Falha mecânica causou o trágico acidente com V-22 Osprey da USAF no Japão no ano passado. O acidente com um CV-22 Osprey da USAF que matou oito militares no ano passado, no litoral do Japão, foi causado por uma “falha catastrófica” de uma engrenagem na gear box (caixa de engrenagens) da aeronave, levando a perda de controle momentos antes dos pilotos do pouso. A informação foi publicada no relatório divulgado na quinta-feira (1º/08).
O histórico de acidentes fatais nos últimos anos e os já conhecidos problemas com a gear box do Osprey deixaram a frota em terra por meses, além de levantar questões sobre o futuro destas aeronaves. O trágico acidente de 29 de novembro de 2023 com a aeronave do Comando de Operações Especiais da Força Aérea (AFSOC), levou o Comando a reavaliar e limitar a utilização dos Osprey.
O CV-22 tem duas caixas de engrenagens de rotor de hélice montadas nas naceles de cada motor, o que permite que a aeronave “tiltrotor” decolar como um helicóptero e voar como um avião. Embora autoridades envolvidas no programa Osprey tenham dito logo após o acidente no Japão que o problema não envolveu o“hard-clutch engagement” (engate de embreagem-dura, em tradução livre), um conhecido problema de transmissão responsável por acidentes anteriores, a falha de 29 de novembro envolveu a problemática gear box.
Na ocasião, uma das engrenagens sofreu desgaste acentuado, liberando pequenos fragmentos de metal (“chips”) na caixa de câmbio, ocasionando uma falha catastrófica no motor esquerdo, fazendo a aeronave mergulhar de nariz no oceano. “A aeronave fez dois giros completos e acabou impactando na água”, disse o Tenente-General Michael E. Conley, chefe do AFSOC, em entrevista coletiva.
O acidente no Japão matou todos os oito militares a bordo, e foi a ocorrência com o maior número de vítimas fatais envolvendo um CV-22. Existem cerca de 400 V-22 de diversas versões na USAF, Marinha e Corpo de Fuzileiros Navais. Desde 1992, foram 11 acidentes com o Osprey, nos quais 61 pessoas morreram.
Em uma atitude rara, o relatório colocou parte da culpa no Pentágono: “As avaliações de segurança e suas descobertas receberam tratamento insuficiente no nível do programa e foram comunicadas inadequadamente aos serviços militares, criando falta de conscientização abrangente dos riscos do PRGB [prop-rotor gearbox] e limitando oportunidades de impor medidas de mitigação de risco no nível do serviço ou unidade… Concluo, pela preponderância das evidências, que a ação inadequada no nível do programa e a coordenação entre o escritório do programa e os serviços impediram a conscientização abrangente dos riscos do PRGB e contribuíram substancialmente para o acidente.”
A complexidade do sistema de transmissão do Osprey é um problema conhecido desde que a aeronave estreou na década de 1990. O motor, o peso e a vibração giram, colocando enorme estresse nas engrenagens e no eixo de transmissão. O relatório ressalta isso.
O relatório também descobriu que as ações dos pilotos contribuiu para o acidente, uma vez que eles estavam cientes do problema e deveriam ter pousado antes. Eles adiaram um pouso de emergência apesar dos repetidos alarmes na cabine. Apesar disso, o relatório citou esta falha como contribuinte para o acidente, e o problema com a gear box como fator primário.
A aeronave tem um sensor para detectar e um sistema para eliminar os fragmentos de metal no óleo, e um alerta para os pilotos no painel. O relatório ressalta que esse problema é característico das gear box de outras aeronaves, portanto, não é exclusivo do V-22.
Durante o voo de novembro, a tripulação recebeu seis alertas de “chip burn” no painel de avisos. Os pilotos decidiram pousar após três alertas, e a queda aconteceu a apenas 10 milhas do campo de pouso mais próximo. “Houve um senso de urgência insuficiente durante toda a sequência”, disse o relatório.
O piloto do “GUNDAM 22” (indicativo de chamada do voo), também era o Comandante do Exercício e pode ter sentido a pressão para completar a missão, relatou o documento. A tripulação recebeu seis alertas no total, sendo que o último indicava que o processo de “chip burn” não estava mais sendo realizado. As peças degradaram o funcionamento da caixa de engrenagens a ponto de não girar mais o motor esquerdo.
Minutos antes da queda, a tripulação estava em voo pairado e aguardando autorização do controle de tráfego aéreo japonês para pousar em um campo de aviação em Yakushima. O Osprey caiu na água, matando todos os oito militares do do 21º Esquadrão de Operações Especiais, 1º Esquadrão de Operações Especiais e 43º Esquadrão de Inteligência.
Desde março, o AFSOC e a USAF não utilizam seus Osprey em missões de combate. “Estes foram meses difíceis. Perdemos oito colegas que eram membros valiosos deste comando”, afirmou o relatório.
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