As forças armadas chinesas tem mais do que o dobro de aviões que o Japão, e tem tirado proveito dessa vantagem numérica. Quase que diariamente, Pequim envia aviões para missões de sondagem na ADIZ (Air Defense Identification Zone) japonesa, provocando a reação do vizinho.
Há muitos anos a Força Aérea Popular da China (PLAAF) mantém incessante pressão sobre a defesa aérea japonesa, invadindo constantemente o espaço aéreo internacional próximo à ilha. Essa movimentação têm causado um significativo aumento no desgaste da frota de caças Força Aérea de Auto-Defesa do Japão (JASDF), por conta dos frequentes acionamentos das unidades de alerta para “espantar” os invasores.
Recentemente o comando da JADSF resolveu mudar a sua estratégia nesse jogo de “gato e rato”, adotando uma política radical: ignorar os aviões chineses!
Até bem pouco tempo atrás, os caças de alerta japoneses eram acionados para interceptar todos os aviões militares chineses que entravam nas suas ADIZ. Agora, a JASDF aciona as unidades QRA (Quick Reaction Alert) apenas quando perceber que as aeronaves militares chinesas atuem de maneira mais provocativas.
A nova política para lidar com os chineses foi tornada pública no início desse mês, pela mídia local. Essa nova orientação está sendo implementada há pelo menos um ano, como mostram os dados divulgados pelo Ministério da Defesa. O pico das ações de interceptação de alvos chineses foi em 2016, quando as aeronaves japonesas foram acionadas 851 vezes. Em 2019, este número caiu para 675 voos, e no ano passado foram “apenas” 331 ações de defesa aérea. Apesar da redução nas missões QRA do Japão, os chineses tem mantido as ações na ADIZ do vizinho.
Para efeito de comparação, em 2019 a OTAN realizou 430 interceptações de aviões russos em toda a sua área de atuação.
A alta taxa de surtidas QRA tem sido um problema para os esquadrões de caças Mitsubishi F-15J da JASDF, que compõem a primeira linha de defesa aérea japonesa. Com cerca de 200 aeronaves contabilizadas, a frota operacional disponível está longe desse número “bruto”. Naturalmente, uma parcela desses aviões está fora de serviço dos esquadrões de caça, por estarem envolvidos treinamentos ou até mesmo, passando por revisões e inspeções pesadas. Na prática, aproximadamente metade da frota de F-15J está disponíveis para os esquadrões de defesa aérea.
O analista do Griffith Asia Institute da Austrália, Peter Layton, disse à CNN no ano passado que “a China quer manter a força aérea japonesa ocupada e reativa, para desgastar as suas aeronaves e manter os tripulantes sob pressão diária. Dessa forma, a vida operacional da frota de F-15J japonesa estaria nas mãos da China”.
A disponibilidade material da frota de F-15 não é o único fator que fez o Japão pensar na nova política de defesa aérea. Ocorre que a a JASDF está em meio a um processo de substituição dos seus caças mais antigos, o que incluirá a metade dos F-15J. Eles serão substituídos por 157 novos e modernos caças Lockheed Martin F-35 Lighting II stealth, e conforme os militares, esse novo vetor não é ideal para missões do tipo QRA, ou alerta.
Para esse tipo de operação, as unidades de defesa aérea necessitam de aeronaves confiáveis, de fácil operação e velozes o suficiente para alcançar os diversos modelos de aviões do inimigo. Segundo os oficiais japoneses, apesar de toda tecnologia embarcada nos modernos Lightining II, essas aeronaves não reúnem as características para atuar em missões QRA. Muito em breve, os novos F-35 irão compor a espinha dorsal da aviação de caça japonesa, levando à consequente redução pela metade da frota de F-15J disponível para missões QRA.
“O F-35 não é adequado para decolagens de emergência [como requer as missões QRA], e será difícil manter o mesmo sistema de defesa aérea como era realizado antes”, disse um integrante do Ministério da Defesa japonês ao Kyodo News.
A decisão de não interceptar todos os aviões militares chineses, não significa que Pequim estará livre para fazer o que quiser no espaço aéreo japonês. De acordo com a nova política, os sistemas de defesa aérea serão baseados na rede de radares em solo, além dos aviões E-767 e E-2 da JASDF, que mantém a vigilância sobre as movimentações chinesas na região, acionando os caças QRA quando julgarem que a situação pode ser crítica.
@FFO