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A região sul da Patagônia Chilena e a porção antártica do país são localmente chamadas de «Província de Magallanes e Antártida Chilena”, onde a Fuerza Aérea de Chile (FACH) vem aumentando recentemente suas chamadas Operações Geladas. Além das atividades regionais regulares da FACH com os F-5E/F Tiger II do Grupo de Aviación 12, Twin Otters e Bell 412 do Grupo de Aviación 6, a Força Aérea iniciou as operações “Campo de Cielo Sur” no campo de gelo do sul e “Estrella Polar III”, apoiando o presidente Gabriel Boric, membros executivos do governo e a visita dos comandantes das Forças Armadas do Chile à base de Amundsen-Scott, no Polo Sul.
Cees-Jan van der Ende
A Base Aérea Chabunco, a cerca de 20 minutos de carro ao norte da cidade de Punta Arenas, e geolocalizada no estratégico e importante Estreito de Magallanes, é o lar da 4ª Brigada Aérea. A base aérea foi fundada em 1943 quando o país viu as tensões militares globais aumentarem devido à Segunda Guerra Mundial. As primeiras aeronaves sediadas foram três AT-6 Texans de fabricação norte-americana.
Nos anos 1960, a base aérea mais ao sul do planeta entrou na era do jato quando a FACH baseou o Lockheed T-33 Thunderbird e seu equivalente monoposto, o F-80C Shooting Star. Um total de 18 F-80 foi entregue em 1958 pela Lockheed. Atualmente, restam apenas duas fuselagens, das quais o J-333 guarda o portão principal da Base Aérea de Chabunco. A Terceira Ala (Ala 3) da FACH foi formada em 1959 a 53 graus sul. Nas décadas seguintes, junto com os Shooting Stars, os Cessna A-37 Dragonflies, os Dassault Mirage 50 Panteras, os Sikorsky S-58 e os De Haviland DHC-6, foram ativos parte da Ala 3.
O Grupo de Aviación 4, 6 e 12 era subordinado à Ala 3. Esses Grupos de Aviação ou Esquadrões viram sua primeira ação verdadeira durante a “Crise do Canal de Beagle” em 1978, contra a Argentina e o governo militar de Jorge Rafael Videla Redondo. Felizmente, uma guerra entre as duas nações latino-americanas foi evitada graças ao Papa João Paulo II. Em 21 de abril de 1980, a IV Brigada Aérea foi estabelecida no lugar da Ala 3.
No fim de novembro de 2009, durante o ano do Bicentenário do Chile, a FACH aposentou a maioria de seus Cessna A-37B Dragonflies do Grupo de Aviación 12, que são chamados de ‘Tigres Australes’. Acredita-se que dois jatos foram mantidos em condições de voo até março do ano seguinte. Um total de 34 A-37B Dragonfly excedentes da USAF foram adquiridos em 1974 por meio do programa Foreign Military Sales (FMS), que geraria o chamado programa ‘Peace Andes 1’, que foi entregue durante os anos 1976 e 1977. Poucos meses antes de sua aposentadoria, os chilenos mostraram 10 General Electric J-85, ou seja, 5 A-37B, voando sobre a capital Santiago durante a Gran Parada Militar de setembro, que celebra a independência do país. Após sua aposentadoria, a Força Aérea Chilena vendeu vários dos pequenos jatos Cessna para as Forças Aéreas de Colômbia e El Salvador.
No norte do país, na Base Aérea de Cerro Moreno, situada ao norte da cidade costeira de Antofagasta em pleno deserto do Atacama, o Grupo de Aviación 7 operava orgulhosamente o Northrop F-5E Tigre III que a unidade havia recebido de fábrica em 1976. Um total de 15 F-5E e três F-5F foram encomendados por US$ 55 milhões. Os jatos clássicos da Guerra Fria foram atualizados pela Israeli Aircraft Industries (IAI) sob o projeto Tiffany. A Força Aérea Chilena assinou um contrato de US$ 300 milhões na FIDAE 1990, realizada em março daquele ano em Santiago do Chile, para atualizar 16 Tigers, que incluíam 12 F-5E e três F-5F. Um F-5E (805) e um F-5F (817) foram transferidos para Tel Aviv, em Israel, sob o programa Tigre III.
Mudanças notáveis na aeronave foram implementadas, como a integração de um novo radar – o ELTA EL/M-2032B, sistemas HOTAS (Hands on Throttle-And-Stick), capacete com HDM Helmet DASH 360°, Alerta radar (RWR), autoproteção tipo chaff and flair e integração de mísseis ar-ar AIM-9L Sidewinder e Rafael Python 3.
Até o início do século 21, diferentes atualizações foram adquiridas, como a instalação da sonda de reabastecimento em voo e a integração dos mísseis Rafael Python IV e Rafael Derby BVR. A última atualização levou o Tigre III ao padrão Plus. Em toda a FACH, é extremamente raro ver suas aeronaves de caça equipadas com armamento real.
Como a FACH já havia recebido 18 F-16AM/BM Fighting Falcons no programa Peace Amstel I, que foram alocados ao Grupo de Aviación 8m em substituição ao Mirage 5 Elkan, o Grupo de Aviación 7 acabou selecionado para se tornar o segundo esquadrão a receber F-16AM/BM, excedentes da Royal Netherlands Air Force (RNlAF) no chamado projeto Peace Amstel II. Com isso, os Tigre III do Grupo de Aviación 7 foram selecionados para serem movidos a 53 graus ao sul e se tornarem “os Tigres dos Tigres Australes” na Base Aérea de Chabunco. Em 19 de março de 2010, 10 F-5 Tigre III Plus chegaram ao extremo sul (ou “sul do sul”, como dizem os chilenos).
Na chegada dos F-5, o Grupo de Aviación 12 de Chabunco já era composto por ex-funcionários do Grupo 7, que já haviam deixado Antofagasta para preparar a chegada dos Tigres. Medidas especiais foram necessárias para lidarem com o clima notório e os fortes ventos frios da Antártida ao redor do Estreito de Magalhães e do Estreito de Drake. Trajes grossos do tipo ártico foram usados pelos chefes de tripulação, e os pilotos dos F-5, equipados com equipamentos isolados à prova d’água para uma sobrevida em caso de ejeção sobre as águas frias ao redor de Punta Arenas. Todas as tripulações reclamavam do clima, na época da chegada a Punta Aéreas, em 2010. Algo que não mudou até hoje!
O contratante de defesa suíço estava fazendo lobby para receber o contato da FACH para manutenção dos motores Tigre III. Durante a edição de 2010 da FIDAE, um contrato de manutenção foi assinado com a RUAG para a revisão completa dos motores turbojato General Electric J85-GE-21B. A contratada de defesa governamental chilena ENAER, sediada em El Bosque/Santiago, começou a trabalhar nas asas do Tiger III, com o “805” retornando a Chabunco no início de 2011. Em março do mesmo ano, começaram a circular rumores de que a Força Aérea Chilena estava interessada em substituir os Northrop F-5 por mais F-16, ou ainda adquirir caças Saab Gripens, ou Eurofighter Typhoons de segunda mão.
A Fuerza Aérea Urugaya (FAU), que ainda operava vários Cessna Dragonflies subsônicos como seu jato principal na época, demonstrou interesse nos jatos supersônicos Grupo de Aviación 12. Esse último levou a FACH a enviar nada menos que quatro Tiger III e um KC-135E para Montevidéu, capital do Uruguai, para o 100º aniversário da aviação uruguaia, em março de 2013. A falta de fundos necessários para adquirir os jatos da FACH interrompeu o acordo entre as duas nações latino-americanas. Não muito depois, a Força Aérea Chilena arquivou o plano para sua substituição do Tiger III Plus.
Atualmente, os Tigres receberam atualizações estruturais e de esquema de camuflagem e estão prontos para lutar a 53 graus sul por cerca de mais 10 anos, conforme estimativa feita pelos oficiais de logística da FACH.
Em dezembro passado, o Coronel Carlos Noce “Ninja” – com cerca de 2.000 horas no Northrop F-5E/F Tiger – foi dispensado do seu Comando dos Tigres Australes e substituído pelo experiente piloto de F-5, Tenente-Coronel Nicolas Sepúlveda. “Ninja” comandava o Grupo de Aviación desde 2022, e começou na Base Aérea de Chabunco em 2002 com os Cessna Dragonflies. Depois de ter pilotado os Tigers no Grupo de Aviación 7 em Cerro Moreno, ele’ passou a voar os F-16AM/BM quando os jatos do Peace Amstel II chegaram da RNLAF em 2010. O Coronel Noce foi o primeiro oficial a ser designado para o Tigre III Plus vindo do F-16 Fighting Falcon, em 2014. De acordo com ele, a mudança permitiu que ele transferisse conhecimento e procedimentos usados pelos F-16 para os Tigres Australes.
Em outubro de 2022, seis F-5 Tiger III foram enviados à Base Aérea Los Condores, ao sul de Iquique, para o exercício multinacional SALITRE, operando como Forças Vermelhas (inimigos). Ninja observou que: “SALITRE foi o melhor treinamento para os pilotos com missões integradas com o recém-adquirido Boeing E-3D Sentry da RAF, o Boeing KC-135E e também o KC-130R com as lâminas Rockwell NP-2000 recém-instaladas. Uma vitória para as tripulações aérea e terrestre”.
Em 27 de agosto de 2024, dois F-5E Tiger III Plus do GA12, armados com mísseis “HOT” (reais) Rafael Python IV foram acionados devido a uma suposta incursão no espaço aéreo por uma aeronave da Líneas Aéreas del Estado (LADE), de propriedade da Fuerza Aérea Argentina (FAA). A suposta incursão, confirmada pela Ministra da Defesa do Chile, Maya Fernández Allende, ocorreu entre o Monte Aymond e o Estreito de Magallanes, a 3.000 pés. O DHC-6 Twin Otter estava a caminho da cidade portuária de Rio Gallegos, no sul, para Ushuaia, na ponta sul da Terra do Fogo. A FAA negou que a incursão tivesse acontecido e que, além do voo LADE, nenhum voo de sua Força Aérea havia sido conduzido. A Ministra Fernández Allende prometeu uma investigação completa, pois os Tigres retornaram à Base Aérea Chabunco sem nunca ter interceptado o intruso. Quando questionado sobre o incidente no último mês de setembro, o Comandante do Grupo de Aviación 12, Carlos Noce “Ninja”, se recusou a comentar o assunto.
Poucos meses depois, o lado argentino notou uma incursão em seu espaço aéreo por um helicóptero Airbus AS350 Esquilo chileno, pertencente à Brigada de Aviación del Ejército (BAVE). Essa suposta incursão voando cerca de 60 pés aconteceu na parte nordeste da província argentina de Santa Cruz. A resposta chilena foi diplomática, sem negar nem reconhecer o incidente.
A “névoa” diplomática sobre 2024 entre ambos os governos ocorreu ao longo da linha por declarações populistas na rede social “X”, pelo governo argentino de Javier Milei, e uma colocação transfronteiriça de painéis solares na Terra do Fogo pela Argentina trouxe palavras fortes na mídia pelo presidente chileno Gabriel Boric, criando uma tensão desnecessária.
Na linha do que falamos anteriormente (tensão diplomática), a Operación Campo de Hielo Sur ou Operação Campo de Gelo Sul da FACH, pode ser vista por alguns como uma demonstração de força próximo a uma área onde a fronteira com a Argentina ainda não está definida. O Campo de Gelo Sul está localizado a oeste da fronteira entre as duas nações latino-americanas e é a segunda maior massa de gelo depois do território dinamarquês da Groenlândia. O campo de gelo mede cerca de 13.219 km2 com vales glaciais profundos e espessuras de gelo medidas de mais de 1.400 metros.
Após meses de planejamento, a FACH embarcou com dois Sikorsky-Mielec MH-60M Blackhawks do Grupo de Aviación 9 estacionados na Base Aérea Pudahuel (BAPU), localizada anexa ao Aeroporto Internacional Arturo Merino Benítez, em Santiago do Chile; dois De Havilland DHC-6-300 Twin Otters pertencentes ao Grupo de Aviación 5, baseado em Puerto Montt e ao Grupo de Aviación 6, baseado em Punta Arenas. Devido a problemas de manutenção, a aeronave DHC-6 do Grupo 5 – FACH 949 -, camuflada em cinza e equipada com esqui, substituiu o Twin Otter pintado de vermelho/laranja do Grupo 6, que estava programado para operações geladas no Campo de Hielo Sur. A maioria dos ativos e equipe de apoio foi enviada para o aeroporto recém-reformado da pequena Villa O’ Higgins (SCOH) na província de Aysén no final da Carretera Austral, rota X-91 no continente chileno.
O Grupo de Aviación 10 forneceu o Lockheed C-130H FACH 966, que voou no domingo, 29 de setembro de 2024, com 85 funcionários de apoio e 12.000 kg de carga para a SCOH. “Essa foi a primeira vez desde 2001 que um Hércules do Grupo 10 aterrissou no pequeno campo de pouso”, observou o Grupo 6 e o comandante da missão, Tenente-Coronel Carlos Castro Rigler “Cripta”.
O comprimento atual da pista de pouso de asfalto é de 1.350 metros e não é um desafio para os antigos C-130, que operaram facilmente em pistas curtas. A aproximação em Villa O’Higgins é, no entanto, verdadeiramente espetacular quando voa sobre as águas glaciais azul-turquesa do Lago O’Higgins, entre os picos dos Campos de Gelo do norte e do sul. Tanto a vila quanto o lago receberam o nome do libertador do Chile – Bernardo O’ Higgins – sobre os colonialistas espanhóis em 1810. Antes da chegada dos ativos da FACH à Villa O’ Higgins, a empresa petrolífera estatal chilena COPEC transportou cerca de 30.000 litros de combustível de aviação pela Carretera Austral para a vila.
“Cripta” observou que; “Essa campanha foi focada principalmente no treinamento para as equipes do Blackhawk e do Twin Otter, permitindo que operassem em condições rigorosas de inverno que certamente enfrentariam na Estación Polar Científica Conjunta Glaciar Unión”.
A Estação Polar Científica Conjunta Union Glacier – localiza-se cerca de 450 km para o interior da costa da Antártida. Deve-se notar, no entanto, que a maioria da equipe da FACh com quem se falou demonstrou empatia em se preocupar com futuras questões de fronteira atualmente, não especificada entre o Chile e a Argentina devido ao aquecimento global e ao possível derretimento consequente do gelo glacial. O Diretor de Fronteiras Nacionais do governo chileno, bem como vários cientistas atuais pertencentes ao Instituto Antártico Chileno (INACH) notaram que é prematuro se preocupar com futuras questões de fronteira. Eles também notaram que é tarefa dos militares chilenos proteger suas fronteiras nacionais.
Logo após a chegada, tanto o DHC-6-300 Twin Otter (FACH 933 e 949) quanto os dois MH-60Ms (FACH H-03 e H-06) começaram a trabalhar, largando as equipes de cientistas, equipe de apoio que também incluía as Forças Especiais da FACH (UTAFE – Unidades Tácticas de Fuerzas Especiales) em vários pontos ao longo da entrada da geleira O’Higgins e do lado chileno do pitoresco Monte Fitz Roy. Enquanto as equipes trabalhavam em condições extremas, as aeronaves foram aterradas após o dia 30 de outubro devido ao mau tempo no Campo de Hielo Sur. O Tenente-Coronel Cartro Rigler enfatizou: “O prazo para operar no campo de gelo é pequeno, pois as condições climáticas estão sujeitas a mudanças minuto a minuto”.
Em 4 de outubro, o Comandante da Fuerza Aérea de Chile e ex-piloto do Blackhawk no Grupo de Aviación 9 – “Panteras Negras”, General Rodríguez, chegou no Cessna Citation CJ-1 (FACH 361) do Grupo de Aviación 5 de Puerto Montt. O General – que é chamado de CJ (Comandante en Jefe – Comandante em Chefe) por sua equipe – foi recebido pelo Comandante Chabunco, General Vincente Donoso em Villa O’ Higgins. O ex-piloto do E-707 Condór supervisionou todas as atividades de voo em tempo real e forneceu instruções ao seu ‘CJ’.
O General Rodriguez voltou ao pequeno terminal em 5 de outubro para ser totalmente informado sobre seu voo para o campo de gelo do sul pelo Major Alvaro Lamilla, que foi designado para ser o copiloto do CJ para a missão atual, bem como para a próxima operação Estrella Polar III (Polar Star III) sobre o Continente Congelado. Lamilla, um ex-piloto do FACH Cessna O-2 Skymaster na Isla de Pasqua – Ilha de Páscoa – voou ao lado do General Rodríguez para o campo de gelo pegando as equipes que foram mobilizadas anteriormente, como ambos os Twin Otter haviam feito antes que o clima severo retornasse ao Campo de Hielo Sur. Após “sua” missão, Rodríguez retornou ao seu território na capital chilena.
Os ativos restantes retornaram à base. Os DCH-6 retornaram a Chabunco sobrevoando os grandes lagos glaciais dos lagos Viedma e Argenitino, na região da Patagônia Argentina, antes de entrar no espaço aéreo chileno novamente. Os Blackhawks voaram uma impressionante missão de mais de oito horas antes de pousar em sua plataforma “Panteras Negras” na capital do país.
Além das operações da FACH em Villa O’ Higgins, a Brigade de Aviación del Ejécito (BAVE) – Comando de Aviação do Exército – também forneceu suporte no campo de gelo através de um AS-350 Esquilo (H-172), bem como através de um A-109E (C-21) dos Carrabiñeros de Chile. Esse último operou em um voo local para o Diretor de Fronteiras Chilenas, Samy Hawa Arellano, juntamente com um General Carrabiñeros.
Recentemente, a Força Aérea Chilena anunciou que retornará a Villa O’ Higgins e Campo de Hielo Sur; no entanto, com Bell 412 em vez dos poderosos MH-60Ms.
Devido à localização geográfica do Chile, desde a Isla Neava na entrada do canal de Beagle no leste e suas muitas ilhas da Patagônia no oeste, o país tem uma grande reivindicação na Antártida. O interesse do Chile na Antártida remonta ao início do século 20. O país estabeleceu uma presença permanente na região com a fundação do Território Antártico Chileno em 1940, por um diploma assinado pelo presidente Pedro Aguirre Cerda. Durante o ano de 1947, uma pequena flotilha naval de dois navios estabeleceu a primeira base na Ilha Greenwich, e atualmente é chamada de “Arturo Prat”. O Chile manteve uma presença contínua no local por meio de várias estações de pesquisa.
Para a Fuerza Aérea de Chile, a principal entrada para o território antártico chileno é a base Presidente Eduardo Frei Monalva (SCRM) – estabelecida em 1969 – localizada na baía Fildes, na Ilha Rei George, na parte norte da Península Antártica. Por cerca de seis meses no ano, a base de Frei, também chamada de Teñiente Rodolfo Marsh, abriga um único Bell 412SP pintado de laranja/vermelho do Grupo de Aviación 6. Durante a campanha de verão, dois DHC-6-300 Twin Otters são transportados da Base Aérea de Chabunco para lá. Para essa missão de longo alcance, um tanque de combustível auxiliar adicional de aproximadamente 700 litros é instalado no lado esquerdo da cabine de passageiros do Twin Otter. Três desses tanques auxiliares foram entregues à FACH pela ENAER em 2018.
Em dezembro de 2019, um KC-130H Hercules (FACH 990) do Grupo 10, pereceu no Estreito de Drake a cerca de 700 km de Chabunco, matando, infelizmente,17 funcionários da FACH e 21 passageiros, o que se tornou um dia negro nas operações antárticas da Força Aérea Chilena, que ainda ressoa até hoje.
O comandante do Grupo de Aviación 6, Tenente-Coronel Cristian Neira, fez parte do Proyecto Nuevo Avión Antártico (Projeto Nova Aeronave Antártica), e observou que três aeronaves estão atualmente entre os finalistas: o Basler BT-67 Dakota, o Viking Twin Otter série 400 e o HAL-Donier 228. O projeto para três novas aeronaves com capacidade para operações na Antártida está atualmente em estudos adicionais na sede da FACH em Santiago. O Tenente-Coronel Neira observou: “Precisamos de uma aeronave com mais capacidade e alcance para poder operar na região da Antártida”.
A cada ano, durante novembro e dezembro, a Força Aérea Chilena apoia as equipes científicas do INACH, com dois C-130H do Grupo de Aviación 10 operando na Pista de Gelo Azul, de 3 km de comprimento da Geleira Union (SCGC). A Geleira está localizada cerca de 500 km da costa da Antártida e a 3.000 km da Base Aérea de Chabunco.
Estrela Polar ou Estrella Polar como eles dizem, é um nome histórico que a FACH usa para a operação desde 1984, quando dois Twin Otters chegaram à base americana em Amundsen-Scott pela primeira vez, onde está o Polo Sul geográfico, localizado a 90 graus ao sul (90º S).
A “Estrella Polar II” foi executada em janeiro de 1999, quando o então único Sikorsky UH-60L Blackhawk (FACHH-02) e dois Twin Otters do Grupo 6 chegaram ao Polo Sul. Em 2023, o planejamento começou para uma nova e estendida edição da Estrella Polar, marcada para o início de 2024, que foi posteriormente cancelada pelo governo chileno, já que o presidente Gabriel Boric não pôde estar disponível para a operação.
Devido à pequena janela para operações seguras, a “Estrella Polar III” foi adiada por 12 meses inteiros. No início de dezembro, dois Sikorsky-Mielec MH-60M Blackhawks da Base de Puduhuel embarcaram em sua longa jornada para o sul, terminando na vila mais ao sul do mundo, Puerto Williams, na Terra do Fogo.
Uma jornada de mais de oito horas sobre o famoso Estreito de Drake estava no horizonte dos FACH H-03 e o H-06, e suas tripulações até o pouso na base Presidente Eduardo Frei Monalva na Ilha Rei George. Através da Estação Britânica de Pesquisa Antártica Rothera, os dois helicópteros finalmente chegaram à Base das Forças Conjuntas, em Union Glacier, em 18 de dezembro de 2024.
A missão científica do INACH para Union Glacier só começou em dezembro passado, pois a FACH estava enfrentando problemas operacionais com sua frota de C-130, dos quais apenas dois não tinham sido atualizados com as novas lâminas Collins Aerospace NP-2000. As novas lâminas NP-2000 reduzem o alcance operacional com carga útil, comprometendo as operações para o Contingente Congelado. A FACH foi forçada a transportar cientistas do Instituto Antártico Chileno e equipe de apoio das Forças Armadas por um Ilyushin IL-76TD “Candit” EX-76015 da Antarctic Logistics & Expeditions (ALE), arrendado da New Way Cargo Airlines do Quirguistão. Além de comida e carga para o pessoal, o combustível também teve que ser transportado pelo Candit para a Union Glacier. O Il-76 da ALE foi usado pelo menos três vezes nessa expedição.
Um C-130H do Grupo de Aviación 10 (FACH 995) conduziu apenas um voo para o SCGC. Já o KC-130H FACH 992, configurado com as lâminas NP-2000, fez uma viagem de ida e volta de Chabunco a SCGC para pegar a equipe restante.
Devido ao peso dessa missão “Estrella Polar III” na qual o presidente, o ministro da defesa e o braço executivo das Forças Armadas Chilenas tiveram que ser transferidos da Base Aérea de Chabunco para a Union Glacier, a FAHh foi forçada a explorar suas opções. Acabou enviando o Gulfstream IV FACH 913 do Grupo de Aviación 10 para a Antártida pela primeira vez, onde pousou em 21 de dezembro de 2024.
Durante as primeiras horas de 3 de janeiro de 2025, o Boeing 767-300 do Grupo 10 em configuração executiva pousou em Chabunco, onde dois Gulfstream IV – FACH 911 e 913 estavam de prontidão para que o Presidente Gabriel Boric, o Ministro da Defesa Fernandez Allende e outros dignitários do governo, bem como os Comandantes da Força Aérea, da Marinha e do Exército embarcassem para o voo de quatro horas para a “Pista de Gelo Azul” da Geleira Union.
No Acampamento das Forças Conjuntas, os Twin Otters e Blackhawks foram preparados e reabastecidos para um voo a partir da “Pista de Gelo sobre o “deserto branco” para Amundsen-Scott. Após a chegada dos Gulfstream IV, o Presidente Boric e o General Rodríguez foram brifados pelo comandante da missão “Estrela Polar III” e pelo piloto do MH-60M, Major Alvaro Lamilla.
Por volta das 10h, horário chileno, a flotilha partiu para o Polo Sul sob o comando do Comandante em Chefe da FACH. Devido às linhas curtas entre os vários fusos horários a 90 graus sul, a delegação chilena de alto escalão pousou por volta das 08h na faixa de neve de 3 km de altura em Amundsen-Scott, localizada no fuso horário da Nova Zelândia, e foi recebida pelo chefe da estação americana. Além dos altos dignitários, três cientistas do INACH saíram para coletar amostras de pesquisa ao redor da estação. Depois de um tour, um briefing e várias sessões de fotos dentro e ao redor da estação americana, e apenas duas horas no solo, a delegação retornou à Union Glacier, onde os Gulfstream IV ainda estavam de prontidão para retornar todos os dignitários de volta a Punta Arenas e, após a Santiago, a bordo do Boeing 767.
Após retornar ao continente chileno, os principais veículos de notícias ao redor do mundo noticiaram a viagem do presidente Boric ao Polo Sul, notificando sobre o fortalecimento da reivindicação antártica do Chile, já que o atual tratado de 1959 está sujeito a revisão.
A “Estrella Polar III” marcou 70 anos desde a primeira travessia do continente chileno para a Antártida por um Grupo de Aviación 2 Catalina em um voo que durou 6 horas e 37 minutos. Não está claro quando uma nova edição será iniciada, o que ficará claro é o comprometimento do Chile com sua reivindicação antártica nas próximas décadas.
@CAS