As tensões no estreito de Taiwan, e, consequentemente, entre China x Taiwan x EUA pode ganhar mais um capítulo. De acordo com a USAF, por lei, Estados Unidos são obrigados a auxiliar na defesa de Taiwan e, como a China tem acenado de tempos em tempos com a possibilidade de invadir a ilha rebelde, um confronto EUA x China torna-se cada vez mais real, mesmo que numa escala de incidente ou mesmo de baixa intensidade.
Se a China planeja invadir ou apenas atormentar a ilha separatista de 23 milhões de habitantes, ainda não se sabe. O que se sabe é que a Marinha Chinesa está para incorporar mais dois porta-aviões (2023 e 2026) – hoje possui dois, além de estar incrementando sua frota de navios de assalto anfíbio. Por outro lado, o Exército e ao Corpo de Fuzileiros chinês vêm adicionando novos veículos de combate e sistemas de armas e a Força Aérea, está constantemente ampliando sua frota, inclusive de aeronaves de transporte e de caça.
Analistas do Pentágono alertam que “a estratégia de defesa da América no Indo-Pacífico está passando por uma crise sem precedentes. A América não desfruta mais da primazia militar na região Indo-Pacífico e sua capacidade de manter um equilíbrio de poder favorável é cada vez mais incerta”. Outro ponto importante é que segundo um relatório detalhado do Centro de Estudos dos Estados Unidos da Universidade de Sydney de 2019, um súbito ataque chinês rapidamente poderia exterminar as forças dos EUA na região da Ásia-Pacífico e impedir a intervenção dos Estados Unidos, em especial para auxiliar Taiwan. A China também poderia ter como alvo os principais postos avançados da América no Pacífico – em particular, a base de bombardeiros em Guam – com mísseis balísticos e de cruzeiro.
Apesar do Pentágono estar focado em um conflito de grandes potências, as forças armadas começam a ver que pequenas ações podem ser decisivas e, neste campo, as minas navais estão passando por uma espécie de renascimento. Sendo assim a USAF tem desde 2019 discutido o uso de minas para proteção de perímetros em ações conjuntas com a US Navy, fazendo ressurgir uma prática feita pelos Boeing B-52 nos anos 1960 – no Vietnã.
Nos últimos quatro anos, a US Navy tem trabalhado em dois programas de atualização de minagem de campos, conhecidos como Quickstrike-J e Quickstrike-ER, para a família de minas Quickstrike de 500, 1.000 e 2.000 libras, conhecidas como Mk.62, Mk.63 e Mk.64. O primeiro deles – Quickstrike-J, simplesmente combina a mina com um pacote de orientação do tipo Munição de Ataque Direto Conjunta (Joint Direct Attack Munition) guiado por GPS, enquanto o último – Quickstrike-ER adiciona um kit wing pop-out.
Estas são atualizações revolucionárias permitem às aeronaves posicionar precisamente as minas de qualquer altitude e, no caso do tipo “-ER”, fazer isto a até 40 milhas de distância do ponto ideal de instalação.
Isso acelera o processo de colocação dos campos minados em geral e reduz drasticamente a vulnerabilidade da aeronave que transporta as armas, que de outra forma teria que voar baixo e devagar para executar a missão.
A Força Aérea opera mais de 70 B-52s e, em caso de guerra, poderia desdobrar dezenas deles para a região da Ásia-Pacífico ou levá-los dos Estados Unidos para missões na zona de guerra do Pacífico. Não é difícil imaginar formações de B-52s instalando rapidamente centenas ou mesmo milhares de minas.
Sendo assim, a USAF começou a fazer ensaios e neste mês de agosto/setembro aeronaves B-52H do 96th Expeditionary Bomb Squadron da Barksdale Air Force Base, operando em Andersen AFB – Guam, realizaram um exercício conjunto com a US Navy para semear minas Mk.56 inertes em dois campos de treinamento de 3×1 mn cada. Foram lançadas 96 minhas Mk.56 em dez surtidas. As missões são preparatórias para uma possível semeadura do estreito de Taiwan, que deve ser feita até o fim do ano, criando um cinturão para proteger a ilha. A minagem daria a capacidade de usar as aeronaves de combate americanas focadas em outras ações, pois dificultaria uma invasão direta da China pelo mar.
@CAS