Raras imagens do Y-9LG, o mais novo vetor de guerra eletrônica da China. Raramente visto em detalhes, a mais nova aeronave guerra eletrônica Y-9LG da Força Aérea do Exército popular da China (PLAAF) está participando de exercícios militares conjuntos na Tailândia, o que tem proporcionado uma visão clara desta plataforma de interferência eletrônica de longo alcance. Além de estar entre as mais recentes adições à frota da PLAAF, o Y-9LG é a continuação de uma impressionante família de aeronaves especiais baseadas nos turboélices de transporte Shaanxi Y-8 e Y-9.
Durante o recente Exercício Falcon Strike 2024, realizado na Base Aérea de Udorn, na Tailândia, observadores estão conseguindo obter boas imagens das aeronaves chinesas, entre elas o Y-9LG, um KJ-500 de Alerta Aéreo Antecipado e Controle (AEW&C), caças J-10C, jatos de ataque JH-7A e helicópteros táticos.
inicialmente conhecido como Y-8GX-12 “High New”, o Y-9LG foi identificado em imagens de satélite no final de 2017, mas raramente tinha sido visto desde então. No início de 2023, no entanto, foi relatado que a aeronave havia entrado em serviço na 20ª Divisão Especializada da PLAAF, subordinada ao 58º Regimento Aéreo do Comando do Teatro Sul, baseado em Guiyang-Leizhuang.
A 20ª Divisão Especializada tem entre as suas reponsabilidades o estratégico Mar da China Meridional, embora também provavelmente esteja envolvida em outras operações, como aquelas direcionadas contra Taiwan.
O Y-9LG
A característica mais proeminente do Y-9LG é sua antena de radar “balance beam” montada sobre a fuselagem, semelhante à encontrada no KJ-200 AEW&C. No entanto, enquanto o KJ-200 é equipado com um radar de alerta antecipado, o “balance beam” do Y-9LG teria a capacidade ofensiva. Neste caso, ele dispara feixes de radar direcionados eletronicamente para bloquear sinais de radar inimigos, tornando a aeronave capaz de executar ataques eletrônicos complexos e precisos contra vários alvos em longas distâncias.
Analistas do TWZ observaram outros equipamentos ao longo da fuselagem do Y-9LG, incluindo um nariz alargado, presumivelmente contendo mais uma antena de Guerra Eletrônica. As carenagens nas laterais da fuselagem traseira provavelmente guardam antenas de Inteligência Eletrônica e Medidas de Suporte Eletrônico (ELINT/ESM) de visão lateral. Antenas ESM adicionais são instaladas abaixo da fuselagem dianteira e traseira e também no topo da cauda. A capacidade ESM permite o monitoramento passivo de transmissões de radiofrequência, o que significa que o Y-9LG também pode ser empregado como um sistema de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR), coletando dados e geolocalizando radares de aeronaves, navios e instalações terrestres em alcances estendidos. Finalmente, uma antena SATCOM aparente está localizada no topo da fuselagem dianteira.
Se essa análise estiver correta e ainda houver alguma incerteza sobre as especificidades do papel da aeronave, a missão do Y-9LG seria baseada na interrupção de uma série de equipamentos inimigos — incluindo comunicações de comando e controle, sinais de radares e sistemas de navegação — para dificultar as capacidades de coordenação no campo de batalha pelo inimigo.
Assim como a mais nova aeronave de guerra eletrônica da USAF, o EC-37B Compass Call (leia aqui), e seu antecessor o EC-130H, a plataforma chinesa Y-9LG operaria de uma posição de standoff, com seu poderoso radar sendo usado contra sistemas de comunicação inimigos, além de outros tipos de ataques e interferências eletrônicas. Com seus sensores ELINT/ESM adicionais, a aeronave também seria capaz de reunir inteligência sobre uma série de emissores de ameaças, que ela poderia detectar, rastrear e geolocalizar. Esses sensores poderiam ser atacados usando potentes feixes de radar altamente direcionais da sua antena principal, ou poderiam ser repassados para outros ativos atuar, incluindo ataques cinéticos, outra área crescente de interesse. Há também a possibilidade de que o Y-9LG seja capaz de desencadear ataques cibernéticos.
Linhagem
O Y-9LG é a mais recente plataforma de interferência de longo alcance baseada no Y-8/Y-9, mas não é de forma alguma o primeiro.
O inventário do PLA já inclui o Y-8GX-3 — baseado na antiga Plataforma Y-8 Categoria II — que foi identificado pela primeira vez por volta de 2005. Por conta das carenagens laterais do tipo “bochechas de hamester”, no ocidente, a aeronave foi designada como “Mouse” e também Y-8G. Sua missão principal seria fornecer contramedidas eletrônicas de longo alcance através de sistemas de interferência instalados nas laterais da fuselagem.
O sucessor aparente do Y-8G “Mouse” é o Y-8GX-11 (ou Y-9G), identificado pela primeira vez em 2014 e baseado na plataforma mais moderna do Y-8 Categoria III, derivada do Y-9 de transporte. O Y-8GX-11 usaria a tecnologia de radar de matriz ativa para suprimir transmissões e comunicações de radares inimigos, com antenas alojadas em três grandes carenagens ovais e retangulares em cada lado da fuselagem. Outras antenas são montadas na cauda e no radome do “queixo”, enquanto várias outras antenas estão dispostas abaixo da fuselagem e na ponta das asas.
O Y-8GX-11 é encontrado regularmente operando perto do altamente estratégico Estreito de Taiwan, mas essas aeronaves também se aventuram perto do Japão e fizeram implantações nas Ilhas Spratly, no Mar da China Meridional.
Finalmente, o Y-8GX-13 (ou Y-9Z) é uma das aeronaves de missão especial mais modernas da PLAAF, cuja função seria de interferência de standoff. No entanto, analistas sugerem que esta aeronave seja uma plataforma de guerra eletrônica multifuncional, realizando outras incluindo inteligência eletrônica, vigilância terrestre e possivelmente guerra psicológica. Em 2023, o Y-8GX-13 foi visto operando próximo de Taiwan e no Pacífico ocidental perto do Japão, como foi relatado na semana passada (leia aqui).
Foco na Guerra Eletrônia
Embora essas várias plataformas de interferência de standoff possam parecer um tanto antiquadas, suas capacidades não devem ser subestimadas. Elas também apontam muito claramente para o foco do Exército Chinês (PLA) em negar o uso efetivo do espectro eletrônico a qualquer um de seus inimigos em potencial. Também está claro que os militares chineses estão desenvolvendo rapidamente capacidades de interferência para seus jatos de combate.
O PLA está desenvolvendo um conjunto cada vez mais capaz de operar em camadas de guerra eletrônica aérea paralelas às utilizadas pelo exército dos EUA. Há uma ênfase particular em fornecer suporte a distâncias de standoff, complementando aeronaves táticas que que poderiam penetrar nas bolhas de defesa aérea inimigas.
Fornecer esse tipo de suporte aéreo de interferência é apenas um aspecto das capacidades de guerra eletrônica multidomínio que o PLA está reunindo. Outros sistemas estão sendo desenvolvidos para ativos terrestres e marítimos, refletindo a natureza de potenciais ambientes de combate na região da Ásia-Pacífico.
Também é notável observar que as plataformas de transporte Y-8 e Y-9 tem se mostrado uteis para operações especiais em áreas dispersas e locais sem infraestrutura. Aeronaves turboélices de missões especiais aparecem rotineiramente em alguns postos avançados de ilhas da China, bem como operam regularmente no Estreito de Taiwan.
Quando se trata de Taiwan, fornecer suporte aéreo de guerra eletrônica (bem como por terra e no mar) seria uma missão fundamental em qualquer grande intervenção militar chinesa no Estreito, especialmente tendo em mente as significativas capacidades de defesa aérea que Taiwan pode oferecer.
Um conflito em larga escala contra outros adversários em potencial na região Indo-Pacífico, como a Índia ou mesmo os Estados Unidos, também veria esforços intensos para dominar o espectro eletromagnético.
Isso é algo que os militares dos EUA estão bem cientes. Em 2021, por exemplo, o Secretário da USAF, Frank Kendall, alertou especificamente que as capacidades de guerra eletrônica eram um dos focos do PLA. Ele observou que a China tem “aumentado os níveis de inventário e a sofisticação de suas armas e modernizado sistemas redundantes em todas as cadeias de destruição que dão suporte às suas armas”. Esse enorme investimento chinês em ISR de standoff aerotransportado também inclui AEW&C, levando a uma frota diversificada e crescente.
Embora as capacidades exatas do Y-9LG permaneçam classificadas para o ocidente, como convém à obscura missão de guerra eletrônica, a sua aparição em um exercício bilateral significa não apenas sua importância em uma variedade de cenários potenciais, mas também reflete, de forma mais clara, a forte ênfase do PLA em lançar novas e robustas capacidades neste campo operacional à medida que continua sua campanha de modernização.
Fonte: TWZ
@FFO