F-35A para a Suíça sofre inflação de 20%. A compra dos 36 Lockheed Martin F-35A por parte da Suíça, divulgada no meio deste ano, ganhou mais um desafio esta semana. Além de uma investigação por uma comissão do Swiss Parliament, que visa investigar “a legalidade do procedimento de avaliação da escolha de novas aeronaves de combate da Suíça” – o que pode culminar em um plebiscito pela compra ou não dos caças, um novo item entrou na equação: preço. Isto porque foi anunciado que os custos iniciais subiram 20% do originalmente planejado, face a “projeção da inflação em uma década”.
Em 30 de junho, após uma licitação no âmbito do programa Air 2030, a Suíça anunciou sua intenção de adquirir 36 aeronaves F-35A Lightning II da Lockheed-Martin por CHF 5,068 bilhões (US$ 5,4 bilhões), bem como cinco baterias de defesa aérea Raytheon Patriot por CHF 1,97 bilhões (US$ 2,16 bilhões). Os F-35 substituirão os atuais Northrop F-5E/F e Boeing F/A-18C/D.
Naturalmente estes números foram da época da proposta (RFP – Request for Proposal) em fevereiro de 2021.No momento do anúncio, o Departamento Federal de Defesa, Proteção Civil e Esporte [DDPS – Department of Defence, Civil Protection] afirmou que a oferta da Lockheed-Martin, levando em consideração a compra das 36 aeronaves e seus custos operacionais em 30 anos seria CHF 15,5 bilhões (US$ 16,74 bilhões). Isso era cerca de CHF 2 bilhões (US$ 2,16 bilhões) a menos do que o segundo lance mais baixo.
Além de custos, DDPS afirmou que a escolha do F-35A foi por ele ser “mais eficaz” que seus concorrentes – Dassault Rafale, Eurofighter Typhoon e o Boeing F/A-18E/F. Porém, na hora de formalizar o contrato, foi informado pelo Departamento de Estado Americano que os valores anunciados estavam defasados. O novo valor para os 36 F-35A é de CHF 6,035 milhões, isto é, quase 20% de acréscimo, fruto da previsão de inflação prevista até 2031 data da entrega final das aeronaves.
A priori, essas previsões de inflação futura não afetam as cinco baterias Patriot, pois seu preço de compra quase não mudou desde junho passado, passando de CHF 1,970 para CHF 1,987 bilhões de francos suíços.
O contrato prevê que se os custos operacionais do F-35A “forem maiores do que o esperado até 2031, os Estados Unidos terão que cobrir os valores excedentes”. Após essa data, o DDPS pagará a diferença. Mas o departamento calculou os custos de forma muito conservadora. Além disso, os custos operacionais tendem a diminuir. A operação relativamente simples do F-35A faz com que o treinamento seja modificado e que a relação entre horas de voo e horas do simulador mude, pois o F-35A “requer 20% menos horas de voo do que outros candidatos e quase 50% menos do que o F/A-18 Hornet.”
Apesar do aumento esperado em quase 20%, os números apresentados pela Suíça são surpreendentes. A Noruega, por exemplo, tem que pagar quase € 9,5 bilhões (CHF 9,88 bilhões) por 52 F-35A, com um custo operacional geral de € 24 bilhões (CHF 25,49 bilhões) em 30 anos. “Ou a Suíça subestima seus custos ou a Noruega paga muito”. No caso a proporção seria que cada F-35 na Noruega custaria € 395 milhões ao passo que na Suíça € 161 milhões em média.
Por enquanto, as Cartas de Ofertas e Aceitação [LOA – Letter of Acceptance] dos F-35 e Patriot são unilateral, ou seja, só foram assinadas pelos Estados Unidos. Esses contratos entrarão em vigor assim que a Suíça os assinar. Mas antes é muito provável que o governo suíço terá que convencer o eleitorado em um plebiscito, que será realizado se a oposição conseguir protocolar no parlamento um pedido de consulta popular com mais de 100.000 assinaturas, algo que parece bem provável.
Além da oposição, uma comissão parlamentar vai examinar a “legalidade” do procedimento que levou à escolha do avião Lockheed-Martin. E estes aumentos de custos, certamente serão munição contra o F-35, que poderá ter o mesmo destino do Gripen E em 2014.
Vale lembrar no entanto, que já houve um plebiscito em setembro de 2020, onde a população aprovou a compra de um novo caça pelo projeto Air 2030. É bem verdade, que a aprovação foi por margem mínima, o que “alimenta” a oposição a favor de uma nova consulta popular, onde exercerá forte pressão para um veto.
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