China quer fechar pacto de segurança com as Ilhas Salomão. Um acordo de cooperação na área de segurança revelado na última semana, onde as Ilhas Salomão podem permitir que soldados e policiais chineses sejam implantados no país do Pacífico Sul. O projeto levanta outras perspectivas, como a de construção de base naval do People’s Liberation Army Navy (PLAN) ou Marinha do Exército de Libertação Popular do China no Pacífico Sul, que abriria as portas para estabelecer uma base militar do país asiático na região.
O rascunho do acordo, que vazou na quinta-feira dia 24 de março, o qual fontes ligadas ao jornal Financial Times disseram ser autêntico, dará à China uma posição militar privilegiada no Oceano Pacífico. O acordo incluía cláusulas de que os navios do PLAN seriam protegidos pelo pessoal de segurança chinês, quando atracassem nas Ilhas Salomão. Na prática, o porto seria um território Chinês no Pacífico Sul.
As forças chinesas também podem ser chamadas para controlar “agitações sociais” no país e proteger o pessoal e os projetos chineses. A China enviou 10 policiais para as Ilhas Salomão no ano passado após tumultos na capital Honiara, desafiando o papel tradicional da Austrália como provedora de assistência de segurança do país. Rory Medcalf, chefe do National Security College da Australian National University, descreveu o documento preliminar como sintomático do “colonialismo do cinturão e rota do império do Indo-Pacífico da China”. Karen Galokale, secretária permanente do Ministério da Polícia, Segurança Nacional e Serviços Correcionais nas Ilhas Salomão, disse à Reuters que o acordo militar seria enviado ao gabinete do país insular para discussão.
O rascunho vazou por um assessor de Daniel Suidani, primeiro-ministro de Malaita, a província mais populosa das Ilhas Salomão, que criticou ferozmente a decisão do primeiro-ministro Manasseh Sogavare de mudar as relações diplomáticas de Taiwan para a China em 2019. Analistas de segurança disseram que o esboço sugere que a marinha chinesa pode ter uma presença permanente no Pacífico Sul , uma área de crescente interesse estratégico para Pequim, onde sua presença militar é observada com preocupação pelos EUA, Austrália e Nova Zelândia.
Os Estados Unidos informaram que em fevereiro que abririam uma embaixada nas Ilhas Salomão como parte de sua campanha para combater a influência chinesa no Pacífico, enquanto a Austrália aumentou sua atividade econômica na região nos últimos meses, incluindo a nação insular de Nauru, onde concordou em fornecer financiamento para um novo aeroporto.
A Austrália enfureceu a China em setembro do ano passado, quando formou uma parceria militar conhecida como Aukus para construir submarinos nucleares com os EUA e o Reino Unido. O pacto foi projetado para combater a assertividade militar chinesa na região da Ásia-Pacífico. O pacto de segurança de Pequim com Honiara vem na esteira de um maior envolvimento econômico chinês com as Ilhas Salomão.
Pouco depois de Pequim estabelecer laços diplomáticos com a nação insular há três anos, uma empresa chinesa negociou um arrendamento de 99 anos de Tulagi, uma ilha com um porto natural de águas profundas. O acordo foi bloqueado por Honiara, mas foi visto por autoridades americanas e australianas como uma tentativa de garantir um local para uma potencial base naval no Pacífico em um momento de crescente tensão na região.
Analistas se perguntavam se o novo esboço do acordo ressuscitaria essa tentativa. “Isso levanta a questão de saber se os militares chineses poderiam estabelecer uma base logística lá”, disse Anna Powles, do Centro de Estudos de Defesa e Segurança da Universidade Massey, na Nova Zelândia. Também havia preocupação com a linguagem vaga no projeto de acordo sobre quais tipos de forças a China poderia enviar e com que finalidade.
Um político das Ilhas Salomão crítico do governo disse que o acordo proposto não reforçaria a segurança do país. “Isso beneficia apenas o governo porque eles podem chamar os chineses”, disse ele, “mas tememos que isso possa prejudicar a estabilidade aqui”.
O fato é que esta articulação chinesa, no mínimo visa colocar as Ilhas Salomão sob a esfera de sua influência, em um local as portas da Austrália e de Papua Nova-Guiné e um ponto estratégico para outros países como a Nova Zelândia e os EUA (Havaí). Isto, no mínimo vai criar mais tensão na região indo-pacífico, algo que nos últimos anos só vem crescendo, inclusive com visível reforço militar. Outro ponto importante é que uma vez “autorizado” a se estabelecer nas Ilhas Salomão, o próximo passo poderá ser criar, além de uma base naval, mais instalações militares, incluindo uma base para aeronaves, o que pela tradução chinesa pode ser feito em pouquíssimo tempo.
@CAS