com Jornal Quds, quando ainda era Coronel da Força Aeroespacial do IRGC. Sua entrevista ainda pode ser encontrada online AQUI.
Um dos quatro motores do Il-76TD, matrícula 15-2281, pegou fogo cinco minutos após decolar do Aeroporto de Mashhad, quando cruzava o nível de voo de 24.000 pés. Qasemi acionou o extintor de emergência do motor, mas não conseguiu suprimir o fogo, resultando em sua propagação para a asa. Como resultado, o motor desprendeu da asa e caiu em uma fazenda. Para salvar a aeronave e seus 230 passageiros, Qasemi disse que “decidiu voar diretamente para uma nuvem de chuva, desligando o sistema anti-gelo da aeronave e usar a chuva e o granizo para apagar o fogo”. Seu truque funcionou e o pouso de emergência foi realizado com sucesso em Mashhad.
Graças ao incidente de 2002, Qasemi foi rapidamente promovido e designado para as operações externas e comerciais da Força Aérea do IRGC a partir da Fotros Airlines. Após sua aposentadoria do IRGC em 2009, com o posto de Brigadeiro-General, ele ingressou na Mahan Air, como supervisor de operações de carga.
Em 2016, Qasemi deixou temporariamente a Mahan para assumir o controle da Iran Naft (Oil) Airlines como gerente geral, mas retornou à Mahan Air mais tarde, onde continuou voando nos Boeing 747-200B cargueiros da Fars Air Qesh. Qasemi também se ofereceu principalmente para voar para a Síria e Etiópia, durante os quais as duas aeronaves da Fars Air Qeshm muitas vezes também transportam armas vendidas pelo Ministério da Defesa iraniano.
Fonte: Israel Hayon
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