A Marinha do Brasil dispõe de um dos mais modernos inventários de mísseis antinavio de todo o continente sul-americano. Nos últimos anos essa capacidade foi demonstrada por meio de campanhas de lançamentos reais contra alvos designados especificamente para os exercícios e, até mesmo, em cascos de antigos navios descomissionados da Esquadra. Acompanhe essa trajetória.
João Paulo Moralez
A Aviação Naval da Marinha do Brasil (MB) é uma das mais bem equipadas de todo continente sul-americano. Tendo a sede do Comando da Força Aeronaval na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia/RJ, os últimos anos foram marcados por uma forte renovação e modernização de vários dos seus meios aéreos, principalmente, aqueles com capacidades ofensivas e essenciais para o contexto da Guerra Naval.
A aquisição de seis Sikorsky S-70B Sea Hawk (SH-16 na Aviação Naval) e de quatro Airbus Helicopters H225M na versão naval com capacidade de ataque com mísseis Exocet (AH-15B), são exemplos dos saltos de operacionalidade para missões de guerra antissubmarino (ASW) e antinavio (ASuW). Para o segundo contexto, dois mísseis fazem parte do acervo de armamentos da Marinha do Brasil, sendo o Kongsberg AGM-119B Mk 2 Mod 7 Penguin e o MBDA Systems AM39 M2B2 Exocet. Ambos são capazes de negar o mar para uma força-tarefa inimiga e tirar de operação, ou afundar, modernos navios no âmbito de um conflito.
Mas, dispor do binômio helicóptero-míssil não é suficiente se as tripulações não estiverem devidamente treinadas para a operação desses sistemas de armas em ambiente real, explorando toda a extensão do envelope e desenvolvendo doutrinas adequadas ao contexto brasileiro, e que vão além do que está escrito nos manuais. Por essa razão, quase que anualmente, desde 2014, a MB realiza disparos de mísseis buscando essa excelência.
A chegada dos primeiros Sikorsky S-70B Seahawk para o 1º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (HS-1) da MB em agosto de 2012 introduziu um novo tipo de armamento no inventário da Esquadra – o AGM-119B Mk 2 Mod 7 Penguin.
Com peso de 385 kg incluindo a ogiva de 120 kg, tendo 3,06 metros de comprimento e 1,4 metro de envergadura, o Penguin possui alcance de aproximadamente 35 km, atinge velocidade de Mach 1.2 e a sua utilização é ideal contra alvos sem defesa antiaérea ou equipados com sistemas de menor alcance, tendo em vista a necessidade de maior proximidade com o inimigo para efetuar o disparo.
Suas características de peso e tamanho reduzido apresentam menor arrasto e permitem aos helicópteros levarem mais combustível, aumentando a autonomia e proporcionando maior tempo de permanência em voo de patrulha sobre as águas ou alcançando maiores distâncias. Ao contrário de outros tipos de mísseis antinavio, o objetivo do Penguin é danificar a belonave a ponto de tirá-la de operação, em vez de necessariamente afundá-la.
Utilizando navegação inercial na primeira fase do voo, a trajetória é reta e rente à superfície da água. Na fase terminal, o míssil aciona o sensor de busca infravermelho, localizado na parte frontal. Por utilizar um sensor passivo, o alvo não é alertado sobre a iminente ameaça de um ataque antes do lançamento do Penguin, que só poderá ser detectado por meio dos radares embarcados no navio durante a sua rota. Mesmo assim, dada a sua pequena dimensão, é possível que o míssil apareça nas telas de radar segundos antes do impacto, diminuindo as chances de defesa do oponente.
O mesmo não acontece com os mísseis guiados por radar ativo, cuja emissão do radar de bordo da aeronave é detectada pelas antenas de Radar Warning Receiver (RWR) do sistema de guerra eletrônica (ESM) do alvo antes de ser disparado, dando margem para que os seus tripulantes adotem manobras evasivas e acionem as contramedidas eletrônicas.
Enquanto o Exocet é mais usado para atacar navios em mar aberto, necessitando da compilação mais otimizada de dados táticos do ambiente operacional, e cujo retorno da emissão de radar do seu sistema de guiagem pode sofrer interferências, caso haja algum terreno no entorno, o Penguin se mostra ideal para um contexto próximo ao litoral devido à guiagem por infravermelho. Até a recente entrada em serviço ativo do AH-15B (H225M), as missões de ataque com mísseis antinavio caberiam ao S-70B Sea Hawk, utilizando o Penguin.
Amplamente provado em situações reais de combate, o Sea Hawk da MB é equipado com datalink; comunicação via satélite; cockpit digital compatível com uso de óculos de visão noturna, com quatro telas principais multifuncionais e coloridas de 20,3 x 25,4cm; e FLIR Raytheon AN-AAQ-44, com alcance de até 40km, fornecendo imagens convencionais coloridas (TV) ou por infravermelho.
O radar é o de abertura sintética Telephonics APS-143 com alcance de 400 km, varredura de 360º, alcance de detecção de 370 km para alvos maiores, como navios de guerra, 111 km para os de porte médio e 65 km para pequenas embarcações. O radar possui um modo Inverse Synthetic Aperture Radar (ISAR), onde o efeito doppler exibe uma imagem da silhueta do alvo fazendo com que a tripulação faça a identificação do tipo de navio, seja ele civil ou militar, e de sua classe. A sua operação é otimizada para localizar alvos mesmo em condições meteorológicas adversas.
O primeiro emprego do Penguin no Brasil foi em 10 de dezembro de 2014 quando um míssil Penguin foi disparado contra um alvo montado no mar. Tratava-se de um contêiner com um refletor de radar e calor gerado internamente para atrair o míssil. O teste, que foi um sucesso, envolveu o N-3034 que decolou do Navio de Desembarque Doca Ceará (G-30) e serviu para a MB colher dados de telemetria.
Já em 12 de abril de 2016 foram dois disparos contra o casco da ex-corveta Frontin (V-33), realizados por dois Seahawk.
Em 25 de julho de 2017, mais uma vez um SH-16 foi empregado para contribuir no afundamento do casco da ex-fragata Bosísio (F-48). Na sequência, em 12 de setembro de 2018, foi a vez do casco do ex-navio tanque Marajó (G-27) ser impactado por um míssil Penguin disparado pelo Seahawk N-3036.
Em 2019 foram dois lançamentos contra o casco da ex-corveta Inhaúma (V-30) em 18 de junho e contra o casco do ex-rebocador de alto mar Tridente (R-22) em 10 de julho.
O sétimo e mais recente emprego do Penguin foi contra o casco da ex-corveta Jaceguai (V-31) pelo Seahawk N-3033 que decolou, em 24 de junho de 2021, do Navio Doca Multipropósito Bahia (G-40). O voo do míssil durou um minuto e quarenta segundos e, seguindo os casos dos demais lançamentos, foi um sucesso.
@CAS