A USAF não deu muitos detalhes sobre o novo problema técnico do Boeing KC-46 durante uma declaração pública no final de março, limitando-se a dizer que um relatório classificou e atualizou “uma deficiência existente do sistema de combustível KC-46 Pegasus para a Categoria I”. É mais um capítulo da senda de problemas do KC-46. Desta vez a deficiência aponta para vazamentos no sistema de combustível, um problema pode causar risco a tripulação, perda da aeronave, tornar a aeronave incapaz de cumprir sua missão. O escritório do Programa KC-46 identificou pela primeira vez vazamentos excessivos de combustível em julho de 2019, após um teste de reabastecimento aéreo. A Boeing por sua vez limitou-se a uma declaração por um porta-voz:
“A Força Aérea dos EUA descobriu várias aeronaves KC-46 exigem reparos no sistema de combustível”.
De acordo com o contrato, a fabricante deve usar seu próprio dinheiro para corrigir esse problema. Esta é a quinta deficiência de Categoria 1 do programa KC-46. A mais recente havia sido anunciada em setembro de 2019 e referia-se ao desbloqueio das travas da carga no piso da cabine que principal durante os voos, levando a USAF a proibir o avião de transportar carga e passageiros concomitantemente. O problema foi resolvido em dezembro de 2020. Porém o maior problema do KC-46 é o sistema RVS (Remote Vision System) ou Sistema de Visão Remota, cujos sensores e câmeras impedem a adequada visão da área de reabastecimento por parte do operador, criando um ponto “cego”, que pode gerar a colisão da lança de reabastecimento com a aeronave receptora. O chefe do Estado-Maior da Força Aérea, David Goldfein, admitiu no Comitê de Serviços Armados do Senado em março de 2020, que por causa de “problemas profundos”, o KC-46 não entraria em serviço operacional, a menos que fosse necessário em uma “luta de alto nível”. Em outras palavras: um conflito com a Rússia ou a China.
Para tentar minimizar o problema a USAF concedeu em 31 de março de 2020 um crédito retido de US$ 882 milhões à Boeing para ajudar o seu fluxo de caixa, muito afetado pelas consequências da pandemia de coronavírus e pelos prejuízos causados pelo 737 Max. O crédito visa dar fôlego a empresa e ajudar ela a prover uma solução a câmera do RVS e os vazamentos do sistema de reabastecimento do KC-46A. Os US$ 882 milhões retidos referem-se a um saldo das 33 primeiras aeronaves entregues até fevereiro de 2020. Quando a USAF concordou em receber o primeiro KC-46, em janeiro de 2019, deixou claro para a Boeing que face aos problemas e atrasos, manteria uma parcela de no máximo US$ 28 milhões por aeronave – cerca de 20% da soma total devida à Boeing, como garantia.