EUA sofrem restrições para operações antiterroristas no Níger e África Ocidental. Os voos de drones militares das Forças Armadas dos Estados Unidos baseados nas bases no Níger, estão sofrendo restrições desde o último golpe de estado ocorrido no mês de julho. A informação foi obtida pela Voz da América (VOA), que ouviu dois funcionários do governo americano, sob anonimato.
Especialistas ouvidos pela VOA chamam a atenção de que essas restrições, provavelmente estão dificultando a ação da missão internacional que combate o terrorismo na África Ocidental. O Pentágono não discute publicamente suas operações de segurança e contraterrorismo, mas afirma que os militares dos EUA suspenderam a “cooperação de segurança” no Níger devido a instabilidade política no país.
O secretário de imprensa do Pentágono, Brig. General Pat Ryder, disse em entrevista coletiva que a situação no Níger “claramente não é normal para os militares dos EUA”, acrescentando ao mesmo tempo que a postura dos EUA no Níger permanece inalterada, pois são esperadas soluções diplomáticas para a situação.
Os EUA centralizaram no Níger suas operações ISR (Inteligência, Vigilância e Reconhecimento) na África Ocidental. Diversos grupos terroristas atuam na região, incluindo o Estado Islâmico e o Jama’a Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin, com sede no Mali e muito ativo na África Ocidental.
“Os Estados Unidos mal conseguem controlar este problema, e quando você suspende as operações e remove os facilitadores que ajudam a impedir que esses jihadistas invadam países ou regiões, então você está lhes dando uma vantagem”, disse Bill Roggio, ex-soldado e Editor do Long War Journal da Fundação para a Defesa das Democracias, que publica relatórios e análises dos esforços globais de contraterrorismo.
Desde 2019 os EUA mantinham destacamentos de drones na capital Niamey, bem como em Agadez, no centro do país. Esta base no interior amplia o alcance das missões ISR, principalmente na volátil área da Bacia do Lago Chade, que compreende o território dos Camarões, Chade, Nigéria e do Níger.
De acordo com o General da Reserva Frank McKenzie, ex-Comandante das operações militares dos EUA no Oriente Médio, a limitação dessas operações tem um efeito significativo na capacidade militar antiterrorista. “Isso reduz a capacidade de localizar alvos. Reduz a capacidade de ir para os estágios finais quando você poderá atacar”, disse o Oficial General à VOA.
A ameaça jihadista usam estes países como uma ponte para tentar atacar o Ocidente e os interesses ocidentais, e como consequência, causam enormes estragos nas populações locais.
Pelo menos 17 soldados nigerianos foram mortos num ataque de grupos armados perto da fronteira com o Mali no mês passado, segundo o Ministério da Defesa do Níger. A ameaça islâmica cresce no vizinho Mali, que é governado por militares insurgentes desde um golpe de Estado em 2020, apesar das alegações das autoridades que os mercenários russos do Grupo Wagner estão ajudando a controlar esses terroristas.
“Se os EUA não forem capazes de realizar missões de contraterrorismo a partir do Níger, o Mali será o próximo estado a cair [nas mãos do jihad] depois do Afeganistão?” questiona Bill Roggio.
No início desta semana, um porta-voz militar do Níger disse haverem decidido reabrir o espaço aéreo do país a todos os voos comerciais, colocando o fim aos bloqueios vigentes desde quando assumiram o controle do governo, em 6 de agosto último. De acordo com um oficial dos EUA, ouvido pela VOA, essa abertura para voos comerciais não afetou as operações com drones, que permanecem paralisadas.
As notícias sobre as operações com drones militares dos EUA surgem no momento em que o Pentágono estava a reposicionando algumas tropas e equipamentos de uma base em Niamey para Agadez. “Não existe nenhuma ameaça percebida às tropas dos EUA, e nenhuma ameaça de violência no terreno. Esta é simplesmente uma medida de precaução”, disse a vice-secretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh, que salientou que este reposicionamento está em pleno andamento.
A base de Agadez, conhecida como Base Aérea 201, é controlada pelas forças nigerianas. Em 2019, os militares dos EUA tinham direitos exclusivos sobre cerca de 20% do complexo, onde mantém aproximadamente 1.100 militares, segundo o Pentágono.
Fonte: VOA
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