A importante Base Aérea de Nevatim (LLNV), no deserto do Negev, é a casa de seis esquadrões de primeira linha da Força Aérea de Israel (IAF). Entre eles, está o 120th Squadron “Desert Giants”, a unidade dos reabastecedores KC-707 (designação militar do Boeing 707), cuja principal missão é estender o alcance dos caças israelenses, permitindo que eles possam cumprir missões em qualquer lugar, a qualquer hora. A quantidade de KC-707, codinome Re’em (palavra hebraica para um bovino selvagem descrito na bíblia), operacionais é confidencial, mas estima-se que existam menos de dez aeronaves na frota.
Eles são baseados em antigos aviões civis Boeing 707, adaptados para uso militar. A sua missão principal é o reabastecimento em voo dos caças, e para isto são a adaptados para transportar 20 tanques de combustível extras. Os “Re’ems” podem ser facilmente convertidos para transportar tropas, passageiros, e cargas civil ou militar. Após a eclosão da pandemia do coronavírus, os aviões também foram usados para transportar equipamentos médicos.
Oficiais da IAF admitem que manter operando essas aeronaves com quase sessenta anos é um desafio diário. Embora sejam plataformas estratégicas, elas exigem um grande esforço logístico e técnico, para que estejam disponíveis para as missões. Outros fatores externos ampliam as dificuldades de operação dessas máquinas, como o calor abrasivo do Deserto do Negev e as tempestades de areia.
Conseguir peças sobressalentes para máquinas fabricadas há mais de meio século, é um desafio logístico para a força aérea. Empresas de defesa israelenses produzem algumas peças sobressalentes específicas, mas nem sempre elas suprem todas as necessidades da frota. Em 2017, por exemplo, o Governo Israelense adquiriu um KC-137 desativado pela Força Aérea Brasileira, com a finalidade de retirar as peças para reutilizá-las em suas aeronaves.
Com a necessidade de se manter à frente das crescentes ameaças no Oriente Médio, as aeronaves Re’em serão substituídas pelos avançados reabastecedores Boeing KC-46 Pegasus, nos próximos anos.
Ao contrário dos atuais Re’ ems, onde quase todo o trabalho é manual, os novos reabastecedores KC-46 é todo automatizado, incluindo a operação da lança (boom) durante o reabastecimento dos caças.
No KC-707 o operador da lança, ou “boomer”, tem que ser preciso e ter uma excelente coordenação “olho-mão” para não perder o avião que a lança está reabastecendo. Enquanto no KC-46, o “boomer” fica posicionado atrás da cabine de comando, observado a operação através de telas digitais, operando a lança através de moderno controle eletrônicos até o avião receptor, que será abastecido automaticamente através de configurações pre-definidas antes do contato.
O KC-46 Pegasus tem uma autonomia de 11.830 km, capacidade para 207.000 libras (94.000 kg) de combustível e pode reabastecer mais de 64 tipos diferentes de aeronaves. Todos os tanques de combustível do KC-46 são projetados para atuar em cenários de combate, por isto são totalmente inertes e configurados com blindagem balística. O avião também tem contramedidas IR, alertas antecipados RF, sistemas de prevenção de ameaças e iluminação NVIS (Night Vision Imaging System), permitindo operações noturnas sem a necessidade de iluminação externa. Israel poderá comprar adicionalmente sistemas de contramedidas de guerra eletrônica. Em duas horas, o KC-46 pode ser convertido para atuar em missões de evacuação aeromédica, transporte com capacidade para três toneladas de carga, ou 200 passageiros.
No ano passado, o Esquadrão 120º “Desert Giants” realizou centenas de operações de reabastecimento em voo, incluindo várias missões secretas, como por exemplo a campanha que objetivou impedir que forças iranianas usassem bases na Síria para o contrabando de armamentos para o Hezbollah no Líbano. Esta complicada missão levou meses de planejamento e treinamento antes que os aviões decolassem de Israel. Um oficial relatou que esta missão “foi um sucesso, tanto operacional quanto estrategicamente.”
Recentemente o “Desert Giants” deslocou as suas aeronave Re´em para a Alemanha, onde apoiaram os caças F-16 da Força Aérea de Israel que realizaram uma operação conjunta com a Força Aérea da Alemanha.
Ao longo dos anos, o esquadrão voou milhares de quilômetros em todo o mundo e quebrou o recorde do voo mais longo da IAF, quando voou 14.500 km. para a Base Aérea de Nellis, em Nevada para participar dos exercícios Red Flag. A longa viagem dos KC-707 durou três dias, com escalas na Espanha, na Base Aérea das Lajes, no meio do Atlântico, em Bangor, no Maine, e finalmente Nellis.
Os KC-707 israelenses também voaram para Austrália, Japão, Alasca e Rússia, onde o esquadrão participou da operação de repatriamento do corpo do Sargento-Maj. Zachary Baumel, quase 40 anos depois de desaparecer durante os primeiros diassda batalha do Sultão Yacoub, na Primeira Guerra do Líbano em junho de 1982.
Embora os Boeing 707 tenham prestados excelentes serviços para Israel, chegou a hora de aposentá-los definitivamente, com a chegara dos primeiros KC-46 Pegasus que apoiarão os caças da IAF em futuras missões de logo alcance, longe das fronteiras de Israel.
@FFO