Maduro realizará referendo para anexar parte da Guiana à Venezuela. A Venezuela fará neste domingo (03/12), um referendo público consultivo sobre a anexação de uma parte do território da Guiana. O governo de Maduro reivindica a região de Essequibo, a qual representa mais da metade da área da Guiana.
Com cerca de 160.000 km², a região de Essequibo é habitada por mais de 300 mil guianenses. Com uma costa marítima para o Atlântico e grandes florestas virgens, a Essequibo contém enormes fontes de recursos naturais, como ouro e petróleo.
Em uma postagem no X, (antigo Twitter), Maduro afirmou que o referendo acontecerá no dia 3 de dezembro. “O nosso povo decidirá democraticamente o seu futuro e destino. Em um dia que convoca a todos nós, para além das diferenças, pela defesa territorial e pelo respeito pela nossa soberania.”
Segundo o governo da Guiana, o referendo representa um um crime internacional e uma ameaça existencial à integridade territorial do país e pediu ao Tribunal de Haia que o impedisse.
A Guiana entrou com uma ação no Tribunal Internacional de Justiça para barrar a realização do referendo. A Venezuela, por sua vez, criticou o pedido, argumentando que ele interfere nos seus assuntos internos. “Nada impedirá a realização do referendo marcado para 3 de dezembro”, afirmou ao tribunal a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez.
O ministro das Relações Exteriores da Guiana, Hugh Todd, chamou a Venezuela de um “Estado tirano”, acusando Nicolás Maduro de não respeitar tratados e acordos internacionais.
Analistas afirmam que o referendo tem um tom nacionalista em um momento-chave do governo de Maduro, que está preparando suas bases para as as eleições presidenciais de 2024.
Petróleo e gás natural
As tensões entre a Venezuela e a Guiana aumentaram desde que dezenas de depósitos de petróleo começaram a ser descobertos em 2015 na área de Essequibo. Um consórcio liderado pela americana ExxonMobil foi contratada pela Guiana para explorar a região, onde até agora descobriu pelo menos 46 locais de interesse, o que elevou as reservas de petróleo da Guiana para cerca de 11 bilhões de barris, representando cerca de 0,6% do total mundial.
A maior parte dessas reservas está localizada num bloco de petróleo e gás de 26.000 km² conhecido como Stabroek, ao largo da costa atlântica do país. Uma parcela importante desse bloco está localizada nas águas da região reivindicada pela Venezuela.
De acordo com a BBC, as descobertas tornaram a Guiana, um país de 800.000 habitantes, uma das economias que mais crescem no mundo. Seu produto interno bruto (PIB) deverá crescer 25% este ano, depois de ter expandido 57,8% em 2022.
Guiana não cederá seu território
Para o governo da Guiana, não existe disputa fronteiriça, que foi resolvida há mais de um século com a Sentença Arbitral de Paris de 1899, na qual a Linha Schomburgk foi estabelecida como a fronteira entre os dois territórios.
Pouco antes da independência da Guiana do Reino Unido em 1966, Caracas e Londres assinaram o Acordo de Genebra, um tratado ainda em vigor que reconhece a reivindicação da Venezuela e procura encontrar soluções para a disputa. Esse acordo é a “carta na mang” de Maduro, que rejeita a competência do Tribunal de Haia para definir a questão.
Em tom afirmativo, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, garantiu que seu país não abrirá mão de nenhuma parte do território. “Que ninguém cometa um único erro. Essequibo é nosso, cada centímetro quadrado”, disse Ali.
Brasil
Com uma grande área fronteiriça com ambos países, o Brasil, atual aliado do governo de Nicolás Maduro, tem se mantido distante desta disputa. Nos últimos dias, moradores de Roraima divulgaram imagens nas redes sociais a movimentação “anormal” de veículos militares do Exército Brasileiro em Pacaraima, divisa com a Venezuela.
Até o momento não foi divulgada nenhuma nota oficial por parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ou do Comando Militar do Norte.
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