F-35A novamente para a Turquia? Parece uma piada de mal gosto, mas num mundo tão confuso em que vivemos, onde o que vale hoje não vale amanhã, a história de “reverter” o alijamento da Turquia do Projeto F-35 (JSF), parece que pode acontecer.
A história vem a tona depois que os EUA autorizaram a Grécia de comprar até 40 F-35, com sinais que o Governos Americano — leia-se administração Biden em ano de eleição, estaria disposta a apoiar a volta dos turcos ao projeto, desde que eles abrissem mão dos sistemas de defesa antiaérea S-400. Ou seja, a mesma história de 2019.
Seria uma reviravolta notável após o país ter sido expulso do JSF em julho de 2019, após ter adquirido os S-400 russos. A forte imposição veio especialmente dos EUA, na administração Trump. Inclusive, o Governo dos Estados Unidos anunciou a imposição de sanções à Turquia no dia 14 de dezembro de 2020, sob os temos da Lei de Combate aos Adversários da América (CAATSA — Countering America’s Adversaries Through Sanctions) como consequência da aquisição do S-400 (SA-21 ‘Growler’).
A Turquia planejava a compra de 100 F-35A para equipara Turkish Air Force (TuAF). Em julho de 2019 o país foi excluído do JSF e suas aeronaves foram retidas em solo americano, com o treinamento de seus pilotos suspenso, face à aquisição do sistema russo de defesa antiaérea. A principal alegação americana é o que o uso do S-400 pela Turquia poderia comprometer a capacidade furtiva do F-35, além da possibilidade de existir vazamento de informações críticas da aeronave aos russos e chineses.
A reclamação americana foi prontamente acatada por outros parceiros do programa, que concordaram na retirada dos turcos do projeto, mesmo eles sendo parceiro nível 3 do JSF.
O curioso é que parte dos F-35A construídos para a TuAF — oito das quais estão prontas, e que hoje estão estocados nos EUA.
Agora, mais uma vez, o S-400 é o fator crítico, com os Estados Unidos aparentemente exigindo que a Turquia desista destes sistemas antes de poder voltar a ter chance de ter os F-35. A vice-secretária de Estado em exercício, Victoria Nuland, disse à CNN Türk sobre a possibilidade de a Turquia voltar ao programa Joint Strike Fighter durante uma visita ao país no fim de semana.
“Estávamos no processo de negociação da venda do Patriot e, enquanto essas negociações decorriam, a Turquia seguiu em outra direção”, teria dito Nuland. “Francamente, se pudermos resolver esta questão do S-400, o que queremos fazer, os Estados Unidos ficariam satisfeitos em receber a Turquia de volta à família F-35. Mas temos de resolver primeiro esta outra questão e, ao mesmo tempo que a resolvemos, temos também de garantir que a Turquia tenha uma defesa aérea forte”.
O desenvolvimento ocorre poucos dias após o anúncio de que o Departamento de Estado dos EUA aprovou uma possível venda militar estrangeira para a Turquia de 40 novos caças F-16C/D Bloco 70, além da atualização de 79 aeronaves existentes para a configuração F-16V. Juntamente com um enorme pacote de armas — incluindo quase 1.000 mísseis ar-ar avançados de médio alcance AIM-120 (AMRAAM), em acordo poderá valer até US$ 23 bilhões, se for executado na íntegra. Foi o fim de uma novela que se arrasta dede 2021.
Nuland também se referiu ao pacote recentemente proposto para o F-16, observando que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso dos EUA, mas que é “uma prioridade para os Estados Unidos”. Ela observou que “o desenvolvimento da frota F-16 pela Turquia é muito importante para a segurança americana, e que estar totalmente ativo e participar neste nível é importante para a partilha de encargos entre os aliados”.
A Turquia esperava há muito tempo introduzir o F-35A como seu caça de nova geração, tanto que virou parceiro do JSF. Mas erros de planejando político, criaram um impasse que agora, face à compra do seu maior rival — a Grécia, do mesmo F-35, pode ter criado um novo posicionamento: o de buscar o equilíbrio do Mar Egeu. Só com o F-16V, não seria possível ter um equilíbrio, com uma Hellenic Air Force operando F-16V, F-35 e Rafale.
Some-se a isto que houve um oportunismo dos EUA de trazer a Turquia mais próxima da OTAN, em meio à guerra contra a Rússia, em um movimento de isolar Putin. Algo que não sabemos se funcionará.
Ancara tentou compensar a perda dos F-35 com mais F-16, algo que os EUA estavam bem relutantes em ceder. A Turquia recusou uma aparente oferta russa de caças Su-57 Felon e até recorreu à compra de um lote Eurofighter Typhoon como um potencial novo caça, mais como uma resposta aos Rafales Gregos. No fim, o resultado parece ser melhor que o previsto. Além de ter finalmente obtido os F-16, pode até voltar a ter os F-35. Quem irá ficar muito feliz com isto é a Lockheed Martin, sem dúvida.
@CAS