A empresa turca MilSOFT anunciou no dia 19 de novembro que, após quatro anos de pesquisas, desenvolveu o software com algoritmos de Inteligência Artificial (AI) para ser usado em drones de asa fixa e rotativas.
Um oficial do governo informou que esta tecnologia deverá ser empregada para o chamado “enxame de drones”, um novo conceito de combate aéreo não tripulado que a Turquia vê como viável devido aos seus baixos custos e tecnologia stealth.
“Esses drones podem ser ideais em guerras assimétricas. Eles são rápidos, econômicos e fáceis de operar. Mais importante ainda, eles são projetados para minimizar a perda humana na guerra assimétrica”, informou o representante do governo.
Os militares turcos operam uma grande frota de drones táticos e armados principalmente no combate contra militantes curdos nas províncias do sudeste da Turquia, mas também em operações transfronteiriças no norte da Síria e no Iraque. Seus drones UAV/UCAV como o TAI Anka e o Baykar Bayraktar TB2 foram usados na guerra civil da Líbia e, mais recentemente, no conflito entre a Armênia e o Azerbaijão.
O que aconteceu com a Armênia não foi um momento isolado na história militar, mas sim, um novo tipo de guerra, centrada no uso de veículos aéreos não tripulados. O principal aliado do Azerbaijão na guerra contra a Armênia – a Turquia, vem aperfeiçoando a arte da guerra de drones há anos, com ampla experiência em conflitos modernos em grande escala adquirida em combates recentes na Síria (fevereiro-março de 2020) e na Líbia (maio-junho de 2020). Além disto, está potencialmente abrindo uma nova frente para seus drone na Ucrânia.
Tanto o Exército Nacional da Líbia (LNA) quanto o Governo de Acordo Nacional (GNA), apoiado pela Turquia, fizeram uso extensivo de drones de combate, mas apenas a Turquia trouxe consigo uma abordagem integrada para a guerra de drones. Os observadores se acostumaram ao conceito de drones americanos individuais operando livremente em lugares como Iraque, Iêmen e Afeganistão, lançando ataques de precisão contra alvos terroristas. No entanto, como o Irã demonstrou em maio passado, os drones são vulneráveis aos modernos sistemas de defesa aérea, e as táticas dos drones dos EUA não funcionariam em um espaço aéreo contestado.
O LNA foi apoiado por várias potências estrangeiras, incluindo Egito, Emirados Árabes Unidos e Rússia (via Wagner Group, um empreiteiro militar privado). A intervenção da Turquia deu grande ênfase à guerra integrada de drones, que havia sido aperfeiçoada na Síria. Na Líbia, os resultados foram ainda mais desequilibrados, com a GNA, apoiada pela Turquia, sendo capaz de empurrar as forças do LNA de volta, capturando quase metade do território da Líbia neste processo.
Quando a Turquia começou a cooperar com o Azerbaijão contra a Armênia em setembro de 2020, a guerra de drones turca havia atingido seu apogeu, e o resultado sobre Nagorno-Karabakh estava praticamente garantido. Uma das principais lições tiradas das experiências de drones turcos na Síria, Líbia e Nagorno-Karabakh é que esses conflitos não foram travados contra os chamados “países pobres”.
Em vez disso, os turcos estavam enfrentando forças bem equipadas e bem treinadas que operavam equipamentos semelhantes aos encontrados na maioria dos países europeus de pequeno e médio porte. De fato, em todos os três conflitos, a Turquia enfrentou algumas das melhores defesas antiaéreas produzidas pela Rússia. A realidade é que a maioria das nações, se confrontada por um “enxame de drones” turco, não se sairia bem.
O enxame
Muitos países ainda não experimentaram a tecnologia de enxame de drones em um ambiente simulado e controlado. A Turquia está entre os que possuem a tecnologia e a capacidade de testá-la em campo durante as operações.
O principal escritório de compras da Presidência da Turquia para Indústrias de Defesa, lançou seu programa Swarm de Demonstração e Desenvolvimento de Tecnologia de UAV (Swarm UAV Technology Development and Demonstration) com o objetivo de desenvolver algoritmos e softwares para o uso de plataformas não tripuladas com capacidade de realizar enxames coordenados. A MilSOFT é especializada em soluções de software desde 1998 e é uma das participantes do programa governamental. Ela oferece produtos aos militares turcos para tarefas que incluem a detecção de identificação de alvos móveis usando IA e técnicas de “aprendizado de máquina” com algoritmos de processamento de imagem.
A solução baseada em software da MilSOFT permitirá que enxames de drones sejam lançados de plataformas aéreas, terrestres e navais, e as imagens obtidas entrarão em um sistema de comando central. Enquanto isso, os bandos de drones irão transferir imagens entre diferentes unidades militares com uma função de retransmissão.
Os UAVs têm um tempo de voo de mais de meia hora e uma capacidade de carga útil de 1 quilograma (2,2 libras). Os veículos funcionam com trens de pouso que podem pousar em terrenos acidentados. Enquanto cinco UAVs são usados atualmente em um rebanho no campo, esse número pode chegar a 25 em um ambiente controlado. MilSOFT tem como objetivo fazer um enxame de drones de 50 veículos operacionais.
A comunicação entre os drones também é fornecida pela própria tecnologia da MilSOFT. Os veículos podem se comunicar entre si em até 500 metros. Há também uma solução de rede de 10 quilômetros para transferência de dados.
Enxames de Kargu-2 e ALPAGU
Em junho a agência de notícias turca Andolu informou que os militares turcos devem receber 500 drones camicase. O drone tático Kargu-2, produzido pela empresa turca STM, é um multicóptero de apenas 15 libras (6,8 kg) com velocidade máxima de cerca de 145 km/h e autonomia de meia hora. No modo padrão, ele é controlado diretamente por um operador a até seis milhas terrestres de distância (9,6 km). Quando um alvo é localizado, o drone se fixa nele e mergulha, destruindo-o com uma carga explosiva.
A ogiva de três libras do Kargu-2 vem em três variedades; uma versão explosiva/fragmentação para uso anti-pessoal e veículos leves, uma versão termobárica para destruir edifícios e bunkers e uma carga moldada para destruir blindagem pesada. O Kargu-2 pode retornar com segurança ao operador para reutilização se nenhum alvo for encontrado.
O drone possui um câmera diurna e imagem infravermelha e embora possa ser controlado diretamente distância, também é altamente autônomo, capaz de voar uma rota e usar algoritmos de aprendizado para localizar, rastrear e identificar alvos sem ajuda humana.
A STM também fez o ALPAGU, um drone kamikaze de asa fixa lançado por tubos com muitos elementos em comum com com o Kargu-2. Toda a tecnologia do Kargu e ALPAGU foi desenvolvida localmente. Isso significa que ele não tem componentes fabricados nos EUA, que recentemente, junto com Canadá restringiriam a exportação de componentes face a lei de restrição de armas.
A Turquia está rapidamente se tornando líder no mercado de drones militares e Kargu-2 certamente está fornecendo um impulso significativo. As 500 unidades encomendadas em julho de 2020 somam-se uma encomenda prévia de 356 unidades feitas em 2019. O drone funcionará em grupos de 20 kamikazes. O enxame elimina a necessidade de um grande número de operadores humanos, pois é preciso apenas uma pessoa no controle ou para liberar eles para o voo de forma autônoma.
Enxames táticos parecem cada vez mais atraentes e disruptivas no campo de batalha. Não há ainda uma defesa eficiente contra pequenos drones. Hoje, o Pentágono, por exemplo, admite que ainda está trabalhando para organizar esforços para um sistema anti-enxame. Uma solução que vem sendo premeditada são contramedidas eletrônicas que anulem, assumam o controle ou façam com que drones retornem a base e lá sejam detonados. Outro pronto seriam baterias de tiros rápidos de alta cadência, como um guarda-chuva ara eliminar o enxame antes dele atacar. O rápido desenvolvimento do Kargu-2 e os movimentos para exportá-lo sugerem que a Turquia pretende assumir a liderança neste campo e escrever o próximo capítulo na história da guerra de drones.
@CAS