Morre Viktor Belenko, piloto que roubou um MiG-25 em 1976. O piloto de caça Viktor Belenko, que ficou famoso ao desertar da então Força Aérea Soviética em 1976, levando um MiG-25 para o Japão em 1976, morreu em Rosebud no sul de Illinois. Ele tinha 76 anos.
Belenko morreu no dia 24 de setembro de 2023 em uma casa de repouso após uma convalescer de uma doença repentina não divulgada pela família. No momento de sua morte, seus filhos Tom e Paul estavam ao lado do piloto. Eles decidiram não realizar uma cerimônia fúnebre após a morte de Belenko, que só foi divulgada este mês.
Belenko desertou no auge da Guerra Fria, levando consigo uma das aeronaves da União Soviética mais emblemáticas da época: o Mokoyan-Gurevich MiG-25 Foxbat. Num dia claro de final de verão de 1976, durante um voo de treinamento, Belenko rompeu com a URSS, deixando tudo para trás em uma ousada fuga.
O Tenente Victor Belenko planejou sua fuga com alguma precisão. A ideia era decolar para um voo normal, de rotina, voar na direção do limite da área de instrução, e de repente, colocar o nariz embaixo e colar rasante no mar até atingir o litoral. Sobre o Mar do Japão, seguir até um aeródromo no oeste do arquipélago japonês e pedir asilo.
No dia 6 de setembro de 1976, Victor Belenko decolou para um voo de treinamento de combate, e no início da missão, abandonou a formatura como se tivesse perdido o controle de seu avião. Agiu de tal forma que seus alas não perceberam direito o que ocorrera, tanto que o deram como acidentado e desaparecido. Ele voou rasante, metros sobre as ondas e foi na direção do Japão. Preocupado com uma possível perseguição ou mesmo com uma possível interceptação por parte dos japoneses, ele cruzou o Mar do Japão em voo supersônico.
Ao aproximar-se da costa japonesa, teve a primeira surpresa: a meteorologia estava péssima. Chovia muito e a visibilidade era mínima. A pista inicialmente escolhida não foi encontrada, e aí, ele tinha um problema: o MiG-25P (Vermelho 31) não tinha cadeira de ejeção, o combustível estava acabando, e ele não tinha a menor noção de onde se encontrava! Iniciou, então, uma busca por algum lugar onde pudesse pousar.
Ciscando entre as nuvens, lá pelas tantas, por sorte, visualizou uma pista asfaltada. Foi o tempo de reduzir o motor, baixar o trem de pouso e se jogar do jeito que dava. Conseguiu aterrissar, mas varou a pista, indo parar a poucos metros de um sítio de antenas, quase quebrando o avião. Apesar da manobra tosca, o MiG resistiu ao impacto. Ele pousou na pista 12 do aeroporto civil de Hakodate, na ilha de Hokkaido no puro instinto com seu MiG-25P Foxbat-A, o “Red 31”.
“No pouso, um motor apagou, e quando o avião parou fora da pista, cortei o outro. Chovia muito e fiquei no avião esperando o que ia acontecer. Depois de uns cinco minutos, apareceu um japonesinho, que se aproximou do avião devagar, olhando assustado, chegou perto e sacou uma máquina fotográfica do bolso. Bateu várias fotos e saiu correndo. Continuei esperando, e cinco minutos depois, apareceram mais uns 20 japonesinhos, todos com máquinas fotográficas e batendo fotos. Mais cinco minutos e chegou a polícia do aeroporto, que ordenou que eu saísse do avião. Somente depois é que fui informado que eu havia pousado do outro lado da ilha de Kokaido, no aeroporto de Hakodate, e que nos tanques do meu MIG só tinha combustível para mais 30 segundos de voo!” — Comentário de Victor Belenko sobre o seu pouso no Japão, em uma matéria na RFA 136.
Victor Belenko foi interrogado pelas autoridades japonesas, e logo depois foi enviado às autoridades americanas, a quem pediu asilo político e em 1980, lhe concedeu cidadania americana. Quanto ao MiG-25, o grande segredo militar russo, foi completamente desmontado pelos japoneses juntamente com os americanos (CIA/NASA/USAF), e somente devolvido aos russos 60 dias depois, em 90 caixas, que foram embarcadas em um navio russo.
Por abrir ao ocidente um dos maiores segredos militares da União Soviética — graças a ele os americanos tiveram acesso não só a todas as frequências militares, como também, aos segredos do piloto automático e do excelente radar do MiG-25 — Victor Belenko foi condenado à morte por um tribunal militar russo e jamais poderia regressar a URSS.
“Após uns 15 dias interrogado, os americanos me deram asilo político e me puseram num submarino nuclear. Foi assim que vim para os Estados Unidos, de submarino. Chegando aqui, recebi nova identidade e fiquei uns 10 anos escondido. Casei com uma americana, de quem, aliás, já estou separado, e somente agora, de uns anos para cá, é que recuperei minha identidade” — Comentário de Victor Belenko na RFA 136.
Nos EUA ele trabalhou com o Departamento de Defesa (US DoD) dando instrução de táticas soviéticas de combate. Com o fim da guerra fria participou de shows aéreos, palestras, escreveu livros e deu consultoria a empresas de aviação e de outros segmentos.
Viktor Ivanovich Belenko nasceu em 15 de fevereiro de 1947, em Nalchik, uma cidade russa no sopé das montanhas do Cáucaso. Seu pai trabalhava em uma fábrica, sua mãe em uma fazenda. Mesmo para os padrões soviéticos, eles tinham muito pouco dinheiro. Mas Viktor dedicou-se aos estudos e às atividades no Partido Comunista, tornando-se membro dos Jovens Pioneiros, um grupo de jovens que treinou futuros membros do partido.
Ele tinha pouca ideia sobre a vida na América, exceto que ela deveria ser melhor do que a que encontrou na União Soviética. “Desejava a liberdade nos Estados Unidos. A vida na União Soviética não mudou em relação à que existia nos dias da Rússia czarista, onde não havia liberdade. Por isto resolvi fujir”.
Nos EUA casou-se com Coral Garaas, divorciando-se anos depois. Teve dois filhos — Paul Schmidt e Tom Schmidt, e quatro netos. Embora alguns relatórios afirmem que ele havia deixado esposa e filho para trás na União Soviética, o Sr. Belenko disse ao filho que isso não era verdade e era resultado da propaganda soviética.
@CAS