FAB divulga relatório preliminar do acidente com ATR72 em Vinhedo (SP). O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) da Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou ontem (06) o Reporte Preliminar do acidente com o ATR72-500 matrícula PS-VPB, ocorrido em 09 de agosto de 2024, em Vinhedo (SP). O documento foi inicialmente apresentado aos familiares antes de ser divulgado em coletiva de imprensa.
O voo 2283 decolou de Cascavel (PR) com destino ao Aeroporto de Guarulhos (SP), com 58 passageiros e 04 tripulantes a bordo. Até as 13h20 (horário de Brasília) o voo ocorreu com normalidade, até às 13h21 quando o Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP) perdeu o contato radar com a aeronave que colidiu contra o solo um minuto após.
De acordo com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), o SALVAERO foi acionado às 13h26 e encontrou os destroços da aeronave em um condomínio no município de Vinhedo (SP). Os investigadores do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV) de São Paulo (SP) foram notificados imediatamente.
O Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER), responsável pela condução das investigações de ocorrências aeronáuticas, formou uma multidisciplinar com investigadores e especialistas em Fator Operacional (pilotos, meteorologistas, especialistas em controle de tráfego aéreo, mantenedores de aeronaves), Fatores Humanos (médicos e psicólogos) e Fator Material (engenheiros mecânicos, aeronáuticos e eletrônicos, bem como outras áreas da engenharia).
De acordo com a legislação aeronáutica brasileira e mundial, as investigações realizadas pelo CENIPA não buscam o estabelecer culpados ou responsáveis, mas indicar possíveis fatores contribuintes que permitem elucidar eventuais questões técnicas relacionadas ao acidente. Dessa maneira, o CENIPA emite Recomendações de Segurança e a implementação de medidas para evitar eventos semelhantes, buscando o aprimoramento da segurança de voo.
Durante os trabalhos, a Comissão de Investigação identificou a sequência de eventos que antecederam a colisão do ATR72 contra o solo, com base nas informações do gravador de dados de voo (FDR) e no gravador de voz da cabine (CVR). A extração dos dados desses gravadores foi realizada no Laboratório de Leitura e Análise de Dados de Gravadores de Voo (LABDATA), do CENIPA.
De acordo com as comunicações gravadas pelo CVR, foi possível verificar que os tripulantes comentaram sobre uma falha no sistema DE-ICING, que tem a função de proteção contra formação e acúmulo de gelo na aeronave. Com as gravações obtidas pelo FDR, foi verificado ainda que o sistema AIRFRAME DE-ICING, responsável por evitar que ocorresse acúmulo de gelo nas asas, foi ligado e desligado por diversas vezes.
O Investigador-Encarregado da Comissão de Investigação, Tenente-Coronel Aviador Paulo Mendes Fróes, disse: “É importante destacar que não existe um fator único para um acidente, mas diversos fatores contribuintes. No caso do PS-VPB, a perda de controle da aeronave ocorreu durante o voo sob condições favoráveis à formação de gelo, mas não houve declaração de emergência ou reporte de condições meteorológicas adversas”, explicou.
No dia do acidente, os dados atmosféricos de ar superior indicavam que havia muita umidade e temperatura do ar abaixo de 0°C, favorecendo a ocorrência de formação de gelo severa desde o centro-norte do Paraná (PR) até São Paulo (SP) entre os níveis de voo (FL) 120 e 140, com seu topo chegando ao FL 230 na borda frontal do sistema em São Paulo (SP).
“As informações meteorológicas estavam disponíveis antes do horário da decolagem; os pilotos possuíam mais de 5.000 horas totais de voo e estavam com todas as licenças e certificações válidas. A aeronave fabricada em 2010 estava certificada para voo em condição de gelo, e os pilotos possuíam treinamento específico para esse tipo de voo. Integrando a tripulação do PS-VPB, havia também duas comissárias. Ambas possuíam a Licença de Comissária de Voo (CMS) e estavam com as habilitações para a aeronave tipo AT47 em vigor”, disse o Investigador Encarregado.
O ATR 72-212A, designado comercialmente como ATR 72-500, estava inscrito na Categoria de Registro de Transporte Aéreo Público Regular (TPR), e era certificado e equipado com sistemas que permitiam a operação em condições ambientais adversas, incluindo condições atmosféricas de formação de gelo (icing conditions).
“Novos dados estão em processo de coleta para posterior validação, a fim de fundamentar as análises, de modo a garantir a precisão e a confiabilidade das conclusões que serão apresentadas no Relatório Final”, completou o Tenente-Coronel Fróes.
Através dos dados de FDR e CVR, informações obtidas com o operador e o fabricante da aeronave, a investigação seguirá três principais linhas de ação: Fatores Humanos – que deverá explorar os condicionantes individuais, psicossociais e organizacionais relacionados ao desempenho da tripulação técnica ante a situação vivenciada; Fator Material – que investigará a condição de aeronavegabilidade, com especial atenção aos sistemas Anti-Icing, De-Icing e de proteção contra stall da aeronave; e Fator Operacional – que analisará os aspectos relacionados ao desempenho técnico dos tripulantes e dos elementos relacionados ao ambiente operacional no contexto do acidente.
O chefe do CENIPA, Brigadeiro do Ar Marcelo Moreno, ressaltou que “as informações disponíveis no Reporte Preliminar podem sofrer atualizações à medida que novos dados factuais forem obtidos. O nosso objetivo é entregar o Relatório Final no menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes.”
Ao final do processo, o CENIPA publicará o Relatório Final, conforme o que preconiza o Anexo 13 da Convenção sobre Aviação Civil Internacional, com o resultado obtido pela Investigação SIPAER em relação às circunstâncias e fatores que contribuíram para desencadear o acidente, emitindo eventuais recomendações para aprimorar a segurança de voo.
“O principal objetivo do CENIPA é assegurar que todas as lições aprendidas nesse trágico evento estejam capturadas no Relatório Final e nas oportunas Recomendações de Segurança, buscando evitar a recorrência de eventos dessa natureza, e ainda, o desenvolvimento harmônico e seguro do transporte aéreo de toda a sociedade”, finalizou o Brigadeiro Marcelo Moreno.
Acesse aqui o Reporte Preliminar.
Relatório Final
O Relatório Final da investigação será divulgado no menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência. Quando concluído, o documento será publicado no site do CENIPA. Para essas e outras informações, visite aqui o Painel SIPAER.
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