Os Gêmeos do Esquadrão Pampa. No dia 13 de dezembro de 2024, aconteceu, no 1º/14º GAv — Esquadrão Pampa, em Canoas–RS, um voo marcante. Pela primeira vez, dois irmãos gêmeos univitelinos realizaram um voo de combate um contra um.
Isto é uma probabilidade tão difícil de acontecer como ganhar em uma loteria.
Na Força Aérea é raro parentes servirem na mesma Unidade Aérea ou serem operacionais na aeronave que equipa a Unidade Aérea.
Vejamos alguns casos:
Os irmãos Antonio Luiz Godoy Soares Mioni Rodrigues, da turma 1991 da Academia da Força Aérea (AFA), e o Antonio Marcos Godoy Soares Mioni Rodrigues, da turma AFA 1993, voaram juntos no 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) — Esquadrão Jaguar, em Anápolis–GO.
Posteriormente, os irmãos Daniel Martins Kruger, da turma 2008 da AFA, e André Martins Kruger, da turma 2010 da AFA, também voaram juntos no 1º GDA.
Na aviação de asas rotativas, os irmãos Caio Cesar Pereira Vargas Liguori e Igor César Nogueira Liguori, ambos da Turma 2015 da AFA, e o primo deles, Luan Nogueira Liguori, da Turma AFA 2017, voaram, por um determinado período, helicópteros H-60L no 7º/8º GAv —Esquadrão Harpia, em Manaus–AM.
Outro fato curioso ocorreu em 1985. O então Coronel Paulo Pinto, da Turma 1960 da Escola de Aeronáutica (EA), que exercia a função de subcomandante do extinto Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipagens—CATRE liderou o primeiro voo solo de elemento (dois aviões) do seu filho, o então Aspirante Paulo Dário Freire Pinto, da turma AFA 1984, no 2º/5º GAv — Esquadrão Joker. Imaginem a satisfação de um pai ter o seu filho voando solo na ala de um avião de Caça. É para poucos!
O Esquadrão Pampa teve alguns irmãos que participaram do Quadro de Tripulantes.
Os dois mais conhecidos são o Major Aviador Alberto Bins Neto, da Turma 1945 da EA, e o Capitão Jorge Frederico Bins, da Turma de 1951 da EA, voaram juntos, em 1957, o famoso e saudoso Gloster Meteor no Esquadrão Pampa.
Em 1993, Douglas Wagnitz, da turma AFA 1986, voou no Pampa entre 1993 e 1999. Seu irmão, Magno Wagnitz, da turma 1987 da AFA, também voou no Esquadrão Pampa no início de 1998, mas não tiveram a oportunidade de voarem juntos. Certamente que devem existir outros casos semelhantes na FAB.
Os Gêmeos do Pampa
Mas o fato mais inusitado, quando comparado com os descritos acima, aconteceu com os irmãos gêmeos Marcos Vinícius Bentes Corrêa e João Victor Bentes Corrêa, sendo digno deste registro. Eles têm uma carreira tão idêntica quanto a genética.
Naturais de Santarém–PA, viveram parte da infância em Porto Trombetas, na margem do Rio Trombetas, distante cerca de 200 quilômetros de Santarém. Tiveram influência materna para o ingresso na Força Aérea. Ela, por meio de amigas, recebeu os folhetos para o ingresso na carreira militar.
Após um ano de estudos em Belém, seguiram juntos para a Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR) em 2010, sendo matriculados na AFA em 2013. Foram declarados Aspirantes no ano de 2016.
O Capitão Bentes, o mais “velho”, é o 4º classificado na sua turma, enquanto o Capitão João Correa é o 5º. Até na formação acadêmica, eles estão juntos!
Os dois foram classificados para realizar o Curso de Piloto de Caça no Esquadrão Joker − 2º/5º GAv, em Natal, no ano de 2017 e, posteriormente, seguiram para realizar o curso de liderança da Aviação de Caça em locais distintos. Foi a primeira vez que se separaram na carreira deles, mas por pouco tempo.
O Tenente Bentes foi para Boa Vista, enquanto o Tenente João Corrêa foi para Porto Velho. Após serem declarados líderes de Esquadrilha da Aviação de Caça, optaram por servir na Academia da Força Aérea, onde trabalharam no comando dos Esquadrões. Além de serem instrutores militares do Corpo de Cadetes, voaram T-25 e T-27 na instrução dos cadetes. Neste período, os dois realizaram Mestrado em Ciências Aeroespaciais, na Universidade da Força Aérea (UNIFA), no Rio de Janeiro–RJ.
Após a AFA, mais uma vez, optaram por servir em um mesmo Esquadrão e o escolhido foi o Esquadrão Pampa, em Canoas. Chegaram em 2023 e fizeram o curso de piloto operacional na aeronave F-5M.
Por diversas vezes, voaram juntos em deslocamentos e outros voos do Esquadrão, porém, esta foi, sem dúvidas, a primeira vez que eles voaram um na ala do outro, realizando a mais nobre das missões da Aviação de Caça: o voo de combate.
A semelhança entre os dois, tanto na carreira quanto na aparência física, é muito rica em coincidências. Com este voo, deixam marcas na história da Aviação de Caça!
Texto: Antonio Ricieri Biasus.
@CAS