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A Aviación Militar Bolivariana (AMB), como é chamada a Força Aérea Venezuelana, possui um poderio aéreo considerável, comparado a seus vizinhos sul-americanos. Enfrentando desafios e restrições orçamentárias, o país tem mantido a operacionalidade de sua frota mesmo sob embargos internacionais em oposição ao atual governo. Em meio a toda a problemática que envolve crises internas e externas, o governo de Nicolás Maduro decide retomar uma antiga questão territorial com a vizinha Guiana, ato que pode iniciar um período de instabilidade em toda a região. Estaria a AMB preparada para o desafio neste momento?
Ângelo Melo
A força aérea venezuelana possui uma história marcada por momentos de pioneirismo, conflitos e crises. Em 103 anos, a entidade apresentou uma constante evolução tecnológica, sempre se destacando dos demais países da região. Sua história se inicia em 1920, mais precisamente no dia 17 de abril, com a criação da escola de aviação militar, que culmina com a ativação da Força Aérea do Exército, no dia 10 de dezembro. A primeira ação de emprego real ocorreu em 12 de agosto de 1929, durante uma operação de combate a um grupo de insurgentes ao governo de Juan Vicente Gómez.
Em 10 de outubro de 1947, a entidade torna-se independente do Exército com a criação da Força Aérea Venezuelana (FAV). Em seus primeiros anos de história, a FAV possuía um parque aeronáutico modesto, composto quase exclusivamente por aeronaves francesas. No período pós-guerras, a FAV adquiriu as primeiras aeronaves norte-americanas, com a inclusão do Republic P-47 Thunderbolt, e bombardeiros North American B-25J Mitchell. Em 1949, com a aquisição dos De Havilland DH-100 Vampire, a FAV passou a ser a segunda força aérea sul-americana a operar aeronaves a reação. O Brasil recebeu suas primeiras aeronaves a reação – Gloster TF-7/F-8, apenas quatro anos mais tarde, em 1953. Já nos anos 1950, foram incorporados bombardeiros English Electric Canberra e caças North American F-86F Sabre e De Havilland Venom, tornando a FAV uma das mais atualizadas da região.
Nos anos 1960, são adquiridos 15 OV-10E para auxiliar nos combates antiguerrilha. Em 1972, são introduzidos 20 caças Canadair/Northrop CF-5A/D (ex- Royal Canadian Air Force) e, em 1973, os Dassault Mirage III/V, como resposta à incorporação dos Mirage V pela Colômbia, país que mantinha disputas relacionadas ao mar territorial do golfo da Venezuela. Os CF-5 foram designados localmente VF-5A/D, sendo complementados, em 1993, por mais um lote de 6 NF-5A/B (ex-Royal Netherlands Air Force).
Na década de 1980, com o aumento da capacidade de combate de Cuba, a FAV conseguiu negociar com Washington a compra de um lote de caças General Dynamics F-16A/B Block 15 para fazer frente a aeronaves Mig-21, Mig-23 e Mig-27 da Força Aérea de Cuba. Dessa maneira, em 1983, a Venezuela tornou-se o primeiro país latino-americano a operar um caça de terceira geração. Em 1987, com a retomada da tensão entre Venezuela e Colômbia, são adquiridos oito Mirage 50. Como podemos ver, a FAV havia se tornado uma Força Aérea pequena, mas bem-equipada, que somada à prosperidade econômica do país nos anos 1970 a 1990 (fruto do petróleo) criava um cenário inimaginável para os dias de hoje. De um país com excelentes índices econômicos e sociais e, além disso, próspero. Mas tudo iria mudar.
No ano de 1992, o país sofreu uma séria crise interna com duas tentativas de golpe de estado. No dia 27 de novembro, um grupo de militares da FAV se juntou ao golpe, realizando combates aéreos contra a própria força aérea. Na ocasião, aeronaves Rockwell OV-10 Bronco executaram missões de ataque às instalações da Base Aérea Teniente Vicente Landaeta Gil, destruindo vários VF-5 (CF-5). Um OV-10 foi derrubado por um míssil antiaéreo disparado das instalações de Fuerte Tiuna em Caracas e um F-16 pilotado por um piloto leal ao governo derrubou dois OV-10 Bronco sobre a Base Aérea El Libertador, em Palo Negro. Com a chegada de Hugo Chaves ao poder, em 1999, o país passou uma profunda mudança política com o início da chamada Revolución Bolivariana. Neste contexto, as forças nacionais foram reformuladas, criando-se a Fuerza Armada Nacional Bolivariana (FANB).
Em 2007, a Fuerza Aerea Venezolana passou a ser denominada Aviación Militar Bolivariana (AMB). Esse período trouxe ainda uma série de consequências decorrentes dos embargos internacionais ao governo Chavista. O nível de disponibilidade e manutenibilidade das aeronaves caiu consideravelmente, devido à escassez de peças de reposição e pelo fato de a maioria dos componentes ser de procedência estadunidense.
Fornecedores como Embraer e Elbit também foram impedidos de vender serviços de manutenção, atualizações e componentes à AMB por pressão norte-americana. Desde então, o governo venezuelano vem procurando outros fornecedores como Rússia, China e Irã. Em julho de 2006, a AMB adquiriu um lote de 24 caças Sukhoi Su-30Mk2V da Rússia. Aeronaves chinesas, como o Shaanxi Y-8F-200W e o Hongdu K-8W Karakorum, também foram incorporados nesse período para preencher a lacuna deixada pela baixa dos Lockheed Martin C-130E/H e Canadair CF-5A.
Atualmente, a entidade conta com um efetivo de mais de 11 mil homens, 13 bases aéreas, e possui em torno de 220 aeronaves, dentre elas, 16 F-16A/B, 21 Su-30MKV, 23 Hongdu K-8W e 10 Emb-312V Tucano. Especula-se que a AMB possua em torno de 15 veículos aéreos não tripulados (UAV) Cavim, desenvolvidos em parceria com o Irã.
A estrutura organizacional da AMB é dividida em comandos aéreos: Comando aéreo de Educação (CAE), Comando Aéreo Logístico (COL), Comando aéreo de Pessoal (CAP) e Comando aéreo Operacional (CAO). O CAO integra 14 Grupos Aéreos designados para executar tarefas específicas, como ataque, caça, operações especiais, transporte e treinamento. Atualmente, os principais Grupos Aéreos de combate estão alocados em quatro bases aéreas da AMB:
Localizada na cidade de Palo Negro, estado de Aragua. A BAEL (SVBL) sedia os seguintes grupos aéreos:
– Grupo Aéreo de Transporte Nº 6 “Los Pegasos”.
Opera aeronaves Lockheed C-130H Hercules, Shaanxi Y-8F-200W e Short 360-300. Missão: transporte de carga e pessoal e apoio logístico e tático.
– Grupo Aéreo de Inteligencia Vigilancia y Reconocimiento Nº 8 “Generalíssimo Francisco de Miranda”.
Opera aeronaves Dassault AMD/BA Falcon 20C e Fairchild C-26B Metro III/EW.
Missão: reconhecimento e vigilância eletrônica.
Também opera os UAV Cavim Arpia-1 (Mohajer 2), esses no Esquadrão Aéreo não tripulado Nº 83, que é subordinado ao Grupo Aéreo nº 8.
– Grupo Aéreo de Operaciones Especiales Nº 10 “Los Cobras”.
Opera helicópteros Eurocopter AS 332B Super Puma e Eurocopter AS.532AC Cougar.
Missão: operações contrainsurgência (COIN) e busca e resgate (SAR).
– Grupo Aéreo de Caza Nº 11 “Los Diablos”.
Opera 11 caças Sukhoi Su-30MK2V.
Missão: realiza tarefas de caça, ataque e treinamento.
– Grupo de Entrenamiento Aéreo Nº 14 “Los Escorpiones”.
Opera aeronaves Aermacchi F-260EV e Embraer EMB-312 (T-27V) Tucano.
Missão: responsável pelo treinamento de voo primário e básico.
– Grupo Aéreo de Caza Nº 16 “Los Dragones”.
Opera 16 General Dynamics F-16A/B.
Missão: caça e ataque.
@CAS