Ex-executivos da Microsoft estão armando drones agrícolas na Ucrânia. Dois ex-executivos da Microsoft estão liderando uma equipe de engenheiros no projeto de desenvolvimento de drones armados na Ucrânia. Eles gerenciam a empresa ucraniana AeroDrone, que até o início da guerra fabricava drones agrícolas.
Eles estão convertendo drones agrícolas em aeronaves militares não tripuladas, com capacidade de carregar até 300 kg de armamentos por grandes distâncias. O governo ucraniano está trabalhando com mais de 80 fabricantes locais de drones, disse o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, reforçando que o país precisa de milhares desses veículos aéreos não tripulados (UAVs).
“Os drones são potencialmente um divisor de águas no campo de batalha, da mesma forma que o MLRS ocidental preciso se tornou no ano passado”, disse Reznikov, referindo-se às armas do sistema de foguetes de lançamento múltiplo. Os UAVs são apenas um elemento de uma guerra atualmente dominada por artilharia, infantaria e mísseis. Moscou conseguiu atingir alvos em toda a Ucrânia com mísseis de longo alcance, o que falta em Kiev.
“Não podemos esperar paridade no futuro. Precisamos cobrir essa lacuna urgentemente, porque a Rússia também está trabalhando para melhorar seus UAVs”, disse Reznikov.
Com a economia dizimada pela guerra, a Ucrânia depende de financiamento internacional, e drones de baixo custo representam uma maneira ágil e eficiente para combater as vastas forças armadas de Moscou. Kiev diz que investirá quase US$ 550 milhões em drones neste ano, e montou unidades de ataque UAV em diversas Unidades Militares.
O secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov, disse à Reuters que veículos não tripulados que colidem com seu alvo e detonam – os chamados drones kamikaze – serão o foco da Ucrânia em 2023.
O especialista em guerra de drones James Rogers, professor da Universidade do Sul da Dinamarca, disse que a capacidade UAV da Ucrânia ainda está atrás da Rússia que utilizou seus drones kamikaze iranianos Shahed-136 para atingir instalações de energia ucranianas.
A Ucrânia recebeu suprimentos significativos de UAVs dos seus parceiros, desde o Bayraktar TB2 equipado com mísseis da Turquia até o pequeno drone de reconhecimento Black Hornet, fabricado na Noruega, que pesa menos de 33 gramas.
O especialista em defesa ucraniano Taras Chmut, disse que a produção doméstica de drones aéreos cresceu três ou quatro vezes desde o início da invasão do ano passado. Sua avaliação foi de que a capacidade de produção local desses veículos aéreos seria de “vários milhares” por ano, se o financiamento e o fornecimento de peças fossem constantes.
Diretor da organização não governamental Come Back Alive, Chmut que diz ter levantado dezenas de milhões de dólares em financiamento coletivo para fornecer equipamentos aos militares, incluindo UAVs. Ele acrescentou que a frota geral de drones da Ucrânia aumentou “dezenas de vezes” desde fevereiro de 2022 com ajuda local e do exterior.
Sem informar números, o ministro Reznikov disse que a capacidade de produção local de drones aéreos, terrestres e marítimos aumentou muito desde a invasão da Rússia. Um dos focos é o desenvolvimento de UAVs que podem percorrer distâncias maiores, disse Reznikov.
A AeroDrone diz que o seu modelo Enterprise, baseado na estrutura de uma aeronave leve, pode voar mais de três mil quilômetros, de acordo com a configuração. A empresa é dirigida por Dmytro Shymkiv e Yuriy Pederiy, que se conheceram enquanto trabalhavam nos escritórios da Microsoft em Kiev, onde Shymkiv se tornou gerente nacional e Pederiy era responsável por um importante departamento.
“Ele pode carregar 200 kg por 1200 km”, disse Shymkiv sobre o Enterprise. Apontando para a cabine de comando, onde ficava o piloto, ele disse: “Agora, será a carga útil”.
Eles disseram que seus contratos militares limitam estritamente o que a empresa pode divulgar, mas disseram que o Enterprise E-300 e o Discovery D-80 podem ser usados para uma ampla variedade de propósitos táticos graças a cargas úteis de 300 quilos e 80 quilos, respectivamente. Essas aeronaves podem custar entre US$ 150.000 e US$ 450.000, dependendo do modelo e da configuração, que pode incluir recursos como um sistema de autoproteção para neutralizar a interferência de sinais russos.
O Ministério da Defesa disse que a AeroDrone tem contratos para o fornecimento de dois tipos de drones de longo alcance, mas se recusou a divulgar mais detalhes.
Em dezembro de 2022, uma empresa estatal de armas ucraniana anunciou que realizou testes bem-sucedidos com um drone de assalto levando uma ogiva de 75 kg por uma distância de 1.000 km.
O alcance e a potência dos drones da Ucrânia é uma questão delicada. A Rússia disse que alguns drones ucranianos conseguiram ficar atrás das linhas de frente, embora as autoridades ucranianas normalmente neguem a responsabilidade pela suspeita de atividade de drones em território inimigo. No final do ano passado, a Rússia disse que drones ucranianos atacaram duas bases aéreas de bombardeiros de longo alcance em seu território, matando três militares da força aérea russa (detalhes aqui).
Nas últimas semanas, autoridades russas relataram pelo menos seis incidentes envolvendo drones sendo derrubados ou conduzindo ataques ao território do país, alguns dos quais eles culparam publicamente a Ucrânia.
O Ministério da Defesa em Kiev disse: “A Ucrânia não tem nenhuma conexão com os eventos que acontecem no território russo”. Quando perguntado se a Ucrânia usa drones para atingir alvos na Rússia, o ministro da Defesa disse: “Tudo o que acontece no território da Rússia é uma questão apenas deles. A Ucrânia não é um estado terrorista ou ofensivo”.
Falando sobre ataques em geral, o chefe do conselho de segurança nacional, Danilov, disse que, em teoria, alguns ataques em território russo podem ser justificáveis em certas circunstâncias. “Se houver uma instalação que esteja causando danos ao nosso país, devemos destruí-la. Isso é guerra. E não é nossa culpa que (o alvo) esteja localizado no território da Rússia”, disse Danilov.
Um dos problemas para a produção constante de UAVs na Ucrânia é a dependência de peças vindas do exterior, como motores e sistemas de comunicação. O processo de obtenção de certificação para uso militar também tem sido um problema. Reznikov disse que o ministério simplificou o processo, reduzindo-o para algumas semanas, enquanto anteriormente levava até dois anos.
A AeroDrone disse que uma decisão governamental afrouxou os regulamentos sobre importações de itens e facilitou a vida dos fabricantes. No entanto, ele acrescentou que ainda há espaço para melhorias na remoção de obstáculos burocráticos em geral.
O Ministério da Defesa disse que está trabalhando com fabricantes de drones domésticos para aumentar a capacidade de produção e padronizar a produção, a fim de simplificar a manutenção e o treinamento. Danilov, chefe do conselho de segurança nacional, reconheceu a dependência da Ucrânia de outros países para obter mais componentes de drones de alta tecnologia. “Estamos tentando suprir nossas necessidades neste setor com produção nacional, mas percebemos que dificilmente conseguiremos suprir tudo”, disse.
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