Chefe do US SOUTHCOM sugere que América Latina doe equipamentos militares para Ucrânia. A General Laura Richardson, Chefe do Comando Militar Sul dos EUA (SOUTHCOM), recentemente sugeriu que os países latino-americanos que dispõem de equipamentos militares de origem russa, “doem” esse material para as Forças Armadas da Ucrânia. A informação surgiu durante uma entrevista concedida ao Atlantic Council no mês passado.
Cerca de nove países latino-americanos possuem equipamentos militares de origem russa, e a Chefe do SOUTHCOM disse estar trabalhando para caso elas queiram substituí-los por similares norte-americanos, e que doem o excedente “à causa da Ucrânia”. A General citou apenas três países nominalmente: Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Na estratégia de Segurança Interna para 2022, o governo de Joe Biden priorizou a China e a Rússia como os principais desafios para os Estados Unidos, sendo que ambos tem fortes aliados no Ocidente, em especial os chineses. “Ver a invasão e os tentáculos da República Popular da China nos países do Hemisfério Ocidental tão próximos dos Estados Unidos me preocupa muito”, afirmou a Oficial, a segunda mulher a chegar ao posto de General nas Forças Armadas dos EUA.
Estamos cientes que alguns países latino-americanos se sentem abandonados pelos EUA, mas “esta região importa e importa muito para a nossa segurança nacional”, disse a General, salientando que a China é um “ator estatal maléfico, com quem estamos em uma competição estratégica no Hemisfério Ocidental”.
Os chineses conseguiram atrair a assinatura de 21 dos 31 países da América Latina em um projeto conhecido como a “Nova Rota da Seda”. Segundo a General Richardson, trata-se de um pesado investimento realizado por Pequim nas áreas de infraestrutura desses países, em áreas como portos de águas profundas, setor aeroespacial, redes móveis 5G da gigante de telecomunicações chinesa Huawei, entre outras.
Fortemente afetada pela pandemia global, a região tem severas dificuldades econômicas, e estima-se que pelo menos 170 milhões de pessoas vivem na pobreza, disse a Oficial-General. A China aproveita esse cenário para, provavelmente, oferecer os seus serviços e equipamentos com financiamentos e valores muito abaixo dos norte-americanos, que sabidamente tem melhor qualidade, afirmou Richardson. “Precisamos fazer uma pausa e pensar com muita atenção porque isso está acontecendo tão perto de nós, em nossa vizinhança”, disse.
Além dos adversários internacionais, os Estados Unidos têm um terceiro desafio regional: as organizações criminosas transnacionais. Elas promovem insegurança e instabilidade na área, sendo que a China e a Rússia se aproveitam justamente desse ponto para “se instalar e prosperar”, disse a Militar.
Essas redes são alimentadas pelo tráfico de pessoas, drogas, extração ilegal de madeira e de minérios. A região é rica em recursos petrolíferos, cobre, ouro, além de metais raros para a indústria de tecnologia. Uma grande área entre a Argentina, a Bolívia e o Chile é conhecida como “Triângulo de Lítio”, importante metal para tecnologias modernas. Isso sem falar na atrativa Amazônia, que guarda cerca de 30% da água doce da Terra.
Uma área sem igual, com um comércio gigante, da qual a China encontrou uma grande oportunidade de negócios, sendo atualmente o principal parceiro comercial de diversos países latino-americanos, deixando os Estados Unidos em segundo plano. Estima-se que o comércio entre a China e a América Latina (incluindo o Caribe) cresceu de US$ 18 bilhões em 2002 para aproximadamente US$ 450 bilhões hoje, e está a caminho de chegar nos US$ 750 bilhões no futuro próximo, prevê Richardson, ratificando que “há muita coisa em jogo.”
@FFO