Argentina abre suas portas para as mineradoras de lítio chinesas. O lítio, chamado de “ouro branco”, é um recurso mineral abundante na Argentina, e que cada vez mais está no foco das gigantes mineradoras chinesas. Sabendo disso, o ministro da Economia da Argentina, Sérgio Massa, esteve recentemente visitando algumas dessas empresas na China, em busca de dólares para seu país.
De acordo com Massa, a mineradora Tibet Summit Resources investirá cerca de US$ 1,7 bilhão nos salares de Arizano e Diablillos, de onde espera retirar até 100.000 toneladas de lítio. A Ganfeg Lithium, que atualmente tem quatro projetos na Argentina, investirá US$ 2,7 bilhões para produzir cerca de 74.000 toneladas de carbonato de lítio.
Por outro lado, Tsingshan Holding Group investirá US$ 120 milhões em uma fábrica de processamento de cloro alcalino, em Jujuy, no norte do país. Também está desenvolvendo o projeto de lítio Salar Centenario-Ratones, em Salta, com um investimento de US$ 770 milhões, que iniciará a produção em 2024. Neste local, a empresa aposta retirar cerca de 24.000 toneladas de “ouro branco” por ano, de acordo com a plataforma argentina Minería y Desarrollo.
A mina de lítio de Olaroz-Cauchari, também de Jujuy, cujos acionistas são a chinesa Jiangxi Ganfeng Lithium Co e a Canadian Lithium Americas Corp., tem potencial para produzir até 40.000 toneladas de lítio por ano, de acordo com a agência de notícias argentina Ámbito Financiero.
“A Argentina está praticamente oferecendo todos os seus recursos à China, em troca de apoio econômico e político, porque sua economia está quebrada. A Argentina se rendeu a Pequim na área que lhes interessa, para ter maior acesso a recursos estratégicos como o lítio”, disse Jorge Serrano, especialista em segurança e membro da equipe consultiva da Comissão de Inteligência do Congresso do Peru, em uma entrevista à Diálogo no último dia 28 de junho.
De acordo com Serrano, o lítio é a base para muitas das principais indústrias mundiais, sendo a matéria prima para a produção de inúmeros equipamentos, desde baterias, energia nuclear, transporte, dispositivos digitais, computadores, saúde e sistemas de ar condicionado, até secagem industrial, etc.
Atualmente a Argentina detém a posição de quarto maior produtor global de lítio, tendo exportado aproximadamente 40.000 toneladas em 2022, observou a revista canadense Mining. Ela planeja atingir 200.000 toneladas por ano até 2025, informa Ámbito Financiero.
Modus operandi
Embora a China esteja fazendo incursões na maioria dos países do hemisfério sul, o caso da Argentina é um dos mais controversos, de acordo com o relatório Transformação rápida das ameaças à segurança hemisférica na América Latina, da International Coalition Against Illicit Economies (ICAIE) de 22 de junho.
“A Argentina foi mais longe do que outros países latino-americanos; ela até permitiu que uma estação espacial chinesa para uso militar e civil fosse colocada na Patagônia. Estamos enfrentando uma China que quer devorar toda a América Latina e, do outro lado, um país que diz: estou aqui para que vocês me deem”, disse Serrano.
A Argentina, juntamente com a Bolívia e o Chile, formam o triângulo do lítio, com aproximadamente 55 por cento das reservas mundiais. Dos três países, quase todos os depósitos de lítio estão sob o controle de governadores de províncias com vínculos com Pequim, o que sinaliza ameaças à segurança, indica ICAIE em seu relatório.
“Essa autonomia em nível local dá à China a oportunidade de fazer acordos sem responsabilidade, sem transparência, sem remediação do impacto ambiental e sem qualquer maneira de monitorar se as práticas tradicionais de corrupção estão em jogo”, acrescenta o relatório, destacando que os locais de extração de lítio da China na Argentina estão “localizados em uma rota de cocaína cada vez mais importante proveniente de Peru/Bolívia, que reforça as estruturas criminosas regionais”.
“Sim, isso acontece nos governos regionais da Argentina. A corrupção é o modus operandi da China. Eles corrompem os níveis mais altos, como presidentes e ministros, para ganhar licitações, adquirir licenças e não se importam com o meio ambiente, além de falsificar relatórios”, observou Serrano.
Sem água
“Enquanto toneladas de lítio argentino vão para Pequim, as empresas chinesas são sempre as menos preocupadas com os impactos ambientais. Ao longo dos anos, poderemos ver como elas poluem, desmatam e depredam os recursos estratégicos da região”, declarou Serrano
O impacto sobre as pessoas e o habitat é geralmente causado pela escassez de água doce após a extração do lítio. Os povos nativos ficam sem água e a vegetação desaparece. Os animais têm que ser deslocados até 20 quilômetros para pastar, informou a plataforma peruana Ojo Público.
Além da Argentina, a China está investindo nos maiores produtores de lítio do mundo e ampliando sua influência em países com reservas inexploradas, como Bolívia e Chile, informa o diário espanhol El País.
“A exploração desse mineral é um projeto muito ambicioso e agressivo da China para tomar posse das reservas de lítio na América do Sul. Ela também está tentando fazer o mesmo em outros países da região, onde há ouro branco”, afirmou Serrano.
Por outro lado, alguns países, incluindo os Estados Unidos, alertaram o hemisfério com exposições e workshops, alertando justamente sobre a expansão agressiva da China no setor de lítio, disse Serrano. “Os Estados Unidos estão tomando medidas para desenvolver uma estratégia rápida e eficaz para combater esse ataque da China quanto ao lítio, porque a China está envolvida em tudo, deixando devastação. Pequim não dá ponto sem nó”, concluiu Serrano.
Fonte: Diálogo das Américas
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