Ucrânia: indústria aeronáutica avalia sanções aos negócios com a Rússia. Após a invasão do território ucraniano, a Rússia está sendo submetida à inúmeras sanções da comunidade internacional. As ações estão sendo impostas em todos os campos sócio-econômicos do país, e afetam desde o governo, instituições e indivíduos, bem com as suas negociações com o exterior.
No âmbito do setor da indústria de aviação, as restrições de sobrevoo de aeronaves russas em diversos espaços aéreos pelo mundo, especialmente na União Européia (UE), foram imediatamente sentidas. Porém, ainda é cedo para que as fabricantes de aeronaves, empresas de leasing internacionais e fornecedores de componentes aeronáuticos, avaliem as sanções nos seus mercados.
A Comissão Europeia divulgou sanções na sexta-feira (25), que proíbem a venda e o comércio de aeronaves e peças de aeronaves para companhias aéreas russas, seja por fabricantes, fornecedores ou empresas de leasing de aeronaves. O impacto dessas sanções sobre a Airbus e a Boeing ainda não está claro.
A fabricante europeia Airbus monitora de perto a situação na Rússia, mas diz que é muito cedo para comentar os efeitos das sanções impostas pela Comissão Europeia. Em comunicado por e-mail à AirInsight, um porta-voz da empresa disse: “Estamos monitorando a situação de perto com nossos parceiros, clientes e fornecedores. É prematuro comentar em detalhes sobre o impacto dessas sanções em nossa indústria, mas cumpriremos integralmente todas elas e as leis aplicáveis, assim que entrarem em vigor.”
A Airbus tem diversos negócios com empresas russas, que operam um grande número de aeronaves do fabricante europeu por meio de leasing. A companhia aérea Aeroflot, por exemplo, tem encomendado 22 Airbus A350-900, sendo que nove já foram entregues, incluindo a aeronave recebida na noite de 24 de fevereiro, data do início da invasão à Ucrânia.
As sanções proibirão as entregas dos A350 restantes para a Aeroflot, incluindo as aeronaves que já foram produzidas, como as: número de série (MSN) 457 (primeiro voo em 26 de outubro de 2021), MSN 463 (15 de novembro), MSN 466 (21 de janeiro de 2022), MSN 471 (15 de fevereiro), além do MSN 493, que ainda não realizou seu primeiro voo.
Além desses jatos intercontinentais, cerca de quarenta aeronaves da família A320neo de propriedade de empresas de leasing estão arrendadas para companhias aéreas russas como a S7 Siberia Airlines e Smartavia.
A AerCap, maior empresa de leasing de aeronaves do mundo, possui cerca de 149 aeronaves arrendadas para companhias aéreas russas. A empresa disse que cumprirá integralmente as sanções da UE e cessará as atividades de leasing com as companhias da Rússia. Aproximadamente cinco por cento da sua frota está alugada para companhias aéreas como Aeroflot e S7. Outras empresas de arrendamento de aviões como a SMBC e a ALC também têm carteiras de dois dígitos na Rússia.
Além do arrendamento e venda de aeronaves, está proibido o comércio de peças de reposição para manutenção, o que envolverá não só o fabricante, mas uma grande cadeia de fornecedores. Uma dessas empresas é a russa VSMPO-AVISMA, fornecedora de componentes de alumínio e titânio, que é 25% de propriedade da corporação estatal Rostec. No último dia 19 de janeiro, a VSMPO-AVISMA renovou seu contrato com a espanhola Aernnova Aerospace, para fornecimento até 2028 de peças de estampagens de titânio para o Airbus A350. “Os riscos geopolíticos estão integrados em nossas políticas de fornecimento de titânio. Estamos, portanto, protegidos a curto e médio prazo”, informou a Airbus.
A VSMPO-AVISMA não produz apenas peças para a Airbus, mas também para Boeing, Embraer, Safran, Rolls-Royce, General Electric e Pratt & Whitney, com o fornecimento de componentes para motores aeronáuticos e turbinas a gás.
Durante o Dubai Airshow de novembro passado, a VSMPO-AVISMA e a Boeing anunciaram uma extensão da joint venture Ural Boeing Manufacturing. Um Memorando de Entendimento cobriu o fornecimento de titânio dos atuais e futuros programas de aeronaves comerciais, incluindo o 737MAX, 767, 777/777X e 787, tornando a empresa russa a maior fornecedora de peças de titânio para a Boeing. As duas empresas também trabalhariam juntas em novas ligas e tecnologias. Em um comunicado à imprensa na época, o CEO da Boeing Commercial Airplanes, Stan Deal, descreveu a VSMPO-AVISMA como “um parceiro confiável e valioso da Boeing por quase 25 anos”.
A Boeing tem 34 aeronaves encomendadas por companhias aéreas russas, incluindo 28 737MAX para UTAir e seis 777F para Volga-Dnepr UK. A UTAir também tem três 737MAX 8 encomendados através do Aviation Capital Group (ACG), que foram estocados após o problema que afetou esse modelo em 2019. A Siberian Airlines S7 recebeu duas aeronaves no final de 2018, com mais treze encomendadas via Air Lease Corporation (ALC) e AerCap. A lista de produção do 737MAX mostra três entregas futuras via ACG para a Nordstar Airlines, além de três para a Ural Airlines, via Sberbank Leasing. Este banco está nas listas de sanções dos EUA e da UE. A Rússia é o único país que ainda não retomou a certificou o 737MAX.
A Embraer informou que não será afetada com o bloqueio dos suprimentos de titânio russos: “Não esperamos ser impactados. Enquanto observamos a situação de perto, não temos preocupações atuais e temos grandes estoques”, disse um porta voz da fabricante brasileira.
Fonte: Air Insight Group
Siga-nos no Twitter @RFA_digital
@FFO