Enchentes no RS: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Em um célebre discurso(1) de Winston Churchill, proferido em 20 de agosto de 1940, na Câmara dos Comuns no Reino Unido, o Primeiro-Ministro desatacou os esforços que estavam sendo realizados pela Real Força Aérea — RAF, ombreadas por pilotos de outros países, que lutavam na Batalha da Grã-Bretanha contra a então temível Força Aérea Alemã.
Fazendo um paralelo com esta célebre frase, as Forças Armadas do Brasil tiveram, até a terceira semana da Operação Taquari II, um destaque em diversas ações que só poderiam ser executadas por elas. Poucos fizeram e estão fazendo muito para tantos!
Se, no primeiro momento, o grande destaque foi o povo pelo povo, salvando, de imediato, pessoas que estavam em iminente perigo, as FFAA, que também fazem parte deste mesmo povo, entraram em operação para consolidar as ações que estavam em curso e, dando prosseguimento a elas, continuam e continuarão na batalha para trazer normalidade aos mais de 467 municípios atingidos pela enchente.
As FFAA e demais equipes envolvidas nos esforços, resgataram mais de 70.000 pessoas e mais de 10.000 animais, chegando nos locais onde as primeiras pessoas que chegaram para efetuar os resgates não tiveram acesso ou encontraram dificuldades nestes resgates. Foram utilizados os principais meios e equipamentos disponíveis nas FFAA para executarem estas missões, desde óculos de visão noturna até o emprego de veículos aéreos não tripulados — VANT. Sem contar com helicópteros, carros de combate, barcos e equipes especializadas em resgate das três Forças Armadas.
Missões especiais foram realizadas diuturnamente, tais como resgates ou remoções de recém-nascidos, transporte de feridos em situação de risco ou transporte de motores, geradores ou comida, onde e quando foi necessário. Onde o único meio de realizar a missão dependia de ações militares, eles estavam lá, como, por exemplo, entregando gêneros e água lançados por aeronaves em localidades isoladas. O povo também ajudou e continua ajudando até onde vai a sua capacidade, mas, além disto, só as FFAA. Este serviço continuará a ser executado por muito tempo.
Foram ainda ativados 11 hospitais de campanha, com especialistas em diversas áreas, que já realizaram cerca de 10.000 atendimentos, em diferentes localidades, agregando aos esforços dos hospitais locais, o atendimento à população necessitada, trazendo alívio e recuperação para muitos doentes.
Para reestabelecer a volta do fluxo nos 102 trechos bloqueados em 47 rodovias, foram instalados dez pontos de travessia e mais dois estão em fase de instalação, além de maquinário para ajudar aos órgãos públicos no reestabelecimento da circulação de veículos, principalmente nas localidades isoladas ou de difícil acesso. Os equipamentos das FFAA já removeram mais de 12.000 entulhos, permitindo a liberação de vias para acesso de pedestres.
Até o momento, mais de 2.500 toneladas de material diverso já foram transportadas por aeronaves e helicópteros, além de 56.000 metros cúbicos de material transportado por viaturas.
Este esforço, que espalhado por diversas localidades do Estado, parece pouco, mas, ao todo, somam mais de 60 aeronaves, 620 embarcações, 6 navios multitarefas, incluindo o maior navio de guerra da América do Sul, o Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico (A140), além de 4.500 viaturas, diversas e mais de 330 equipamentos de engenharia. Um esforço enorme, sem dúvidas.
Além disto, centenas de toneladas de refeições, mantimentos, medicamentos e donativos já foram transportados. Outros continuam a caminho e serão também distribuídos até a volta à normalidade.
Até a Base Aérea de Canoas da FAB, único aeroporto da região em condições de receber aeronaves de grande porte para os voos comerciais, está entrando em uma nova fase de operação, pois, começará a receber aviões com passageiros até que as operações no Aeroporto Internacional Salgado Filho, sejam totalmente reestabelecidas.
Neste período, a Base Aérea receberá a aviação comercial, que operará, ombro a ombro, com as aeronaves militares em apoio às operações. Posteriormente, com suas aeronaves orgânicas, a Base continuará cumprindo a sua missão constitucional.
Não parece, mas mais de 32.000 militares, policiais e agentes diversos estão diretamente envolvidos na operação, sendo todos parte deste povo e que, pelo povo e para o povo, exercem as suas atividades para o alívio de todos os atingidos.
Também parafraseando Churchill, as Forças Armadas “Não têm nada a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”. Esta frase bem traduz tudo o que foi feito, está e continuará a ser feito por homens e mulheres que, no anonimato, exercem suas tarefas, diuturnamente, para que outros possam viver.
O pequeno Murilo de Brito Camargo, morador de Canoas–RS, fez um desenho publicado por sua mãe nas redes sociais traduz, no seu desenho e com uma frase, todo o esforço que está sendo realizado pelas Forças Armadas:
“Meus heróis mudaram”!
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(1) Foi um discurso de guerra proferido na Câmara dos Comuns do Reino Unido pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill em 20 de agosto de 1940. O nome deriva do nome específico linha no discurso, “Nunca, no campo do conflito humano, tantos deveram tanto a tão poucos”, referindo-se aos esforços em curso da Royal Air Force (RAF) e outras tripulações aliadas que estavam lutando na Batalha da Grã-Bretanha, o pivô batalha aérea com a Luftwaffe alemã.
O discurso ocorreu em meio aos planos alemães de invasão. No final de junho de 1940, a Luftwaffe tinha uma grande superioridade numérica sobre a RAF, com cerca de 2.550 aviões em comparação com os únicos 750 aviões da RAF. Os pilotos que lutaram na Batalha da Grã-Bretanha são conhecidos como “os poucos” desde então, às vezes sendo especificamente comemorados pelo Dia da Batalha da Grã-Bretanha, em 15 de setembro. O discurso se tornou um dos mais famosos de Churchill, junto com frases como “nós lutaremos nas praias”, “sua melhor hora” e “Não tenho nada a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”.
Texto: Antonio Ricieri Biasus.
@CAS