Na última semana, o Boeing RC-135W Rivet Joint, AF 62-4134, da USAF, realizou algumas missões no Mar do Sul da China, que chamaram a atenção por situações muito incomuns.
Durante os voos, a aeronave de vigilância americana, misteriosamente alterou o seu código transponder real, por um de numeração desconhecida, e desta forma chegou a menos de 55 milhas do continente chinês. A situação foi divulgada na conta do Twitter da SCSPI – South China Sea Probing Initiative, um grupo de estudos do governo chinês, que forneceu detalhes para que alguns aficionados pelo assunto pudessem realizar as suas investigações independentes.
Abaixo os dados divulgados pelo SCSPI:
>>>Suspected US Surveillance Plane in Disguise as a Malaysian Plane.
On Sep 8, USAF RC-135W (#AE01CE) departed #Kadena for a #SCS mission. Later on the same route appeared a “Malaysian Plane”(#750548), which entered the SCS and patrolled intensively between #Hainan and #Paracels.
Similar situation just happened a fews days ago.
On Sep 3, the very RC-135W was suspected of entering the #SouthChinaSea with the hex code #07675C, and left with #AE01CD.
Originally tweeted by SCS Probing Initiative (@SCS_PI) on 8 de September de 2020.
O rastreio das aeronaves é possível, porque a bordo existe um equipamento transponder baseado em um código hexadecimal conhecido como Mode-S (ou hexa-code). Este número hexadecimal é individual de cada avião, está composto por 24 bits e é regulado pela ICAO (Organização de Aviação Civil Internacional). Teoricamente não devem existir códigos duplicados ou fora do database. Teoricamente.
Erros nas configurações dos códigos hexadecimais Mode-S não são raros, e ocorrem tipicamente por displicência ou desconhecimento dos operadores das aeronaves. Obviamente existem casos de alterações ou desligamentos intencionais. O uso e configuração corretas destes equipamentos são obrigatórios em diversos espaços aéreos no mundo.
Voltando ao caso do RC-135W da USAF, registro AF 62-4134, o seu código hexadecimal real é “AE01CE”.
Imagens de sites de rastreio foram divulgados pelo SCS e por pessoas independentes, mostrando que no dia 08 de setembro, o RC-135W 62-4134, usando o código de chamada no rádio “RAINY51”, decolou às 07h29 (local) da Base Aérea de Kadena, na Ilha de Okinawa, Japão. Ele seguiu em direção sudoeste, para o Arquipélago Ryukyu, passando por Taiwan, até chegar ao largo da Ilha de Hainan.
Aproximadamente uma hora depois da decolagem, em um determinado ponto da rota, o código hexadecimal foi alterado de “AE01CE” (original do AF 62-4134) para “750548”, um código não cadastrado pelo database ICAO. O SCS indica que este hexa-code seria de uma aeronave da desconhecida da Malásia.
Esta alteração em voo (repetidamente) não ocorre inadvertidamente, sem que haja intenção.
No dia 10 de setembro, o SCS apresentou prints do rastreio do RC-135W, novamente operando na região de Hainan com os dois códigos Mode-S real (AE01CE) e fictício (750548). Além dele, o KC-135R AF 63-8880 decolou da Base Aérea de Andersen, em Guam, e seguiu para a mesma região, muito possivelmente para realizar um reabastecimento em voo (REVO) do Rivet Joint.
Observe as movimentaçõe:
Os nove RC-135W Rivet Joint ativos da USAF, compõem o 38th Reconnaissance Squadron, da Base Aérea de Offut, Nebrasca, e são considerados ultra-secretos. Sua missão principal é a coleta de dados para operações de inteligência eletrônica. As aeronaves estão equipadas com sistemas e sensores, capazes de detectar, identificar e plotar geograficamente sinais em todo o espectro eletromagnético de frequências, e que podem ser transmitidos em tempo real para áreas de inteligência em terra.
Não saberemos os reais motivos destes voos, mas podemos supor que estivessem coletando dados sobre eventuais exercícios militares chineses, movimentações de aeronaves, embarcações ou até mesmo testes de mísseis, tendo em vista que a Base Naval de Yulin está na Ilha de Hainan, onde há uma força de submarinos chineses com mísseis balísticos nucleares.
O fato é que o RAINY51, voou “camuflado eletronicamente” como uma aeronave civil malaia, entre a Ilha de Hainan e as Ilhas Paracel, um arquipélago no Mar da China Meridional reivindicado por Pequim, cuja autoridade está em disputa.
A South Sea China Probing Initiative tem no seu conselho oficiais do Exército de Libertação do Povo e da Marinha da China. O aviso emitido via Twitter, muito possivelmente seja direcionado ao Pentágono, para deixar claro que as forças armadas chinesas estão cientes de qualquer movimentação na sua região.
@FFO