Pilotos chineses estão treinando contra aeronaves com IA. Pilotos de caça da PLAAF (People’s Liberation Army Air Force) ou Força Aérea do Exército de Libertação Popular da China têm efetuado treinamentos simulados contra aeronaves pilotadas por inteligência artificial para aumentarem as habilidades de combate.
O piloto Col Fang Guoyu, comandante de um Brigada da PLAAF e um caçador reconhecido por seus pares por suas habilidades, foi recentemente “abatido” por um adversário pilotado por IA em uma simulação de combate ar-ar, de acordo com o Diário do Exército de Libertação do Povo , o jornal oficial dos militares chineses. Conhecido “AI Blue Army” o simulador está localizado no Centro de Treinamento de Simulação da PLAAF.
Segundo Feng Gooyo, no início do treinamento foi fácil derrotar o “AI Blue Army”. Mas com cada rodada de combate, a IA foi aprendendo com seu oponente humano. Depois de um combate aéreo que Fang venceu empregando táticas complexas sistema de AI processou, aprendeu e usou a mesma tática contra ele, derrotando-o.
“É como um piloto digital com um Capacete Dourado’ que se destaca em aprender, assimilando, revisando e pesquisando e aperfeiçoando as táticas de combate”, disse Fang. Para a PLAAF a IA está cada vez mais sendo incorporada ao treinamento. O AI Blue Army é “hábil no manuseio da aeronave e toma decisões táticas perfeitas”, sendo uma ferramenta útil para “afiar a espada” porque força os pilotos chineses a serem criativos.
A mídia chinesa não ofereceu detalhes sobre o simulador, que está sendo desenvolvido pelos militares em cooperação com institutos de pesquisa. Por isto, ainda há dúvidas sobre se o adversário dotado de IA oferece treinamento suficientemente realista para preparar os pilotos para lutar com aeronaves tripuladas em um combate aéreo. Se o simulador não for eficiente, ele estará apenas treinando os pilotos para lutar contra a IA, ou seja contra um vídeo-game, o que provavelmente não será o que eles enfrentarão num cenário real.
“Pode haver uma divergência entre a capacidade real em uma batalha aérea contra o que a IA está apresentando, e for esse o caso, pode ser um esforço inútil”, disse Guy Snodgrass, ex-instrutor da USN (TOPGUN) e especialista em inteligência artificial. “Porém se isso acontecer, é muito bom e revolucionará o jeito de pensarmos o treinamento simulado”, completa.
Se o simulador de AI produzir um treinamento de alta fidelidade, ele poderá reduzir o custo do treinamento de combate aéreo, já que ele será capaz de obter um treinamento real a um preço muito inferior do que realmente colocar aviões de verdade no ar, sem o risco e com um fator transmissão de ensinamento superior.
O líder chinês Xi Jinping tem enfatizado repetidamente a necessidade de treinamento de combate realista, incluindo simulações, para ajudar os militares chineses a superar a falta de experiência em combate. Mas não está claro até que ponto sua agenda foi implementada com simuladores que da Força Aérea os pilotos têm usado atualmente. Para muitos analistas a declaração de Xi tem no subtexto um tom de prevenção, face as crescentes tensões entre a China e os Estados Unidos e seus aliados. Um recente relatório do Pentágono afirma que poderá haver até 2035 um embate com a China.
Independentemente de os pilotos estarem aprendendo algo valioso, a lembrança de Fang de seus combates com seu adversário de IA sugere que a IA está aprendendo e ficando melhor a cada dia, embora não esteja claro até que ponto. “IA requer feedback”, disse Guy Snodgrass. “Há várias maneiras da IA aumentar as capacidades ou apoiar os pilotos humanos em combate”, completou.
A China investiu pesadamente em pesquisas de IA e, como os EUA, está considerando maneiras de incorporar a IA em suas aeronaves. Yang Wei, o designer-chefe do J-20, primeiro caça stealth de quinta geração da China, disse no ano passado que a próxima geração da aeronave poderá ter sistemas de inteligência artificial capazes de auxiliar os pilotos em decisões para aumentar a sua eficácia global no combate.
A USAF expressou ideias semelhantes. Steven Rogers, cientista sênior do Air Force Research Laboratory (AFRL), disse em 2018 que os pilotos têm milhares de horas de experiência – “o que acontecerá se eu puder aumentar sua capacidade com um sistema que pode literalmente milhões de horas de treinamento para ensinar?”
Por exemplo, inteligência artificial pode ser usada para monitorar sistemas de aeronaves, reduzindo a saturação de tarefas, especialmente, para aeronaves monoplaces; coletar informações do campo de batalha e lidar com a discriminação e priorização de alvos. A IA pode até mapear trajetórias de voo para minimizar a detecção por meio de análise de espectro eletromagnético.
O próximo passo seria colocar IA em uma aeronave de combate autônoma não tripulada e capaz de tomar decisões, para lutar ao lado de aeronaves tripuladas ou servir como plataformas de guerra em ambientes contestados. Esse é um desafio mais difícil, aparentemente mais distante, mas que está na planilha dos engenheiros.
Os militares dos EUA estão envidando vários esforços para explorar as possibilidades da tecnologia de IA. Em um teste em agosto de 2020, a Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA) da USAF, colocou um algoritmo de IA contra um piloto humano experiente numa arena de combate visual. A inteligência artificial, que já havia derrotado outros “pilotos” de IA em combates simulados e acumulado anos de experiência em questão de meses, alcançou uma vitória impecável, vencendo cinco combates consecutivas sem que piloto humano de F-16 da USAR tenha conseguido acertar o F-16 AI. O objetivo do teste foi avançar os quesitos do programa Air Combat Evolution da DARPA.
“No futuro a IA lidará com as manobras de fração de segundo durante combates dentro do alcance visual, mantendo os pilotos mais seguros e eficazes enquanto orquestram um grande número de sistemas não tripulados em uma teia de combate aéreo esmagador,” informou a DARPA,
Não está claro quanto tempo levará para concretizar está visão de integrar plenamente a AI a aeronaves de combate. Mas, ela nunca esteve tão presente na agenda tecnológica como agora.
@CAS