Um dos mais famosos esquadrões de caça franceses, criado durante a II Guerra Mundial, o EC 2/5 “Île-de-France” completou 80 anos de operações ininterruptas a serviço da França em 2021. Dentro dos próximos meses, ele será inativado, aguardando um futuro reequipamento com os caças Dassault Rafale. Esta é a sua história.
Rudnei Dias da Cunha
Em 22 de junho de 1940, a França se rendia à Alemanha, após seis semanas de intensos combates, nos quais a Blitzkrieg alemã se mostrou imbatível. No entanto, se a França se rendia, alguns de seus mais valorosos soldados, marinheiros e aviadores se recusaram a depor suas armas. Não aceitando as negociações de paz entre os governos francês e alemão, o General Charles de Gaulle fugiu para a Grã-Bretanha e, lá, no dia 18 de junho, fez um discurso, autorizado pelo primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, no qual conclamava a todos os militares franceses que se reunissem a ele, em Londres, para continuarem a luta, ao lado dos Aliados, contra a Alemanha Nazista.
Vários voluntários atenderam ao apelo e, em julho de 1940, as Forças Aéreas Francesas Livres (FAFL) tinham um contingente de 500 militares, incluindo voluntários de ascendência francesa vindos do Uruguai, Argentina e Chile. Em 1941, já sob o comando do Coronel Martial Henri Vallin (que havia servido na missão militar francesa no Rio de Janeiro, entre 1940 e 1941), as FAFL tinham 900 militares, com 276 deles servindo em diferentes esquadrões da Royal Air Force (RAF), em território britânico.
Em fins de 1941, após negociações com o governo britânico, foi autorizada a criação de um esquadrão de caça formado por pessoal francês livre, todos pertencentes à reserva voluntária da RAF. Em 20 de outubro de 1941, de Gaulle baixou um decreto, prevendo a criação de uma esquadrilha de caça – “Air-Marine” (da força aérea e da aviação naval). Assim, no dia 7 de novembro, foi formado o Esquadrão Nº 340 (Francês Livre) da RAF, na base aérea de Turnhouse, na Escócia. No âmbito das FAFL, esse esquadrão foi conhecido inicialmente como Group de Chasse “Air-Marine” e, posteriormente, como GC IV/2 “Île-de-France”, em referência à região metropolitana de Paris.
Seu primeiro comandante foi o Squadron Leader Keith Temple Lofts, britânico, de novembro de 1941 até 31 de janeiro de 1942, quando foi substituído pelo Capitão-de-Corveta Philippe de Scitivaux, veterano da Batalha da Inglaterra. O esquadrão era composto por duas esquadrilhas, “A” e “B”, como era costume nos esquadrões da RAF – elas foram batizadas de “Paris” e “Versalhes”. Seus primeiros pilotos, comandados pelo Capitão de Scitivaux, serviam, até então, no Esquadrão Nº 615 (Condado de Surrey) da RAF. Para os leitores que conhecem as obras “O Grande Circo” e “Fogo nos Céus”, de Pierre H. Clostermann, é interessante notar que pilotos como René Mouchotte e Jean Maridor estavam entre os primeiros integrantes do “Île-de-France”.
Equipado com o Spitfire Mk. IIA, o esquadrão foi declarado operacional no dia 29 de novembro e passou a voar patrulhas defensivas até ser movimentado para o sul da Grã-Bretanha, em abril de 1942, a fim de participar de varreduras ofensivas de caça sobre o norte da França, sendo reequipado com os Spitfire Mk. VB e Mk. IXB, nesse período. Em 19 de agosto, o esquadrão participou das missões durante o desembarque anglo-canadense em Dieppe. Em março de 1943, o esquadrão foi transferido novamente para a Escócia, para um período de descanso e treinamento. Em novembro, foi transferido para Perranporth, no sudoeste da Grã-Bretanha, para realizar missões de varreduras ofensivas de caça e de interdição a alvos navais na costa da Bretanha, na França. Em abril de 1944, ele se juntou à Ala Nº 145 da Segunda Força Aerotática (2 TAF), participando ativamente das missões em apoio aos desembarques na Normandia. Em 19 de agosto de 1944, o esquadrão passou a operar da pista de pouso B.8 em Sommervieu, na Normandia.
Acompanhando o avanço das tropas britânicas, em setembro, o esquadrão passou a operar desde Lille/Vendeville, na Bélgica. Em 2 de novembro, o esquadrão foi transferido de volta à Grã-Bretanha, realizando missões de escolta a bombardeiros desde a famosa base aérea de Biggin Hill. Depois de um período de sete semanas para descanso e recompletamento na Escócia, o esquadrão voltou a integrar a 2 TAF a partir de fevereiro de 1945. Reequipado com o Spitfire Mk. XVI, o esquadrão operou desde a base de Wevelghem, nos Países-Baixos, realizando varreduras ofensivas de caça, até o final da guerra. O Esquadrão Nº 340 alcançou 35 vitórias, seis prováveis e 35 danificados em combates aéreos, tendo perdido 73 pilotos. Recebeu inúmeras condecorações coletivas, incluindo a “Ordem da Libertação” e a “Cruz de Guerra 1939-1945 com Palma de Prata”.
Entre maio e novembro de 1945, o esquadrão participou de missões de patrulha como força de ocupação, operando desde a base de Fassberg, na Alemanha. Em 20 de novembro, o esquadrão deixou de responder ao comando das Forças Aéreas Francesas na Grã-Bretanha, de acordo com a Ordem Geral Nº 540, na qual se lê, ao fim: “Na hora de nossa separação, lhes digo solenemente que, durante quatro anos, vocês foram a esperança da França e, hoje, são seu orgulho”.
Em 25 de novembro, o esquadrão foi desativado na RAF e o GC IV/2 “Île-de-France” foi transferido ao controle do Armée de l’Air francês. Os Spitfire Mk. XVI continuaram a ser utilizados até maio de 1946, quando o esquadrão recebeu os Bell P-63 Kingcobra. Em julho de 1947, o grupo passou a integrar a 5ª Esquadra de Caça. Dois anos após, o grupo passou a realizar missões de ataque ao solo em apoio às forças francesas, combatendo o Viet Minh, na Indochina Francesa, até janeiro de 1951.
Em março daquele ano, o grupo recebeu a designação de Escadron de Chasse (EC) 2/5 – “Île-de-France”; sediado na Base Aérea Nº 115 Orange-Caritat, o esquadrão entrou na era da aviação a jato, operando os de Havilland Vampire. Em 1954, os Vampires foram substituídos pela sua versão produzida sob licença na França, os SNCASE Mistral. Em 1957, os Mistrais foram substituídos pelos Dassault Mystére IIC e pelos Mystéres IVA. Quatro anos após, o EC 2/5 recebeu os Dassault Super-Mystére B.2.
O esquadrão entrou na era supersônica em novembro de 1966, quando os magníficos Dassault Mirage IIIC foram recebidos. A partir daí, começou a longa associação do esquadrão com os caças Mirage. Em 1975, o EC 2/5 recebeu os Mirage F-1C e, em abril de 1989, foram recebidos os primeiros exemplares dos Mirage 2000C.
Em setembro de 1992, o EC 2/5 foi a primeira unidade aérea francesa a participar das missões para manter a zona de interdição de voo sobre o Iraque, operando desde a Arábia Saudita. Missões do mesmo tipo foram montadas pelo esquadrão sobre a Bósnia, entre abril de 1993 e dezembro de 1995, no âmbito da Operação “Deny Flight”.
Formado por duas esquadrilhas desde 1945, denominadas Paris (1ª) e Versalhes (2ª), em 1998, o EC 2/5 recebeu uma terceira esquadrilha, denominada Vincennes. No âmbito de um processo de padronização da composição dos esquadrões da Força Aérea Francesa, essa esquadrilha adicional foi formada após o EC 2/5 passar a ser o esquadrão de conversão operacional da força aérea francesa, tendo recebido os Mirage 2000B para dar a instrução de voo aos novos pilotos, oriundos das escolas de formação. O esquadrão continuou, no entanto, com a tarefa de defesa aérea, operando os seus Mirage 2000C, equipados com o radar RDM (posteriormente, receberam o modelo RDI, de maior alcance).
Em 2005, as duas primeiras esquadrilhas foram redesignadas, passando a homenagear as esquadrilhas de tradição C 46 “Trident” (1ª), SPA 84 “Tête de renard” (2ª); em 2008, foi a vez da 3ª Esquadrilha, redesignada como SPA 124 “Jeanne d’Arc” – todas dos tempos da I Guerra Mundial.
Siga-nos no Twitter @RFA_digital
@CAS