O último dia 06 de janeiro de 2021 registrou os 59 anos do primeiro voo argentino ao Pólo Sul. Naquele dia, no longínquo ano de 1962, dois bimotores Douglas C-47 (DC-3) do Comando da Aviação Naval Argentina, realizaram uma inédita operação no Continente Antártico, com o objetivo de chegar ao ponto mais sul possível, para a confecção de mapas da região.
O planejamento da missão começou quatro meses antes, com a escolha e a preparação das aeronaves e o treinamento dos militares. Foram escolhidos os melhores C-47 da frota, matrículas CTA-12 e CTA-15, pertencentes à da 2ª Esquadrilha de Transporte, que receberam equipamentos de aerolevantamento, fotografia aérea, peças, equipamentos de sobrevivência e operação no gelo, entre outros. Os pilotos foram treinados para voar em condições meteorológicas adversas, os radio-navegadores para traçar rotas em um local completamente sem referências e auxílios externos, os mecânicos para atuar em qualquer tipo de pane, etc. Alguns sobrevoos exploratórios para reconhecimento de parte da rota, foram realizados nos meses anteriores à expedição.
Comandada pelo Capitão de Fragata Hermes Quijada (1P), fizeram parte da expedição o Cap. Corveta Pedro Margalot, o Cap. Corveta Rafael Checchi; o Ten. Navio Jorge Pittaluga (1P), Ten. Fragata Miguel Grondona, Ten. Fragata Héctor Martini, Ten. Fragata Enrique Dionisi e Ten. Corveta José Pérez; Primeiro Subtenente Edmundo Franzoni; Cabo Principal Ricardo Rodríguez; Cabo Principal Elías Gabino e Cabo Primero Raúl Ibasca.
A primeira etapa da missão iniciou em 05 de dezembro de 1961, com um voo doméstico de 2.060 km entre a Base do Comando Naval de Buenos Aires (Ezeiza) e a Estação Naval de Rio Gallegos.
A segunda etapa começou apenas em 18 de dezembro, quando os dois C-47 decolaram ao amanhecer de Rio Gallegos com destino à Estação Aeronaval Jorge Campbell/Base Teniente Matienzo, na Península Antártica, distante 1.600 km. Devido ao peso excessivo de 14.500 quilos, e um forte vento contrário na rota, a velocidade máxima das aeronaves não ultrapassou 115 nós (210 km/h), e o voo levou 08:17 min. Este foi o primeiro pouso na neve da expedição.
A equipe permaneceu na Base Matienzo até o dia 26 de dezembro, quando iniciaram a terceira parte da expedição. O destino era a antiga Estação de Pesquisa Ellsworth, localizada na costa ocidental do Mar de Weddell, à 1.720 km de distância. Ao sobrevoar a Bahia Austral, a Base Ellsworth apareceu como uma pequena mancha escura da branquidão antártica, que gradualmente foi aumentando até que a pista, bem sinalizada, foi avistada e o pouso efetuado sem problemas.
Passados alguns dias monitorando a inconstância do clima da região, a equipe recebeu via rádio o sinal verde da Base Americana Amundsen-Scott, localizada no Pólo Sul. A mensagem informava que a meteorologia estava favorável para a realização do voo, com céu claro e temperatura amena de -32ºC.
Precisamente às 13h05 de 06 de janeiro de 1962, os dois Douglas DC-3 decolaram para a última perna da inédita viagem de 1.370 km, rumo ao extremo sul do planeta. A paisagem monótona era literalmente quebrada por algumas enormes rachaduras na camada profunda de gelo, que em alguns pontos chega a incríveis três quilômetros de espessura.
Ao se aproximarem do destino, por uma falha na troca de informações, os navegadores não receberam o sinal rádio para alinhamento do goniômetro (instrumento de navegação de bordo), que indicaria a proa da pista. Apesar de passarem exatamente sobre a pista duas vezes, sem avistá-la, iniciaram um padrão de buscas conforme haviam treinado.
Eram 20h45 (horário da Argentina) quando o Cap. Margalot, avistou à direta e a 30 milhas, manchas escuras na capa de gelo, que não pertenciam à paisagem natural da Antártica. Imediatamente as aeronaves aproaram o ponto escuro, que minutos depois se apresentou como sendo a Estação Americana no Pólo Sul. A informação foi saudada efusivamente na frequência de comunicação tática entre aeronaves, mas que para surpresa dos tripulantes dos C-47, estava sendo ouvida por vários navios e estações em terra, que saudaram a notícia. O pouso ocorreu alguns minutos depois, sob o olhar alegre dos integrantes da Base Amundsen-Scott.
Para registrar o feito épico, o Capitão Quijada, comandante da missão, entregou uma placa para o administrador da Base Amundsen-Scott, com o seguinte texto: “Da República Argentina à Amundsen-Scott e seus homens, no cinquentenário de sua chegada ao Pólo Sul. Homenagem da Aviação Naval da Armada Argentina em seu primeiro voo ao Pólo Sul”.
@FFO