Venezuela pede prisão do presidente argentino pelo caso do confisco do Boeing 747 cargueiro da EMTRASUR. O Ministério Público da Venezuela anunciou na última quarta-feira (18), que pedirá a prisão do presidente da Argentina, Javier Milei, da Secretária Geral da presidência, Karina Milei, e da Ministra da Segurança, Patricia Bullrich. O motivo foi o “confisco ilegal”, em junho de 2022, de um Boeing 747 cargueiro da empresa estatal venezuelana EMTRASUR.
De acordo com o Procurador de Justiça venezuelano, Tarek Saab, o governo argentino “roubou” o Boeing 747 venezuelano a pedido dos EUA, o qual apontou que o avião, na verdade, pertencia a uma empresa controlada pela elite das Forças Armadas iranianas e ter ligações terroristas. Após cerca de um ano e meio retido em Buenos Aires, o jato foi levado para os EUA, ponde foi desmontado (leia mais detalhes ao final desta nota).
“As autoridades argentinas citadas serão acusadas de roubo agravado, lavagem de dinheiro, privação ilícita de liberdade, simulação de ato punível, interferência ilícita, inutilização de aeronave e associação criminosa”, afirmou Saab.
Represália
A atitude da Venezuela chega poucas horas após a Argentina pedir ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que emita ordens de prisão contra Nicolás Maduro e outros integrantes do governo venezuelano diante do agravamento da situação no país e o cometimento de atos que podem ser considerados “crimes contra a humanidade”.
Resposta Argentina
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina disse repudiar as ordens de prisão contra o presidente Milei, sob a alegação de que a entrega do avião cumpriu uma decisão judicial.
“O mencionado caso foi decidido pelo Poder Judiciário, poder independente sobre o qual o Executivo não pode nem deve ter influência nenhuma, aplicando um acordo internacional. O governo argentino lembra ao regime venezuelano que na Argentina impera a divisão de poderes e a independência dos juízes, algo que infelizmente não acontece na Venezuela sob o regime de Nicolás Maduro”, informou o comunicado.
Relembre o caso do 747 da EMTRASUR
A Empresa de Transporte Aerocargo del Sur (EMTRASUR), uma subsidiária de cargas da estatal Conviasa, foi criada através de um decreto do presidente Nicolás Maduro, publicado em 19 de novembro de 2020. Sediada na Base Aérea de El Libertador, em Maracay, a companhia aérea tinha apenas o Boeing 747-300, matrícula YV3531, adquirido da companhia aérea iraniana Mahan Air.
A justiça dos Estados Unidos investiga a negociação do B747 com a EMTRASUR, que estaria servindo de “laranja” para a Mahan Air – e o governo de Teerã – furar os bloqueios internacionais, transportando cargas ilícitas para o exterior (armas, por exemplo), além de realizar ações espionagem. Assim, a empresa iraniana – e suas subsidiárias – estão proibidas de realizar negócios internacionais envolvendo artigos e bens produzidos nos EUA, incluindo aeronaves e serviços prestados por terceiros.
Em 05 de junho de 2022, o Boeing 747-300 da EMTRASUR (YV3531) foi usado para transportar “componentes automotivos” do México para a Argentina. O voo de retorno para a Venezuela, em 08/06, tinha previsto uma escala para reabastecimento em Montevidéu, no Uruguai. O pouso foi negado pelas autoridades uruguaias as quais alegaram os bloqueios impostos pelos EUA, e a aeronave precisou retornar à capital argentina.
Após o pouso, a Polícia Federal da Argentina esperava o avião venezuelano, onde descobriu que entre os 19 tripulantes, cinco eram iranianos, incluindo o comandante do voo, Gholamreza Ghasemi, procurado internacionalmente por ligação com terrorismo. Em 2018, Ghasemi era um dos diretores de outra companhia aérea iraniana, a Fars Air Qeshm, apontada pelos EUA como tendo ligações à grupos terroristas vinculados à Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC). A justiça argentina liberou todos os tripulantes poucos dias depois, evitando problemas diplomáticos com o Irã.
Na época, o governo de Nicolás Maduro emitiu nota oficial denunciando internacionalmente o confisco do avião da EMTRASUR pelos EUA, que em “conluio” com a Argentina realizou uma ação que chamou publicamente de “roubo descarado”.
Depois de aproximadamente 18 meses parado no Aeroporto Internacional de Ezeiza, nos arredores de Buenos Aires, no dia 12 de fevereiro deste ano, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos finalmente transladou o Boeing 747 para o Aeroporto Dade-Collier Training and Transition, na Flórida. Poucos dias depois de chegar nos EUA, em 28 de fevereiro, o jumbo venezuelano foi visto sendo desmantelado, demonstrando a pressa que as autoridades americanas tinham para encerrar definitivamente esta “novela”.
@FFO