O dia 5 de novembro entrou definitivamente para a história da gestão da navegação aérea brasileira. Desde os primeiro minutos desse dia, o aeródromo internacional de São Paulo (SBGR), em Guarulhos, começou a operar por meio do conceito Airport Collaborative Decision Making (A-CDM).
Isso significa que Network Operations – NO, Air Traffic Control – ATC, Aircraft Operator – AO, Ground Handling – GH e Airport Operations – AOC passaram a compartilhar informações operacionais de forma colaborativa. A plataforma utilizada para isso é o Airport Collaborative Information Sharing Platform (ACISP). Por meio dela, fontes de dados estão sendo processadas, padronizadas e estruturadas de forma a facilitar as atividades aeroportuárias.
A implantação do A-CDM transforma a maneira como os voos são autorizados pela Torre de Controle. A operação anterior funcionava de modo reativo (“first come, first served”), ou seja, os voos para push back e/ou acionamento eram liberados quando se declaravam prontos. Com o A-CDM, o procedimento é outro (“best planned, best served”). A Torre de Controle gerencia, atualiza e apresenta constantemente e antecipadamente uma lista de pré-partida dos voos com base nos horários-alvo em que os Operadores de Aeronave (AO) ou Ground Handlers (GH) informam que estão prontos (TOBT–Target Off-Block Time).
Daqui em diante, todos os Aircraft Operators (AO) que operam voos no Aeroporto Internacional de São Paulo submeterão com antecedência, para a plataforma ACISP, os horários-alvo de calços fora (TOBT) dos voos partindo do aeroporto. Com a implantação do A-CDM em Guarulhos, somente partem do aeroporto voos que fornecem um TOBT válido; com isso, eles recebem o horário-alvo de autorização do acionamento dos motores (Target Start Up Approval Time – TSAT).
Primeiro Seminário de A-CDM
Há pouco mais de um ano, ocorreu em São Paulo/GRU o primeiro seminário de ACD-M no Brasil. O evento aconteceu entre os dias 9 e 10 de setembro de 2019 no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, o I Seminário de A-CDM, ou Airport Collaborative Decision Making.
Promovido em parceria pela Força Aérea Brasileira, através do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), GRU Airport e a Action Editora, o seminário trouxe uma visão ampla e clara de como funciona o A-CDM, sua importância, vantagens e quais as necessidades e mudanças que devem ser realizadas para sua implementação, bem como suas diferenças com o S-CDM (Surface Collaborative Decision Making) empregado nos EUA. O primeiro aeroporto a implementar o A-CDM na América Latina será o de Guarulhos (SBGR/GRU), que, inclusive, já vem realizando todos os preparativos para que em dezembro de 2020 possa iniciar as operações colaborativas de maneira efetiva. Durante dois dias, ocorreram sete palestras, dois painéis de debate e um painel especial da indústria que mostrou, além de sua expertise no âmbito de ATM (Air Traffic Management), suas ideias e produtos voltados especificamente para o conceito A-CDM, que desponta como uma ferramenta indispensável para a gestão dos aeroportos e do tráfego aéreo civil. Já os palestrantes trouxeram a visão de órgãos-chave, como Eurocontrol, IATA, aeroportos, empresas aéreas, e, claro, do DECEA e da GRU Airport. Entre as palestras proferidas estavam:
A-CDM: Conceitos, métodos e sua relação com o ATFM – David Booth (Eurocontrol).
Implementação e integração do A-CDM – Chris Dodson (IATA).
A-CDM: Implantação no aeroporto Madrid – Carolina Igal Onega (Chefe do Departamento de Controle de Operaciones – Aeroporto de Madrid).
A-CDM: Uma visão da companhia aérea – Silvia Aires (TAP Air Portugal).
S-CDM x A-CDM: Uma visão global – Robert Oberstar (Delta Airlines).
GRU Airport e a preparação para o A-CDM – Cmt Miguel Dau (Diretor de Operações GRU Airport).
Projeto A-CDM Brasil – Maj-Av Marcio Rodrigues Ribeiro Gladulich (DECEA – Gerente do projeto A-CDM).
“Tudo que precisamos para fazer o A-CDM já temos. O que falta é a cultura e a conscientização de que, no futuro, só existirão ganhos”, disse o Gerente do projeto A-CDM no Brasil, Major-Aviador Gladulich.
Para o Diretor de Operações da GRU Airport, Coronel Aviador da Reserva Miguel Dau: “o aeroporto de Guarulhos não vê outra forma se não o ambiente colaborativo. Não há como encontrar soluções para os problemas existentes se não pelo A-CDM”.
Já o então Diretor-Geral do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), Tenente-Brigadeiro do Ar Jeferson Domingues de Freitas, enalteceu a importância do encontro. “Tenho certeza que, em 2020, estaremos todos juntos novamente para o início da operação A-CDM em Guarulhos”.
A-CDM visa melhorar a eficiência operacional de todos os operadores aeroportuários, reduzindo atrasos, aumentando eficiência e otimizando a utilização dos recursos, o que resulta no aumento da capacidade operacional do aeroporto. O conceito A-CDM envolve a implementação de um conjunto de procedimentos operacionais e processos automatizados, onde as informações são reunidas e compartilhadas em tempo real entre todos os operadores, isto é, desde companhias aéreas, empresas de handling, passando pelos diversos órgãos governamentais, operacionais, administrativos e prestadores de serviço, até chegar aos órgãos de gerenciamento e controle de tráfego aéreo.
O compartilhamento de dados A-CDM também proporciona uma análise pós-operacional e o registro de tendências operacionais típicas e incomuns, permitindo assim, um melhor planejamento e, por consequência, uma melhor previsibilidade operacional. Na prática todos colaboram, compartilham informações e buscam soluções eficientes rápidas e integradas.
O A-CDM já é uma realidade na Europa, onde, no início deste ano, 28 dos principais aeroportos do continente já tinham o sistema implementado, o que significa dizer que hoje 1/3 dos movimentos aéreos são registrados pelo Eurocontrol. Fora da Europa, o A-CDM vem sendo implantado nos aeroportos de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de Auckland, na Nova Zelândia e de Singapura.
No Brasil a implantação do A-CDM foi viabilizada a partir de um acordo assinado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e o Eurocontrol, em outubro de 2015, que visa à cooperação entre as duas organizações para a otimização do intercâmbio de informações e dados operacionais de voos entre América do Sul e Europa, sobretudo no que tange ao gerenciamento de fluxos de tráfego aéreo (ATFM – Air Traffic Flow Management).
Para saber mais acesse o site acdm.com.br
@CAS