Texto: Marcelo Mendonça
Fotos: Katsuhiko Tokunada
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, as grandes potências europeias tiveram enorme dificuldade em manter suas antigas colônias e áreas de influência. Com o Império Britânico não foi diferente. Ao redor do mundo, vários povos que viviam sob seu controle foram conseguindo suas independências nas décadas seguintes. A região do Golfo Pérsico seguiu o mesmo caminho. No final da década de 1960, a região do estratégico Estreito de Ormuz, porta de entrada do Golfo Pérsico, possuía uma série de emirados controlados pelos britânicos. Em 1968, a potência europeia anunciou que iniciaria os preparativos para permitir suas independências, porém tentando manter relativo controle na região através de uma série de acordos de cooperação. A ideia principal era formar um país com os nove emirados controlados pelos europeus, porém, Bahrein e Qatar optaram por se manter completamente independentes e o fizeram no decorrer do ano de 1971.
Os emirados de Abu Dhabi e Dubai fazem uma aliança para formar o novo país e convidam os cinco remanescentes para integrarem o mesmo. Em 2 de dezembro de 1971, em uma reunião no Palácio Guesthouse de Dubai, quatro dos outros emirados concordaram em entrar, e surgem então os Emirados Árabes Unidos (EAU) ou em árabe: Al Imarat al Arabiyah al Muttahidah, o que era composto inicialmente pela união de Abu Dhabi, Dubai, Ajman, Fujairah, Sharjah e Umm Al Qaiwain, sendo os dois primeiros os mais representativos e de maior peso político, possuindo inclusive, poder de veto nas decisões nacionais.
O Conselho Supremo elegeu um presidente e um primeiro-ministro. O sétimo emirado, Ras-Al-Kaimah, uniu-se poucas semanas depois, no início de 1972, fazendo com que a composição do novo país se tornasse como a conhecemos nos dias atuais.
Vale ressaltar, que essa união é perante os organismos internacionais, pois cada emirado possui liberdade econômica e administrativa, não existindo interferência dos demais membros em sua soberania. Afortunadamente, esses sete emirados que compõem essa federação de monarquias islâmicas possui uma longa tradição de estabilidade política, com seus soberanos sendo substituídos de forma hereditária e fluída, sem que até o momento os processos sucessórios ameacem a união dos emirados.
Geograficamente, o EAU encontra-se situado no Oriente Médio, em sua maioria na parte interna do Golfo Pérsico e faz fronteira com a Arábia Saudita (ao sul e oeste), Qatar e Golfo Pérsico (ao norte) e Omã (a leste). Possui 83.600 km², sua religião oficial é o Islamismo e seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) está em incríveis 0,815, o que é considerado muito alto e condizente com uma país onde 100% da população possui acesso a água potável, e 97%, a rede sanitária de esgoto.
Nessa época, o principal produto era o petróleo. Abu Dhabi havia iniciado suas exportações do “ouro negro” em 1962, seguido em 1968 por Dubai. O dinheiro advindo dessas exportações permitiu aos seus governantes melhorar a qualidade de vida da população, através da construção de escolas, moradias, hospitais e rodovias. Após a independência, foi de grande valia para organizar e desenvolver o país, que possui 9% das reservas mundiais comprovadas de petróleo e quase 5% das de gás natural.
Abu Dhabi, cujo território corresponde a 87% do país, controla a maior parte dessa riqueza, produzindo 95% do petróleo e 92% do gás natural. Após explorar boa parte de suas reservas, Dubai executou um ambicioso plano de não ficar dependente dos mesmos, e executou medidas de diversificação econômica, apostando e tendo sucesso em empreendimentos imobiliários, turismo, e criando uma zona franca de livre comércio e outra de incentivo aos que trabalham no sistema financeiro, tornando-se um centro mundial de negócios e atraindo diversos investidores estrangeiros. Atualmente, enquanto os hidrocarbonetos respondem por apenas 6% do PIB de Dubai, o setor imobiliário chega a 23%. Com tantas riquezas e ofertas de trabalho, não é de espantar que os imigrantes representem 80% da população dos EAU. Talvez devido a isso, o país possua uma flexibilidade maior na aplicação das leis islâmicas em relação a outros países árabes, com mais liberdade em temas como consumo de álcool e direitos femininos.
Após os britânicos terem anunciado que se tornariam independentes, iniciou-se o processo de criação das forças armadas locais. As primeiras aeronaves, dois helicópteros Agusta-Bell AB-206B Jet Ranger e três aviões de transporte leve Britten-Norman BN.2A Islanders, foram alocadas ainda em 1968 no que viria a ser a Força Aérea do Exército de Abu Dhabi (Abu Dhabi Army Air Wing – ADAAW). As aeronaves entravam em operação com a inscrição “Army Air”, tanto em inglês tanto em árabe, na fuselagem.